ESPECIAL PERSPECTIVA 2009

ESPECIAL PERSPECTIVA 2009

Um mundo pronto para os idosos
O envelhecimento da população está fazendo nascer um planeta com lazer, casas mais seguras e muita solidariedade com a velhice
Greice Rodrigues

Se existe alguma certeza quanto ao futuro, é a de que ele será mais velho. Aos poucos, o mundo ao nosso redor terá cada vez mais idosos, resultado de um movimento demográfico no qual a taxa de fecundidade continuará caindo e a expectativa de vida, subindo. Em 2050, o planeta contabilizará dois bilhões de indivíduos com mais de 65 anos. Só no Brasil eles serão mais de 55 milhões. Por seu impacto, este é um daqueles fenômenos que muda a história do ser humano para sempre. Nossas moradias serão diferentes, planejadas para abrigar com segurança e conforto essa população. A medicina se empenhará para criar terapias que lhe proporcione boa saúde. As indústrias do turismo, do lazer e do conhecimento também criarão produtos para que a vida aos 70, 80, 100 anos permaneça divertida.

A transformação rumo a esse mundo mais velho já começou. Muitos prédios e casas começam a ser construídos levando em consideração o fato de que dentro deles haverá alguém com mais de 65 anos. Banheiros com barras de apoio, rampas no lugar de escadas e portas com maçanetas fáceis de serem manuseadas são alguns dos detalhes presentes nas edificações mais modernas. Elas são a primeira mostra da chamada "arquitetura da velhice", uma área emergente dedicada a pensar moradias para idosos. "Os arquitetos devem considerar desde já se estão criando espaço para facilitar a vida das pessoas ou para segregálas", afirma Lilian Osmo, professora de arquitetura e designer da Fundação Armando Álvares Penteado, de São Paulo.

Um exemplo desse modelo de arquitetura pode ser visto no Hiléa, um centro de convivência para pessoas mais velhas localizado em São Paulo. O lugar foi projetado pelo escritório de arquitetura Aflalo & Gasperini e sua construção foi coordenada pela arquiteta Luana Rabesco."Tudo foi pensado para deixar o ambiente o mais funcional possível", diz Luana. Na instituição, o piso é antiderrapante e sem desnível e até os móveis receberam atenção especial.

"Trocamos os sofás por cadeiras com braços", explica a arquiteta. "Eles são um importante apoio na hora de sentar e levantar." Houve o cuidado também na decoração dos ambientes. Muitos, como o salão de beleza e o cinema, têm design antigo para que sirvam como lembrança e ao mesmo tempo referência. Detalhes como esses fazem diferença na vida de indivíduos como a aposentada Elvira Salles, 66 anos. Ela vai ao Hilea para realizar atividades como pintura e dança. Lá, sente-se acolhida e segura. "Posso fazer tudo sozinha", conta. "E não há nada melhor do que a autonomia."

Este, de fato, é o ponto mais importante da nova realidade que está sendo construída para os mais velhos. Sua principal marca deverá ser a garantia de liberdade de ação, de movimentos e de escolha a essa população. Afinal, quando se fala aqui de idosos é preciso tirar da mente aquela imagem antiquada do velhinho de pijama, sentado no sofá em frente à televisão. Nos próximos anos, a velhice perderá de vez este estigma. "É por isso que os serviços voltados para o lazer e programas culturais crescerão", afirma o pesquisador Marcelo Néri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro.

28/12/2008
- ISTOÉ DIGITAL
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