Banco Postal traz um novo desafio ao BB

Banco Postal traz um novo desafio ao BB

Vanessa Adachi e Aline Lima | De São Paulo

O Banco do Brasil venceu o leilão para operar o Banco Postal por R$ 2,8 bilhões – R$ 500 milhões de valor fixo para usar a rede dos Correios e mais lance de R$ 2,3 bilhões. O principal desafio, entretanto, vem agora: os 5 milhões de clientes do Banco Postal, espalhados por 6.195 agências, pertencem ao Bradesco, que o operou por nove anos. O Bradesco, que perdeu a disputa por R$ 50 milhões de diferença, monta sua contraofensiva e guarda a sete chaves toda a inteligência da operação. Sabe quais são as lojas mais lucrativas e quais não valem a pena, informações que nem os Correios têm.

Pelo contrato, o BB repassará, ainda, aos Correios receitas com tarifas. Hoje, o Bradesco transfere cerca de R$ 350 milhões por ano. O banco privado praticamente cobre seus custos com as tarifas e tira seus ganhos das operações de crédito.

Fonte: Valor Econômico (texto) e Mateus Bruxel/Folhapress (foto)

Correios ainda opõem BB e Bradesco

Vanessa Adachi e Aline Lima | De São Paulo

A vitória do Banco do Brasil, ontem, no leilão para operar o Banco Postal e poder usar as 6.195 agências dos Correios como correspondentes bancários marca apenas o primeiro round de uma briga que começa agora e opõe o banco federal e o Bradesco, que até o fim do ano continua a ser o titular do contrato. A disputa se dará em torno dos cerca de 5 milhões de clientes que o Bradesco conquistou nos últimos 9 anos como operador do Banco Postal.

O BB leva o direito de explorar serviços bancários na rede dos Correios por cinco anos a partir de 2012, mas os clientes ficam. O banco da Cidade de Deus deve, assim, começar a desenhar desde já sua estratégia para reter o máximo possível dessa clientela. O desafio é estabelecer uma rede para atendê-los satisfatoriamente.

Para o BB, de outro lado, a meta será roubar quantos clientes puder. A rede dos Correios ainda tem um potencial de expansão da base de correntistas, mas o BB vai ter que conquistar ao menos parte daqueles que hoje carregam um cartão com a marca Bradesco se quiser maximizar seu resultado com o novo negócio.

O Bradesco sabe que, inevitavelmente, perderá parte dos clientes, até porque o BB tem a seu favor o fato de os correntistas estarem acostumados ao atendimento nas lojas dos Correios.

Embora contasse com a possibilidade de perder o leilão, o cenário principal do Bradesco era de renovação do contrato. Para montar sua contraofensiva, o banco guarda a sete-chaves toda a inteligência da operação do Banco Postal, com os detalhes de quais são as lojas mais lucrativas e quais não valem a pena. Essas informações nem os Correios têm.

Ao longo dos últimos anos, o Bradesco montou uma rede de correspondentes bancários – que inclui padarias, farmácias e outros comércios – paralela aos Correios. Somente no primeiro trimestre de 2011, o banco firmou parceira com 1.545 correspondentes, totalizando 27.649 pontos da rede chamada Bradesco Expresso. Poucos municípios brasileiros estão fora dessa rede.

Ainda assim, agora será preciso redimensionar a rede, ampliando pontos de atendimento – em muitos casos com abertura de agências bancárias propriamente.

O BB venceu o leilão com uma proposta de pagar R$ 2,3 bilhões, além de um valor fixo de R$ 500 milhões para operar a rede dos Correios, totalizando R$ 2,8 bilhões. Terá, ainda, de repassar aos Correios todos os anos metade da receita auferida com tarifas bancárias. O Bradesco chegou até um lance de R$ 2,25 bilhões no leilão. Embora tenha perdido por apenas R$ 50 milhões, o banco privado acrescentou R$ 700 milhões à sua proposta original. A partir daí, estimou que os ganhos não compensariam o investimento.

As ações ordinárias do BB caíram 0,88% e as preferenciais do Bradesco subiram 0,51%.

Os analistas do Barclays Roberto Attuch e Fabio Zagatti dizem, em relatório, estarem convencidos de que os participantes do mercado prefeririam que o BB tivesse empregado o capital no próprio negócio em vez do que buscar um novo fronte. “O Bradesco teve, nos últimos dez anos, a oportunidade de obter acesso a informações comportamentais exclusivas, o que lhe permite reunir o máximo de dados possível adequadamente, mapear e identificar o cliente do Banco Postal mais adequado (e rentável) e produtos de seguros para as demandas de cada região”, ressaltam. “O Banco do Brasil, por outro lado, terá que iniciar ‘do zero’ e, obviamente, vai levar algum tempo para embalar.”

Ao menos nos primeiros anos de operação do contrato com o BB, os Correios devem ver o repasse de receita de tarifas cair, muito embora o edital do leilão embutisse um reajuste médio da ordem de 40% dos valores hoje cobrados na rede do Banco Postal.

Justamente pelo fato de começar a operar a rede de correspondentes sem clientes, levará tempo para que o BB alcance o nível de repasse hoje praticado pelo Bradesco. Atualmente, os Correios recebem cerca de R$ 350 milhões por ano em tarifas e, com o reajuste, a receita passaria a quase R$ 500 milhões, desde que mantida a mesma base de clientes.

Bradesco e BB não concederam entrevistas para comentar o resultado do leilão até o fechamento desta edição.

Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o BB afirma que, “por meio desse investimento, o Banco do Brasil antecipa a execução de plano estratégico que objetiva estender seus pontos de atendimento para todos os municípios brasileiros”. A analistas, os executivos do BB estimaram que o pagamento pelo Banco Postal afetará seu índice de Basileia negativamente em apenas oito pontos-base. O banco encerrou o primeiro trimestre com índice de 14,1%.

Durante os três meses que antecederam a licitação do Banco Postal, os executivos do Banco do Brasil procuraram tratar o tema com aparente descaso. O presidente Aldemir Bendine chegou a declarar que não tinha “tanto interesse” na concessão. Argumentou que o BB estava bem servido pela própria base de correspondentes e já tinha um plano traçado para estar presente em todos os municípios brasileiros até 2015, por meio de um modelo compacto de agências. Puro despiste.

Fonte: Valor Econômico (texto) e Folha de S. Paulo (infográfico)

Oferta do Itaú confunde adversários

Banco Postal: Instituição fez proposta lacrada de apenas R$ 0,01 no leilão, que envolveu Caixa, BB e Bradesco.

Rafael Bitencourt e Vanessa Adachi | De Brasília e São Paulo

Ao entregar um envelope com uma intrigante proposta de R$ 0,01 para arrematar o Banco Postal, o Itaú Unibanco parece ter tido como único objetivo obrigar seus principais adversários no varejo bancário a abrir mais o bolso. O lance desqualificou imediatamente o banco do leilão, disputado com afinco por Caixa Econômica Federal e, principalmente, Bradesco e Banco do Brasil.

Pelas regras, depois de apresentar propostas em envelopes lacrados, apenas três bancos iriam para a etapa de leilão em viva-voz. Quatro bancos poderiam até prosseguir para a etapa seguinte, desde que todas as ofertas estivessem dentro de um intervalo de diferença de 10% entre a maior e a menor delas.

Ao entregar seu envelope, o Itaú deu aos demais a impressão de que estava na disputa. Assim, pode ter obrigado os outros três a caprichar no lance inicial para tentar assegurar a presença no pregão. O Santander enviou representantes, mas não apresentou oferta.

Após seis horas, em vez de apenas confirmar a permanência do Bradesco como parceiro dos Correios por mais cinco anos, o leilão acabou colocando o Banco do Brasil nessa posição. O BB venceu a licitação ao apresentar, na 12º rodada, lance de R$ 2,3 bilhões, referente ao valor básico de acesso ao negócio definido no edital.

Na quinta rodada de propostas, em viva-voz, quando os lances se aproximavam do patamar de R$ 2 bilhões, os representantes da Caixa cumprimentaram a equipe técnica dos Correios e anunciou sua desistência.

Até a saída da Caixa do embate, os representantes do Bradesco não demonstravam qualquer intimidação diante do entusiasmo dos concorrentes. A cada lenta apresentação de lances dos concorrentes, o Bradesco respondia imediatamente, ao ser perguntado pela comissão dos Correios responsável por conduzir a licitação.

O último fôlego do Bradesco proporcionou uma oferta de R$ 2,25 bilhões, na 11ª rodada. A impossibilidade de apresentar um lance mais robusto trouxe como consequência o fim da parceria de dez anos no Banco Postal. O leilão, iniciado às 9 horas da manhã, foi encerrado por volta de 15 horas.

Na prática, o banco público terá de desembolsar R$ 2,8 bilhões, se considerado o valor de R$ 500 milhões a ser pago pela utilização das agências. O pagamento dos R$ 2,3 bilhões deverá ser feito aos Correios em até dez dias após a assinatura do contrato (que levará, por sua vez, cerca de 15 dias). Os R$ 500 milhões devem ser pagos até 2 de janeiro de 2012.

Os representantes dos bancos não quiseram comentar ao resultado após o leilão. Convidado a falar ao lado do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o diretor de cartões do banco vencedor, Denilson Molina, afirmou que o Banco Postal é um “sonho antigo”.

Molina fez questão cumprimentar os diretores do Bradesco, ressaltando que o adversário na disputa de ontem permanecerá como um “parceiro em diversos negócios”. Vale a preocupação do diretor do BB em manter o clima amistoso, já que a sucessão do Bradesco no Banco Postal demandará esforços que mexem com o interesse comercial dos dois agentes, que são sócios em outros negócios.

Paulo Bernardo disse que ligou imediatamente para presidente da República, Dilma Rousseff, assim que soube do resultado. “Ela ficou surpresa porque achou que o Bradesco poderia cobrir qualquer proposta”, disse ao relatar parte da conversa.

O ministro disse ainda que boa parte dos recursos arrecadados deve ser investida nas próprias agências. Segundo ele, os Correios devem cobrar mais R$ 200 milhões do novo parceiro para disponibilizar serviço em mais 1,5 agências franqueadas que serão licitadas e estão com pendências judiciais.

O Bradesco arrematou em 2001 a licitação do Banco Postal com um lance de R$ 200 milhões, em rodada única com apresentação de propostas em envelope. Na época, o valor superou em quase três vezes a proposta do segundo colocado.

03/06/2011
- Valor Econômico
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