Especialistas em finanças pessoais recomendam a troca de débitos no cartão e no cheque especial por empréstimos pessoais
Roberta Scrivano
Depois de um ano usando R$ 1 mil do limite da conta corrente, com juros mensais de 7,4%, o valor se transforma em uma dívida de R$ 2.373. Fazer um empréstimo consignado de R$ 1 mil, em 12 prestações e com juros de 2% ao mês, faz o débito chegar em R$ 1.134.
A diferença é brutal. Mas só é percebida se for colocada no papel. “O primeiro passo para quem está endividado é elencar todos os débitos para saber exatamente o que deve e onde estão as dívidas”, recomenda Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf, especializado em finanças pessoais.
Só depois de haver essa listagem é possível analisar alternativas e tomar boas decisões. “Trocar a dívida do cartão de crédito ou do cheque especial por um empréstimo consignado ou mesmo um pessoal deve ser o primeiro passo para quem não quer ficar endividado”, diz Roberto Vertamatti, diretor do comitê de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Expor a situação ao gerente do banco – sem vergonha de admitir que a situação financeira não anda boa – é essencial para obter uma boa negociação da taxa de juros do crédito pessoal. Essa recomendação é para quem não tem crédito consignado (esse deve ser verificado no departamento de recursos humanos da empresa em que a pessoa trabalha e geralmente tem taxa de juros de 2% ao mês, a menor do mercado).
Palavra-chave
Negociar é a palavra-chave para quem está endividado, insistem os especialistas. “Quase sempre é possível obter um desconto no pagamento à vista da dívida”, lembra Vertamatti.
Para o executivo da Anefac, as pessoas devem comprometer até 30% da sua renda líquida (ou seja, aquilo que de fato recebem na conta corrente) com prestações. Os outros 70% devem ser usados para quitar os custos fixos mensais (como aluguel, luz, internet) e para poupança. “Poupar 10% de tudo o que ganha é um porcentual razoavelmente bom”, afirma.
Mário Amigo, professor de finanças da Fipecafi, garante que a pior situação é deixar a dívida rolar. “Aí sim pode ficar insustentável. Caso contrário, todo problema tem solução”, comenta.
As decisões sobre a dívida devem sempre ser tomadas em cima da taxa de juros incidente em cada débito. “Deve-se buscar financiamentos com menor custo e maior prazo”, afirma Amigo. Com prazo longo, segundo ele, é mais fácil equilibrar as finanças.
Outra recomendação dada pelos especialistas é o corte de gastos. Para identificar os mais supérfluos, a recomendação também é colocar os custos no papel. Diminuir o número de vezes em que a diarista trabalha, ou até cortar o serviço e colocar a família para fazê-lo no fim de semana é uma das opções.
Gerar renda extra é outra alternativa que pode ser usada simultaneamente à renegociação das dívidas. “Essa opção é válida, mas o trabalho eventual não pode comprometer o trabalho principal”, salienta Vertamatti.
Dar aulas de inglês ou de outros idiomas, aulas particulares sobre algum tema sobre o qual se tem conhecimento e fazer serviços em geral ou até mesmo artesanato são algumas das sugestões dos especialistas para a geração de renda extra.
Depois dessas iniciativas, ficará mais fácil prever situações de endividamento e, consequentemente, evitá-las, afirmam os professores.