Sócios da Vale descartam vender ações a curto prazo

Sócios da Vale descartam vender ações a curto prazo

 

Os quatro sócios controladores de Vale – Litel, representando os fundos de pensão estatais; BNDESPar, Bradespar e Mitsui – descartam vender as ações que detêm na mineradora a curto prazo. Juntos, esses acionistas ficaram com 44,3% das ações ordinárias após a operação de conversão de papéis preferenciais em ordinários da empresa, encerrada na sexta-feira. Na segunda-feira, os quatro grupos assinaram novo acordo de acionistas válido por três anos, até 2020, que vincula apenas 20% das ações ordinárias detidas por eles. Os outros 24,3% dos papéis estarão disponíveis para negociação em seis meses, a contar da assinatura do novo acordo. Significa que, a partir de fevereiro do ano que vem, essas ações estarão livres para a venda.

 

A BNDESPar, braço de participações do BNDES, tem um lote de ações que já estava fora do antigo bloco de controle da empresa e, assim, permaneceu no novo acordo. Essas ações estão livres para venda hoje, e correspondem a 5,46% do capital ordinário e 5,14% do capital total de mineradora. Mas isso não significa que o banco sairá vendendo ações de Vale de maneira que possa prejudicar seus ativos, embora a BNDESPar sempre avalie a perspectiva de saída das empresas nas quais cumpriu seu papel. "De qualquer forma, qualquer movimento sempre levará em conta o impacto no mercado, não faremos nada que possa prejudicar o valor da empresa", afirmou Eliane Lustosa, diretora da BNDESPar. 

Gueitiro Genso, presidente do conselho de administração da Vale, disse que a operação de reestruturação societária da mineradora não foi montada para permitir "saídas" de sócios, mas para "gerar valor" para os acionistas. "No caso de Previ, não temos necessidade de vender Vale para cumprir compromissos de curto prazo", disse Gueitiro. O trabalho está concentrado em buscar uma valorização dos ativos da empresa, afirmou. Ele disse que o novo acordo de acionistas da Vale reúne todas as exigências, em termos de governança corporativa, para a empresa migrar para o Novo Mercado da B3, com exceção da existência de uma única classe de ações. A unificação total de PNs e ONs é um trabalho que está sendo feito pela Vale. 

Gueitiro disse que, por 20 anos (1997-2017), a Vale viveu uma fase de controle definido "harmônico". Os sócios controladores estavam reunidos na Valepar, a holding que controlava a Vale. Na segunda-feira, houve a incorporação da Valepar pela mineradora com os acionistas da holding, agora extinta, passando a ter participação direta na Vale. Assim, a mineradora deixou de ter controle definido, mas continua tendo controle de fato. Esse controle é exercido com 20% das ONs. "Nosso passado demonstra que não faremos uma saída desorganizada. Qualquer eventual saída [dos sócios] será organizada, discutida e olhando para esse principal foco da operação [de reestruturação societária], que é a valorização dos ativos [da mineradora]", disse Gueitiro ao Valor.

 

O executivo também preside a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do BANCO DO BRASIL. A Previ integra a Litel junto com Petros, Funcef e Fundação Cesp. A Litel tem 10% de ações ordinárias vinculadas ao novo acordo de acionistas e 12,6% de ONs fora do acordo, livres para negociação depois de encerrado o bloqueio ("lock-up") de seis meses. 

Gueitiro disse que o novo acordo foi motivado por dois pontos: como gerar mais valor para os acionistas em uma nova fase da Vale e que tipo de arranjo poderia ser montado para que a mineradora pudesse aumentar a competitividade em relação aos concorrentes internacionais. "Vale é um dos papéis que estão na nossa carteira agora com outro nível de governança, com outro nível de [perspectiva] de valorização. Não tenho necessidade de vender ativo no qual já passei fase difícil e agora vou ter ganho com governança e o ativo poderá gerar bons dividendos", afirmou ele. 

Fernando Buso, presidente da Bradespar, braço de participações do Bradesco, também descartou a venda de ações da mineradora no curto prazo. "Não temos nenhuma decisão ao nível de conselho [da Bradespar] de fazer qualquer alteração ou movimentação no nosso patrimônio e no nosso investimento [em Vale]", disse Buso. A Bradespar ficou com 4,2% de ações ordinárias vinculadas ao novo acordo de acionistas da Vale e com 2,6% de ações livres, para venda a partir de fevereiro de 2018. "Continuamos achando que Vale é uma das melhores opções de investimento e acreditamos que os períodos à frente são auspiciosos." A Bradespar avalia ainda ter papel a exercer no período de transição da Vale para o Novo Mercado da B3.

 Oscar Camargo Filho, representante da Mitsui, disse: "Não há nenhuma intenção, plano ou projeto da Mitsui de se desfazer dessas ações [de Vale]. Muito pelo contrário. Toda a operação trouxe mais segurança à Mitsui de permanecer a longo prazo como investidor na Vale." Segundo ele, a Mitsui está "tranquila e satisfeita" com a continuidade da relação [com os demais acionistas] da empresa. A Mitsui ficou com 3,6% de ações dentro do novo acordo e mais 2,3% livres para venda a partir de fevereiro. Perguntado se Mitsui poderá aumentar participação na Vale, Camargo afirmou: "Vai ser examinado se e quando a oportunidade aparecer."

 Eliane Lustosa, a diretora da BNDESPar, enfatizou a estratégia do banco no caso de Vale. "Enquanto houver perspectiva de extrair valor pela precificação ainda não incorporada de todos esses benefícios [da reestruturação societária], a BNDESPar se mantém [na Vale]. Ela afirmou que o banco é um investidor institucional de longo prazo, mas sempre que houver perspectiva de saída a preço adequado o banco vai buscar essa saída nos ativos de renda variável. "De forma alguma uma saída atabalhoada."

 A BNDESPar ficou com 2,3% de ações ordinárias vinculadas ao novo acordo de Vale e com 6,9% de ações livres a partir de fevereiro do ano que vem. Esse número inclui 338 milhões de ações, segundo a Vale. A BNDESPar informou que desse total, 268.209.163 milhões de ações (5,46% do capital ordinário e 5,14% do capital total de Vale) estão "completamente" livres para venda hoje pois já não faziam parte do acordo de Valepar.


21/08/2017
- VALOR ECONÔMICO -SP
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