Banco do Brasil cresce 40% no segmento de Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) em 2011

Banco do Brasil cresce 40% no segmento de Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) em 2011

 Por Felipe Marques e Marcelo Mota | De São Paulo e do Rio

O crescimento do Banco do Brasil no segmento de fundos de pensão de Estados e municípios ajuda a entender porque bancos e outras administradoras de recursos estão tão interessadas nos chamados RPPS. O BB fechou dezembro de 2010 com R$ 12,2 bilhões em recursos aplicados em fundos exclusivos para RPPS. Em um ano, o crescimento nesse valor foi de 40% e o banco agora administra R$ 17,1 bilhões. "Acredito que, no mínimo, vamos manter esse crescimento no ano que vem", diz Janio Macedo, gerente de gestão previdenciária do Banco do Brasil.

Os RPPS têm hoje cerca de R$ 55 bilhões para investir. Em 2004 eram apenas R$ 19 bilhões.

Não foi só o BB que teve um bom 2011 com os RPPS. O HSBC, que criou uma área específica há apenas um ano, fechou 2011 com um patrimônio administrado de R$ 1,1 bilhão. Segundo o responsável pelo segmento, Phylipe Corsini, a meta é avançar pelo menos 55% em 2012.

Mesmo com o crescimento, os recursos administrados pelo HSBC ainda estão longe do que administra o BB e a Caixa, que detêm juntos R$ 34 bilhões.

A maior atividade de participantes privados tem ajudado a diversificar a oferta de fundos disponíveis para os RPPS. A lista de fundos criados em 2011 inclui um de recebíveis de crédito consignado (modalidade de empréstimo para pessoas físicas com desconto direto na folha de pagamento), lançado pelo BMG em parceria com a Caixa, que pretende levantar até R$ 1 bilhão em recursos. A Vinci Partners, também junto com a Caixa, lançou um fundo para buscar oportunidades de investimento entre as empresas de menor capitalização na bolsa, as chamadas "small caps". A gestora pretende captar até R$ 500 milhões com o fundo, sendo R$ 100 milhões viram apenas dos RPPS.

Além das parcerias, a Caixa lançou durante 2011 quinze fundos que investem em DPGE (depósito a prazo com garantia especial do Fundo Garantidor de Créditos) tendo os RPPS como alvo. O BB fechou o ano com 11 fundos exclusivos para os institutos. Até o Banco do Nordeste está de olho nesse mercado e lançou fundo para atrair os RPPS da região.

Não são só os bancos que tiveram uma presença mais forte nos RPPS em 2011. O ano também trouxe um crescimento no número de consultorias especializadas no assunto. É o caso da Plena Investimentos, que presta serviços para 60 institutos. Roberto Elaiuy, gerente administrativo financeiro da Plena, acredita que a consultoria vem ganhando espaço graças à crescente dificuldade que os RPPS têm para atingir sua meta atuarial (que costuma ser um índice de inflação mais 6%). (Colaborou Murillo Camarotto, do Recife)

Fonte: Valor Econômico

Fundos de Estados e municípios correm atrás de melhor gestão

Por Do Rio, Recife, de Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo

Com um total de R$ 55 bilhões em patrimônio, perspectivas de forte crescimento nos próximos anos e autorização para ampliar a diversificação de suas aplicações, os fundos de previdência de Estados e municípios – conhecidos como Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) – passaram, em 2011, a ser cortejados com insistência por bancos e administradoras de recursos interessados em investir todos esse dinheiro. A outra face desse movimento é que, dentro de casa, Estados e municípios se estruturam para buscar maiores retornos nos investimentos e conferir o mínimo de profissionalização a estruturas que não estavam preparadas para aplicar os recursos muito além dos títulos públicos federais.

"O grande problema dos RPPS é a capacitação de mão de obra", diz o diretor de Investimentos do Previ-Rio, o fundo de funcionários da cidade do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Arruda Correia. Ele conta que, em vez de contratar um gestor independente, opta por investir na qualificação profissional do seu pessoal. Em 2012, por exemplo, aguarda pela criação de um curso de gerenciamento de carteira e monitoramento de risco em RPPS, em avaliação pela BM&FBovespa.

"Estamos tentando nos tornar o mais próximo possível uma "asset"", diz Correia, que conta com cinco pessoas dedicadas à gestão financeira do fundo e tem plano de ampliar esse quadro

No fundo do Estado de Pernambuco, que sequer saiu do papel ainda, já está decidido que os diretores e alguns funcionários da Fundação de Aposentadorias e Pensões dos Servidores do Estado de Pernambuco (Funape) vão ter que pregar na parede os seus diplomas da Anbima, associação que reúne entidades dos mercados financeiro e de capitais. Segundo a presidente da Funape, Cláudia Santana, a especialização em finanças será pré-requisito para os membros do comitê de investimentos que está sendo formado no órgão estadual para comandar as aplicações do RPPS.

Na maioria dos Estados e municípios, entretanto, ainda predomina a falta de especialização. Luiz Fernando Rigotti, que comanda o regime de previdência de Porto Alegre, tem uma formação que passa longe das finanças: é arquiteto e agrônomo aposentado. Mas tem experiência no cargo. Está há sete anos no comando do instituto, algo incomum nos RPPS, que costumam trocar de gestor conforme troca o governo. Em Porto Alegre, quem define as estratégias de aplicação é um comitê chefiado pelo economista Tiago Iesbick.

Esse tipo de estrutura de comitês começa a se tornar mais comum entre os RPPS, que têm melhorado sua governança à medida que crescem e precisam fugir do trivial na aplicação do dinheiro. É o caso de Santa Catarina, que apesar de existir desde 2008, criou apenas em 2011 um comitê responsável por supervisionar as aplicações.

Comandado pelo advogado Adriano Zanotto, o RPPS de Santa Catarina tem um acordo de exclusividade de aplicação de recursos com o Banco do Brasil, mas nem assim escapa do ambiente de competição entre os bancos. "Todos sabem que temos como gestor único o Banco do Brasil, mas ainda assim somos assediados por outros fundos", diz Marcos Panosso, que lidera o comitê de investimentos do instituto.

O batalhão de novos fundos criados por bancos e gestoras de recursos é uma resposta à necessidade dos RPPS de diversificar suas aplicações além dos títulos públicos para atingir suas metas atuariais (que costumam ser de um índice de inflação mais 6%). "Os RPPS vivem um momento de aculturação para novos investimentos", diz Marcelo de Jesus, superintendente de gestão de ativos de terceiro da Caixa Econômica Federal, que divide com o Banco do Brasil a liderança na gestão de recursos dos RPPS.

No RPPS do Estado do Paraná, o maior do país de acordo com dados de fevereiro de 2011, a mudança no perfil das aplicações foi a chave para bater a meta no ano passado. Jayme de Azevedo Lima, presidente do instituto, conta que no começo de 2011, 98% das aplicações estavam em títulos públicos. No fim do ano, eram 87%.

Para 2012, a diversificação deve continuar. "Com a perspectiva de taxa de juro de um dígito, os títulos públicos deixaram de ser atraentes para instituições de RPPS", afirma. "É urgente que possamos ir ao mercado e buscar alternativas para bater as metas".

O RPPS da cidade de Porto Alegre passa pelo mesmo processo de diversificação. Segundo Luiz Fernando Rigotti, apenas 5,7% do patrimônio do instituto está em fundos de ações, mas a ideia é se aproximar dos 10% até o fim de 2012. O instituto fechou 2011 com R$ 300,3 milhões, com 62,9% do total aplicados em títulos públicos.

No Fundo de Previdência do Estado de Minas Gerais (Funpemg), com R$ 2 bilhões em recursos e um dos maiores do país, a maior parte dos recursos é investida em títulos públicos, mas uma parcela crescente vem sendo aplicada em produtos de instituições bancárias.

Segundo Marcus Vinícius de Souza, diretor de previdência do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) e funcionário de carreira do Estado, desde que as regras para investimentos dos fundos de pensão começaram a ser flexibilizadas, o fundo mineiro se voltou para bancos privados e públicos. Credenciou Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, HSBC, Caixa Econômica Federal e Santander. Ainda assim, o perfil da sua carteira de investimentos é conservador. Em novembro, o instituto tinha R$ 119 milhões em fundos de renda fixa e referenciados DI desses bancos. O valor representava apenas 6% dos R$ 1,95 bilhão do fundo. Pelas regras atuais, o Funpemg poderia também apostar em fundos de ação. Mas o quadro de incerteza não recomenda, diz Souza. "Com o mercado volátil como está atualmente, não vamos investir nesses fundos. Não podemos correr esse risco."

Os servidores que têm suas futuras aposentadorias administrados pelo Funpemg ainda são minoria, cerca de 10% dos 600 mil funcionários públicos de Minas. A massa dos servidores ainda está no sistema de participação simples, o que indica o potencial de crescimento do RPPS.

(Marcelo Mota, Murillo Camarotto, Júlia Pitthan, Marli Lima, Sergio Ruck Bueno, Marcos de Moura e Souza e Felipe Marques)


 

09/01/2012
- Valor Econômico
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