Bancos públicos estudam definir ação conjunta

Bancos públicos estudam definir ação conjunta

 Preocupados com o impacto da crise da Oi e com possíveis perdas que a operadora deve ocasionar, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil (BB) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Federal (BNDES) querem definir uma estratégia conjunta para lidar com a situação não só da Oi como de outras empresas que têm operações com os bancos públicos federais.

 

Representantes da Caixa, do BB e do BNDES devem se reunir nos próximos dias para "ter um alinhamento de banco federal". O entendimento é de que, no atual momento, é preciso fazer uma avaliação conjunta das operações compartilhadas dos bancos, sempre buscando negociação para minimizar perdas.

 

No encontro dos bancos públicos federais também deverá ser discutida a participação dessas instituições nos projetos de infraestrutura que o governo pretende destravar.

 

O BNDES tem garantia para sua dívida com a tele, como é de praxe nos contratos do banco de fomento do governo. A Oi tem comprometida com a instituição 60% de sua receita de clientes com venda de serviços de telecomunicações.

 

Por conta da garantia, antes que a receita chegue à conta corrente da tele, os recursos transitam por uma "conta caução" à qual o BNDES tem acesso. Enquanto a Oi se mantém em dia com seus vencimentos e compromissos com o banco, a receita é liberada para ela. Em caso de default com o BNDES, o banco passa a ter o direito de sacar os recursos dessa conta.

 

A dívida com o BNDES não possui fiança bancária, apenas essa garantia. Em geral, a instituição usa ou um ou outro como forma de proteção ao crédito concedido.

 

Caso a Oi não pague a dívida de cerca de ? 250 milhões que vence em 26 de julho, os compromissos com o BNDES e demais bancos serão declarados vencidos.

 

A proposta de renegociação de dívida da Oi tinha o apoio de diversos bancos brasileiros, com cerca de R$ 16,9 bilhões em exposição à operadora. A negociação com os bancos e as Agências de Exportação ao Crédito (ECAs, na sigla em inglês) tratava da extensão da maturidade das parcelas em quatro e até seis anos, mantendo o valor de face dos títulos.

 

Para um débito referente a certificado de recebíveis imobiliários de R$ 1,35 bilhão, era negociada uma extensão mínima de quatro anos de amortização, com pagamento entre 2020 e 2022. Já para uma dívida garantida de R$ 3,5 bilhões, a negociação envolvia seis anos de amortização e extensão do prazo. Em outra linha, de dívida não garantida, no valor de R$ 9,5 bilhões, a amortização é de quatro anos, com prazo alongado.

 

Ao comitê de credores com que negociava sua reestruturação financeira, a operadora informou que cerca de 60% de seus recebíveis estão penhorados a bancos brasileiros.

 

Os bancos não informam a exposição individual à tele em seus balanços. Segundo relatório do Deutsche Bank, o Banco do Brasil tem uma exposição de R$ 4 bilhões (0,6% em empréstimos e 4,8% em ações); o Itaú Unibanco detém R$ 2,5 bilhões (0,6% em empréstimos e 2,3% em ações) e o Bradesco tem exposição de R$ 1,5 bilhão (0,4% de empréstimos e 1,6% em ações). Além disso, o BNDES tem exposição de R$ 7 bilhões, e a Caixa Econômica Federal, de R$ 2,5 bilhões.

 

No pior cenário, em que os bancos provisionem toda a exposição à Oi, as estimativas de lucro antes de impostos neste ano podem cair 5% no caso do Bradesco, 8% para o Itaú Unibanco e 35% para o Banco do Brasil, estima o banco de investimentos alemão.

 

No caso de um novo processo de reestruturação, com outro CEO, os bancos ainda teriam prioridade sobre os detentores de títulos de dívidas.

 

A dívida de R$ 16,9 bilhões com os grandes bancos locais e a Caixa não seria depreciada, segundo os planos da Oi, destaca o CreditSights. Desse valor, R$ 14,4 bilhões estariam sujeitos a uma suspensão de pagamentos de amortização e extensão de maturidade.

 

O risco de que a Oi entre em recuperação judicial acendeu o alerta sobre a exposição dos grandes bancos a créditos concedidos à empresa. As instituições não comentam casos específicos, mas analistas dizem que os bancos provavelmente terão despesas adicionais com provisão para se protegerem de um eventual pedido de recuperação judicial, informou o Valor , na semana passada. (Colaboraram Vinícius Pinheiro e Ivone Santana)

21/06/2016
- Valor Econômico
WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn