Se o ano continuar como está, 2013 será o pior para os fundos de pensão desde 2008. O desempenho ruim tanto das aplicações em renda variável quanto da renda fixa na primeira metade do ano fez com que a maior parte das fundações do país fechasse o período com rentabilidade negativa, segundo Maurício da Rocha Wanderley, membro da comissão de investimentos da Abrapp, associação que reúne o setor, e diretor de investimentos da Valia, fundo de pensão dos funcionários da Vale.
Fundações consultadas fecharam o semestre com rentabilidade negativa de até 2%. Mas, diferentemente dos fundos de investimentos, que têm que vender ativos para honrar saques em tempos de turbulência, as fundações têm passivos de longo prazo que podem garantir uma recuperação à frente. "A alocação no longo prazo vai gerar retorno capaz de cumprir com as obrigações", diz Wanderley.
Nos últimos 10 anos, apenas em dois os fundos de pensão não atingiram a meta atuarial, que é a rentabilidade mínima que deve ser obtida na aplicação dos investimentos para garantir o pagamento dos benefícios ao longo do tempo (ver tabela). Até pouco tempo atrás, o teto dessa meta era de 6% mais um índice de preços. No fim de 2012, o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) reduziu o percentual, que deve chegar gradativamente a 4,5% até 2018.
O primeiro semestre, em termos de rentabilidade, "foi muito difícil, particularmente os meses de maio e junho para a renda fixa", confirma Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp, que tem R$ 22,9 bilhões sob gestão. No ano até maio, a fundação tinha rentabilidade negativa de 0,25%. A "perda", porém, tem caráter contábil, uma vez que os ativos que sofreram desvalorização não foram vendidos e serão mantidos em carteira. "Na foto vai aparecer como perda, mas é algo momentâneo", lembra Fernando Lovisotto, sócio da gestora de recursos Vinci Partners que atende fundos de pensão.
Com cerca de 60% do patrimônio de cerca de R$ 640 bilhões alocados em renda fixa, os fundos de pensão sofreram com a onda de desvalorização dos títulos públicos, principalmente os de maior prazo, no fim do primeiro semestre. A bolsa também não deixou por menos. O Ibovespa amargou perda de 22,14% de janeiro a junho, o pior resultado desde o segundo semestre de 2008.
A possibilidade de aperto monetário nos Estados Unidos nos próximos meses provocou a alta dos juros (e consequente queda do preço) dos títulos do Tesouro americano. Isso disparou uma onda de venda de ativos de renda fixa pelos investidores globais, inclusive no Brasil. Somaram-se ao cenário para os títulos de renda fixa as dúvidas sobre a capacidade de o governo brasileiro gerar crescimento econômico e conter a inflação.
O retorno do IMA-B5+, índice da Anbima que reflete a carteira de NTN-Bs (títulos públicos indexados ao IPCA) com vencimento acima de cinco anos, foi negativo em 11,68% no primeiro semestre. Somente em junho, a queda foi de 3,95%, após maio já ter registrado recuo de 6,27%. Segundo dados do Tesouro Nacional, os fundos de previdência abertos e fechados têm R$ 322,4 bilhões em títulos públicos, sendo cerca de 72% indexados a índices de preços, 20% prefixados e 7% indexados à Selic. A maior parte tem vencimento superior a cinco anos (54%).
A desvalorização dos títulos (e consequente alta das taxas), porém, abriu uma oportunidade para compras. "A única alternativa que os fundos tinham era comprar, e foi o que eles fizeram. A taxa da NTN-B longa chegou a bater 6%, uma boa janela de compra", diz Marcelo Rabbat, também sócio da gestora Vinci Partners. "São momentos imperdíveis, que acontecem poucas vezes. Nós compramos e diversos outros fundos também compraram", acrescenta Wanderley, diretor da Valia, que tem R$ 16,4 bilhões em patrimônio. O fundo apresentou retorno negativo de 1,1% no semestre.
No fim de junho, a Real Grandeza comprou R$ 150 milhões em títulos públicos atrelados a índices de preços quando as taxas subiram. "A meta dos nossos planos é de 5,75% [mais um índice de preços]. Quando a taxa chegou a 5,85% entramos comprando", conta Eduardo Garcia, diretor de investimentos do fundo de pensão dos funcionários de Furnas e Eletronuclear. A fundação tem R$ 11,6 bilhões sob gestão e apresentou rentabilidade negativa de 1,8% no primeiro semestre.
As fundações avaliam que esse comportamento da renda fixa foi sido momentâneo e que não deve se repetir no segundo semestre. Por conta disso, dizem que não há necessidade de mudança na estratégia. "Esperamos uma melhora no segundo semestre para fechar pelo menos no zero a zero", diz Garcia, da Real Grandeza.
Fundações fogem do Ibovespa como referencial
Com uma perda superior a 20% no primeiro semestre, o Ibovespa provocou perdas nas carteiras de muitos fundos de pensão. Justamente por isso, as fundações estão procurando outros referenciais na bolsa. "Quem teve performance melhor foi quem fugiu do Ibovespa e foi para outros mandatos, como “small caps” [pequenas empresas] e dividendos", afirma Marcelo Rabbat, sócio da gestora Vinci Partners.
Segundo Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM, uma das maiores gestoras de recursos de fundos de pensão do país, as fundações "têm feito esse movimento na renda variável e também buscam fazer alocação em ativos que não são tão correlacionados, com uma relação mais baixa entre um e outro".
Esse movimento de "diversificação" de índices de renda variável começou em 2008, mas acelerou em 2011 e 2012, observa Fernando Lovisotto, também sócio da gestora Vinci Partners. Segundo ele, os fundos de pensão não colocaram dinheiro novo na bolsa, mas fizeram uma migração grande dentro da própria classe de ativos.
A Fundação Cesp tem em sua estratégia investir em ações boas pagadoras de dividendos. No ano passado, por exemplo, enquanto o Ibovespa subiu 7,4%, a carteira de dividendos da fundação ganhou mais de 20%, segundo Jorge Simino, diretor de investimentos do fundo dos funcionários da Cesp. "A bolsa caiu 22% no primeiro semestre e a nossa carteira de dividendos caiu 4,5%. Ela é defensiva, mas só defende até um ponto", diz.
Eduardo Garcia, diretor de investimentos da Real Grandeza, lembra que o superávit é importante para acomodar momentos de turbulência. A fundação tem uma "sobra de caixa" de R$ 1,6 bilhões, mais de 10% do patrimônio. "Normalmente o ano após um período turbulento é positivo", observa Garcia. (Thais Folego – Valor Online)
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