Cielo aposta em parcerias inéditas para continuar na liderança de um mercado que deve superar a marca de R$ 1 trilhão em movimentação financeira
Luciele VELLUTO
Se os negócios da processadora de meios de pagamento Cielo pudessem ser comparados a um jogo de futebol, seria possível dizer que, no ano passado, a empresa conquistou a vitória aos 45 minutos do segundo tempo. “”Batemos a nossa meta apenas no último dia", afirma o CEO Rômulo Dias. "Foi um período de muita emoção." Além de emocionante, o ano foi intenso. A empresa processou 4,9 bilhões de transações em 2013, um crescimento de 13,9% em relação a 2012. O volume financeiro de transações foi de R$ 448.8 bilhões, representando um acréscimo de 17,1% quando comparado aos RS 383,3 bilhões em 2012. "Movimentamos 9% do PIB brasileiro", afirma Dias.
O bom desempenho da Ciclo, vencedora do ranking setorial de AS MELHORES DA DINHEIRO, foi puxado pelo ritmo do setor de meios eletrônicos de pagamento. No ano passado, esse segmento cresceu 17,9%, atingindo R$ 837 bilhões de movimentação financeira, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). E um crescimento e tanto, num ano em que a economia avançou 2,5%. O que preocupa as empresas da área, no entanto, é que o ritmo de expansão está mais lento.
Em 2008, os meios de pagamento de plástico registravam taxas de crescimento de 25,6%. Neste ano, a estimativa e que repitam o desempenho de 2013, chegando a um total de R$ 1 trilhão transacionado por meio de cartões de credito ou debito, segundo a Abecs. Apesar da desaceleração da economia brasileira cm 2014, há ainda muito espaço para crescer. Segundo os dados do ano passado, 28% dos gastos das famílias foram feitos por meio de cartão de crédito ou de débito, número ainda considerado baixo pelo setor.
Entre os diversos projetos que a Ciclo colocou em prática, um se destaca pelo ineditismo. A companhia fechou uma parceria com o Facebook, na qual os consumidores cadastrados no programa da companhia e na rede social poderão dar check-in nas máquinas da Cielo e ganhar prêmios das lojas participantes. "Ainda estamos no modelo beta", afirma Dias. "Mas c uma quebra dc paradigma." A ideia c trazer mais consumidores para as lojas c, ao mesmo tempo, divulgar o estabelecimento comercial e a Cielo nas redes sociais, já que a cada confirmação do consumidor haverá uma publicação em sua página pessoal do Facebook. Neste ano, a Ciclo fechou parceria com o Smiles, programa de fidelidade controlado pela companhia aérea Gol, e assinaram um acordo para oferecer o programa para 1,5 milhão de lojistas ativos da Cielo. A ideia é trazer mais consumidores para os estabelecimentos e mais uso das maquininhas, com a vantagem de acúmulo de milhas. "Estamos buscando inovação que traga resultados para todos", afirma Dias. Outra parceria anunciada recentemente pela Cielo e com a Linx, empresa de tecnologia comercial. Juntas, as duas farão uma joint venture para oferecer ao pequeno varejista soluções de tecnologia de vendas, o que inclui software, hardware e. claro, a maquininha de cartão de crédito.
No segundo trimestre deste ano, a Cielo, cujos donos são o Bradesco e o BANCO DO BRASIL, atingiu 56,2% de participação do mercado de cartão, ante 55,9% dos três meses anteriores. Enquanto isso, sua concorrente, a Rede (antiga Redecard), controlada pelo Itaú Unibanco, viu sua fatia de mercado diminuir de 38,2% para 37,8%. A GetNet, do Santander, subiu de 5,8% para 6%. O crescimento das transações de débito explica por que a Cielo ganhou participação. A companhia tem a exclusividade para capturar dois produtos: a bandeira Elo, emitida por Bradesco, BANCO DO BRASIL e Caixa, e o Agrocard, um cartão do BB voltado para o agronegócio. Ambos têm sua maior parcela de usuários optando pelo débito.
Segundo Felipe Silveira, analista da Coinvalores, a Cielo se beneficiou das mudanças societárias das concorrentes para atingir essa fatia de mercado nos últimos anos. "Elas estavam menos agressivas, o que ajudou a Cielo",diz Silveira. Agora, com a consolidação da Rede pelo Itaú Unibanco e a aquisição da GetNet pelo Santander, a tendência é de acirramento da disputa pelos lojistas e pelos consumidores. "Por isso, a diversificação do negócio tem sido tão importante para a companhia, que tem feito grandes investimentos", afirma Henrique Florentino, analista da Um Investimentos.