BB briga pelo comando da Previ

Com patrimônio de R$ 140 bi, a Previ, fundo de pensão do BB, está na mira da cúpula do banco, que quer indicar o novo presidente entre um nome do PT e outro do PMDB. Sérgio Rosa trocará o cargo pela campanha de Dilma.

Uma briga bilionária: sucessão à presidência da Previ opõe grupo de Sérgio Rosa a Banco do Brasil

Geralda Doca e Patrícia Duarte
BRASÍLIA

A briga política pelo poder do maior fundo de pensão do país, a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil (BB), colocou em rota de colisão a atual gerência do fundo e a instituição financeira federal. De um lado, o presidente da Previ, o petista Sérgio Rosa, quer fazer como sucessor seu fiel escudeiro, o atual diretor de Participações, Joilson Rodrigues Ferreira. De outro, o BB trabalha para pôr no comando da entidade, cujo patrimônio é de cerca de R$ 140 bilhões, um de seus principais executivos.

Estão na lista para possíveis indicados o atual vice-presidente de Negócios de Varejo do BB, Paulo Rogério Caffarelli, e o vice-presidente de Crédito, Ricardo Flores.

Com menos força, também aparece o nome do atual vice-presidente de Negócios Internacionais e Atacado, Allan Toledo.

O novo presidente da Previ assumirá no início de junho e a sucessão já entrou em pauta pelo papel estratégico do fundo. Além de ter um patrimônio bilionário e ser sócio de diversas empresas importantes como AmBev, Embraer e Vale , o fundo é essencial dentro das políticas públicas e de negócios.

É o caso, por exemplo, do leilão da usina de Belo Monte, do qual o fundo deve participar por meio da Neoenergia (onde é acionista, junto com o BB), que integra o consórcio liderado pela Andrade Gutierrez.

BB quer registrar ganhos da Previ

Pesam também no interesse do BB os ganhos que, pelo menos desde 2001, a Previ tem registrado. Para o BB, trata-se de uma vantagem contábil, já que reconhece em seu balanço esses ganhos desde então. Em 2009, por exemplo, foram R$ 3 bilhões em receitas que, apesar de não entrarem efetivamente no caixa, ajudam a melhorar o patrimônio do banco e, assim, ampliar sua capacidade de empréstimos.

Mas isso não tem sido tão simples, porque os representantes dos funcionários do BB dentro da Previ não aceitam essa divisão. Para eles, os ganhos do fundo pertencem exclusivamente aos próprios bancários, não à estatal. O BB, por sua vez, entende que pode ficar com 50% desse superávit mesma proporção que arcava quando havia déficit no fundo.

Por isso, a Previ ainda não fechou seus cálculos e as conversas continuam.

Como fundo de pensão não é entidade lucrativa, periodicamente os bons resultados deveriam ser distribuídos entre patrocinador e participante, conforme determina a legislação. Segundo interlocutores do governo, de olho no lucro da Previ, antes do fechamento do balanço do BB, executivos do banco procuraram a Secretaria de Previdência Complementar (SPC) do Ministério da Previdência para entender melhor o processo de distribuição do lucro e como obter vantagem.

Ter alguém do banco no fundo passou, então, a ser uma estratégia, disse uma fonte.

O BB, lembra outra fonte, tem o poder de voto de minerva, já que Sérgio Rosa é um representante da instituição e teria a mesma posição, mas prefere a negociação. Quer evitar desgaste político e que a discussão seja levada à Justiça.

Caffarelli e Flores, ambos funcionários de carreira do BB e cotados para suceder Rosa na Previ, são hoje dois dos dirigentes mais atuantes no banco, cuidando de áreas sensíveis na instituição. O primeiro surge com mais destaque para uma eventual ida ao fundo por ter a simpatia do PT, que comanda a Previ desde antes do inicio do governo Lula. O vicepresidente já esteve no fundo entre 1999 e 2000, na área de Finanças.

Caffarelli cuida da reestruturação da área de seguros dentro do BB, que tem sido seu principal foco nos últimos meses. Essa tarefa, no entanto, já está quase concluída.

Já Flores, que também responde por uma área importante no banco, tem trânsito e bom relacionamento dentro do governo todo. O ponto que jogaria contra sua possível indicação à presidência da Previ é a proximidade com o PMDB, partido da base aliada do governo, mas que não tem muito espaço dentro do fundo de pensão.

Dificilmente o PT abriria tanto as portas para outra legenda neste caso.

Eleições podem dificultar escolha

Na presidência da Previ há oito anos, Sérgio Rosa foi o responsável pela entrada do PT na entidade, ainda no fim do governo Fernando Henrique Cardoso, como diretor. Em 2003, com a vitória do presidente Lula, assumiu o comando do fundo. É um dos homens fortes do PT e tem trânsito livre no governo. Emplacar Ferreira na presidência é a justificativa para manter seu status. Rosa pode sair da Previ para integrar a campanha da ex-ministra Dilma Rousseff.

Bater o martelo sobre o nome do novo presidente da Previ também tem outro obstáculo: as eleições deste ano. Por não ter mandato definido, na troca de um presidente da República é usual o comandante do fundo também ser substituído.

Numa vitória da pré-candidata petista, as chances de isso ocorrer são menores, na avaliação de fontes ouvidas pelo GLOBO. E como, tanto dentro do BB quanto da Previ, a avaliação é que o PT fará o seu segundo presidente da República, esse não seria um problema para convencer, eventualmente, um executivo do BB a seguir para a Previ.

 

12/04/2010
- Corecon-RJ/O Globo/Blog do Romildo
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