Arrecadação diminui e gasto com sinistro cresce

Arrecadação diminui e gasto com sinistro cresce

 

Nos últimos três anos as vendas de veículos novos recuaram 29%. Em 2016 não tem sido diferente. Até maio, a queda foi de 21,98%. A desaceleração das vendas impacta diretamente a arrecadação das seguradoras. Entre janeiro e abril, os prêmios diretos acumulados somaram R$ 9,94 bilhões, o que representa uma redução nominal de 4% em relação ao mesmo período de 2015. "Se somarmos a inflação do período, temos uma queda real de quase 15%", diz João Francisco Borges da Costa, presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).

 

Em 2015, os prêmios diretos acumulados pelo segmento automotivo somaram R$ 32,5 bilhões, representando 47,3% do mix de seguros gerais. A participação caiu para 42,5% nos primeiros quatro meses de 2016. O desempenho do segmento é diretamente afetado pela conjuntura, diz Costa, uma vez que a contratação de seguros é alta entre os donos de veículos zero, chegando a 90%, mas cai gradativamente a cada ano de uso do carro, não superando a 40% entre os proprietários de automóveis com cinco anos.

 

Ao mesmo tempo em que a arrecadação diminuiu, os gastos das seguradoras com sinistros aumentou em 3%, chegando a 64,47% da arrecadação. O crescimento dos gastos é resultado de um maior registro de roubos e furtos, mas também da inflação das autopeças, com itens aumentando em até 18%, informa Eduardo Dal Ri, presidente da comissão de automóveis da FenSeg.

 

As seguradoras adotam estratégias distintas para enfrentar essa conjuntura desfavorável. Algumas apostam em políticas de preços mais acessíveis aos consumidores, em detrimento da rentabilidade. Outras optaram por políticas conservadoras de preços, correndo o risco de perder mercado, mas mantendo a lucratividade.

 

Foi o caso da SulAmérica, empresa da qual Dal Ri é vice-presidente, que registrou uma queda de 13,47% em prêmios diretos entre janeiro e abril, com uma arrecadação de R$ 896,7 milhões. "Foi resultado de uma estratégia de precificação atualizada constantemente e de uma decisão de não entrar em guerra de preços", diz o executivo. Dal Ri aposta num maior alinhamento entre as estratégias comerciais das seguradoras nos próximos meses, com uma convergência de aumento de preços no ano na casa de 10% a 15%.

 

A relação entre preço e vendas pode ser observada comparando o desempenho das marcas da Porto Seguro. Enquanto a Azul, marca de entrada da companhia que oferece menos serviços e preços mais em conta, cresceu 14% no ano. A Itaú, marca intermediária, cresceu 12,6% e a marca premium Porto Seguro recuou 2,49%. Luiz Pomarole, diretor geral da companhia, diz que o grupo está atento à queda do poder aquisitivo da população, mas não entra em guerra de preços que sacrifiquem margens.

 

Para expandir as vendas da Azul, a companhia lançou um novo modelo de comercialização, em dez prestações. O usual nesse segmento de mercado são quatro mensalidades. Outras duas ações, essas válidas para as três marcas, envolve uma expansão para as regiões Nordeste e Sul, uma vez que a empresa é muito concentrada no Sudeste, e maior segmentação de produtos, como seguros para motos, para jovens e mulheres. "Estamos atentos às demandas de cada público. As mães recentes querem itens de seguranças aos bebês, como cadeirinhas", diz.

 

A Tokio Marine também registrou crescimento no início do ano, de 9,64%, com uma arrecadação de R$ 747 milhões em prêmios. "Somos a empresa que mais cresce no mercado desde 2012", diz Marcelo Goldman, diretor executivo de produtos massificados. Esse crescimento é decorrência de duas iniciativas. Uma é a ampliação da distribuição. A seguradora passou de sete mil para 20 mil os corretores associados. A outra iniciativa foi a oferta de um segundo produto, entre 5% e 6% mais barato que o tradicional da seguradora, para quem opta por uma indenização menor em ocorrências de perda total. "A diferença é pequena, mas é decisiva numa concorrência com outras companhias", diz.


21/06/2016
- Valor Econômico
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