Juros do cartão de crédito atingem 449%

Juros do cartão de crédito atingem 449%

 Nunca o brasileiro pagou tão caro para tomar empréstimo. A taxa média de juros para as famílias foi de 69,2% ao ano (a.a) em março, segundo divulgou ontem o Banco Central (BC). Em 12 meses, a alta é de 14,8%. A maioria das linhas para o consumidor registraram alta no mês passado.

 

No cheque especial, os encargos cravaram os 300,8% a.a – algo nunca antes observado desde o início da série histórica, em julho de 1994. Um crescimento de 80,4% em um ano. A média das tarifas do rotativo do cartão de crédito ficou em 449,1% a.a, a maior da série, iniciada em março de 2011. Nessa modalidade, o avanço foi ainda maior, de 103,3%.

 

Nem os juros médios da carteira total do consignado – linha que tem as menores taxas do mercado financeiro – escapou, ficando a 29,9% a.a, o maior resultado desde outubro de 2011. Em parte, o avanço é atribuído aos aumentos da taxa básica de juros (Selic), que saltou de 11,75% em dezembro de 2014 para 14,25% a.a em julho passado, patamar que se mantém até o momento.

 

Para especialistas, os aumentos estão diretamente ligados ao cenário econômico. Sem soluções para a crise, o nível de atividade está caminhando para uma das recessões mais profundas da história do Brasil, dizem. A mediana das expectativas do mercado financeiro para o Produto Interno Bruto (PIB) aponta para uma queda de 3,88%, o que já superaria o resultado de 2015.

 

Risco

 

Mas a contração pode ser ainda maior. Alguns analistas não descartam um encolhimento do PIB superior aos 4,3% registrados em 1990, no governo Collor. Em um contexto de uma atividade desaquecida, a tendência é de que o desemprego continue aumentando. Com menos postos de trabalho, haverá menos renda para consumo e, inclusive, para o pagamento de contas e empréstimos.

 

Diante de um cenário de maior risco para o recebimento de crédito concedido aos consumidores, os bancos sistematicamente aumentam as taxas, movimento que deve se manter nos próximos meses, na avaliação do chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel. "A tendência dos juros para pessoa física ainda é de alta. Há um cenário de risco ao tomador", disse.

 

Na opinião de João Morais, economista da Tendências Consultoria, nem mesmo uma transição de governo ou a expectativa de cortes na Selic, como prevê o mercado, devem fazer os bancos reduzirem as taxas de juros. Morais destaca que o spread bancário, que é a diferença entre o que os bancos pagam pelos recursos e o quanto cobram dos clientes, não dá trégua.

 

Aversão

 

Em março, o indicador cravou em 55 pontos percentuais, um aumento de 2,4 pontos percentuais em relação a fevereiro. "O efeito da aversão ao risco vai se manter preponderante na decisão das instituições financeiras", analisou Morais.

 

Em geral, quanto maior é a percepção de insegurança das instituições financeiras em relação ao calote, mais elevados são os índices de spread bancário. Em março, a inadimplência observada pelo BC – pagamentos com atrasos de mais de 90 dias – foi de 6,2%. Na comparação com o mês anterior, o resultado representou estabilidade.

 

No entanto, a chamada pré- inadimplência, que mede os débitos com atrasos de 15 a 90 dias, subiu 0,3% no mês, ficando a 5,7%. "Há espaço para o calote subir. Os fundamentos seguem deteriorados", avaliou Morais, que projeta que a inadimplência atinja 6,7% ao fim do ano.

 

O consultor Roberto Luís Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), não descarta uma crise no setor financeiro em caso do governo não atuar rápido e com medidas efetivas. "Estamos à beira do precipício. Se não mudarmos o modelo da política econômica, vamos ter um cenário de menos concessões de crédito, mais inadimplência e até falências de bancos", ponderou.

 

Crise

 

Para o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, é prematuro falar que o setor financeiro chegou ao fundo do poço. "Acho que essa avaliação acaba requerendo ambiente mais amplo. O teto de crédito cresceu de forma muito significativa em 10 anos. Saímos de um crédito de 20% a 22% para mais de 55% do PIB recentemente. É claro que a desaceleração da atividade e uma confiança em patamar mais reduzido são elementos que reduzem mercado de crédito. Mas, à medida que se retome a confiança dos agentes e consumidores, também vamos observar crescimento do crédito em ritmo moderado", disse.

02/05/2016
- CORREIO BRAZILIENSE - DF
WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn