Segundo especialistas, planejar o fim da carreira é tão importante quanto os primeiros passos de uma escolha profissional. Entre os cuidados sugeridos para facilitar a mudança, estão a busca por atividades alternativas e a avaliação cuidadosa das finanças
Da primeira vez que se aposentou, Eurides precisou voltar ao trabalho a fim de se preparar melhor para a nova fase da vida: "Percebi que o meu bem-estar estava acima de tudo"
Depois de décadas de dedicação ao trabalho, chega a hora de se aposentar. Tempo de descanso, de encontrar novas atividades e de reinventar a rotina. Para quem se preparou para a essa passagem, ela pode ser o momento de realizar projetos, aproveitar a convivência com a família ou viajar. Os que seguiram a vida sem pensar nessa mudança, no entanto, costumam vivê-la de uma forma mais traumática. Por falta de planejamento, acabam se sentido despreparados justamente no fim da carreira, mesmo quando ela foi muito bem trilhada.
“A aposentadoria, em si, não faz mal ou bem à saúde. As condições dela é que determinam isso. A falta de atividades significativas pode levar a graves problemas, e não é de uma hora para outra que elas são encontradas. É preciso preparação”, alerta Ana Fraiman, especialista em gerontologia social. Além das questões financeiras, a falta de uma atividade fixa é um dos motivos de preocupação para quem para de trabalhar. Muitas vezes, a pessoa sente falta dos compromissos e da ocupação de antes da aposentaria, sentimento que pode dificultar a adaptação e a descoberta de novas formas de se manter ativo.
Segundo Fraiman, os anos anteriores à chegada da aposentadoria, na maioria das vezes, determinam o sucesso que a nova etapa da vida pode trazer. Pessoas que se aposentaram sem preparação, que deixaram o trabalho sem ir, aos poucos, pensando na saída reagem de forma pior. Algumas delas pensam nos benefícios que perderão ao se aposentar, como o plano de saúde mantido pela empresa, e acreditam que o futuro que as espera será pior. “Nesses casos, a aposentadoria quase sempre acontece de maneira complicada. Se a pessoa já vive, enquanto trabalha, com a ideia de que terá um futuro ruim, ela sai mal, cabisbaixa, sem forças para fazer novos planos ou se programar”, afirma a também doutora pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
É importante pensar a própria saída, ajudar a preparar o sucessor, se for o caso, e começar a se dedicar a novos projetos que contribuem para que a passagem aconteça da melhor forma possível. “Quem faz isso se aposenta em condições favoráveis. O ânimo para superar as possíveis perdas que podem vir é muito maior”, explica Fraiman.
Eurides Ribeiro, 60 anos, foi servidora pública e se aposentou pela primeira vez aos 45 anos. Mas, seis meses depois de deixar o trabalho, ela começou a se sentir deprimida e resolveu que precisava voltar. “Não estava preparada para a aposentadoria, me senti acomodada, apática. Decidi que precisava trabalhar de novo”, conta. Eurides voltou em um cargo comissionado. Ficou até janeiro de 2012, quando deixou pela segunda vez o trabalho.
Entre a primeira e a segunda aposentadoria, ela decidiu se preparar para a parada final, evitando, assim, que o desânimo voltasse a acontecer. “Na segunda vez, eu estava bem preparada, pronta para deixar o trabalho e me dedicar a outras atividades. Sempre digo que é fundamental que aconteça uma preparação antes de deixar de trabalhar para evitar esses problemas”, diz. Assim que saiu do emprego pela segunda vez, Eurides decidiu viajar e refletir sobre a decisão. “Quando voltei, me sentia muito melhor e percebi que o meu bem-estar estava acima de tudo, de qualquer ganho financeiro maior que eu pudesse ter.”
Eurides também aproveitou o tempo para cuidar melhor da saúde e dar mais dedicação à família. “A diferença é que, agora, não tenho compromissos fora e posso cuidar de mim e da minha família com muito mais tempo”, diz. A filha da servidora pública aposentada acabou de ser aprovada no vestibular da medicina, uma conquista que também ajudará Eurides a seguir os novos planos de vida com mais tranquilidade. “Depois desse momento de apoio à minha filha, quero poder contribuir com trabalhos voluntários, buscar outras atividades”, conta.
O engenheiro Milton começou a cursar música na UnB seis meses antes de se aposentar: "Antes, eu tinha as responsabilidades e obrigações do emprego. Hoje, tenho as da faculdade"
Além do escritório
Psicóloga e autora dos livros Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho e Aposentação: Aposentadoria para ação, Dulce Helena Penna Soares acredita que o modo como esse processo de passagem acontece depende de como se deu a trajetória profissional. Quem não mantém muitas atividades fora do ambiente de trabalho e vê a carreira como única ocupação enfrentará mais dificuldades. “Para essas pessoas, aposentar sempre é mais difícil. Sentem um vazio, podem ter problemas de saúde, depressão”, explica a especialista.
Quem, no entanto, manteve outras atividades e projetos enquanto trabalhava tem mais facilidade para se adaptar. “A pessoa que se dedicou ao trabalho, mas tem outros projetos, uma relação forte com a família, vontade de se dedicar à arte ou à música consegue se sentir melhor. Assim, é muito mais fácil se manter bem”, explica Soares.
Foi o que aconteceu com Milton Sebastião Barbosa, 59 anos. Engenheiro e funcionário do Banco Central, Milton só decidiu se aposentar quando definiu o que faria depois. “Resolvi estudar música na UnB (Universidade de Brasília)”, diz. Antes mesmo de deixar o trabalho, Milton prestou o vestibular do segundo semestre de 2011 para bacharelado em composição. Ele conta que se preparou para a prova específica de conhecimentos musicais e para o teste geral. Foi aprovado e começou a cursar antes mesmo de deixar o trabalho.
Milton se aposentou no início de 2012 e trocou a rotina profissional pela dos estudos. “Antes, eu tinha as responsabilidades e obrigações do emprego. Hoje, tenho as da faculdade”, explica. Estudar música era um desejo antigo do engenheiro durante a vida, mas ele se preocupava com os possíveis riscos da carreira Agora, o que agita a rotina do ex-funcionário público são as ocupações do fim do semestre. Milton conta que voltou a ter a mesma rotina da época em que estudou na universidade pela primeira vez. “Tenho o mesmo ritmo, a mesma dedicação que tive quando fiz engenharia na UnB há muitos anos. Trabalhos, provas finais, tudo isso”, conta.
Otimismo e bem-estar
Existem dois aspectos fundamentais que influenciam o processo de decisão pela aposentadoria e que devem ser levados em conta para entendê-lo. Segundo a psicóloga especialista em envelhecimento e aposentadoria Lucia França, o primeiro é composto por atitudes anteriores, pensamentos sobre o período que virá. Esse modo de enxergar a mudança não necessariamente se reflete em comportamentos, mas são importantes para compreender o processo pois, certamente, interferem nas ações posteriores.
Além disso, existem os aspectos de risco e de bem-estar. Um dos fatores de risco é a condição econômica que se terá depois da aposentadoria. França afirma que é fundamental, no momento de encerrar a carreira, fazer as contas e se assegurar de que a renda será suficiente. Já os fatores de bem-estar estão relacionados a novas condições que podem dar melhor qualidade de vida para quem deixa de trabalhar. “Manter atividades diversificadas (culturais, voluntárias), novos relacionamentos, envolver-se com questões políticas locais são fatores que podem garantir o bem-estar na aposentadoria”, exemplifica.
O mecânico Eroídes Alves, 59 anos, começou a trabalhar aos 13. Em setembro de 2012, decidiu que era o momento de parar. “Vinha me programando há um tempo e me preparei muito para o momento. Algumas pessoas se aposentam e acabam ficando paradas, eu não deixei isso acontecer comigo.”
Depois de deixar o trabalho, ele passou a ajudar nas atividades de casa e a dedicar mais tempo aos familiares. O próximo projeto de Eroídes é comprar uma chácara. “Sempre gostei de trabalhar com a terra. Agora, com o tempo que tenho, vou plantar, cuidar de galinhas”, empolga-se. “Como trabalhei a vida toda, não consigo pensar em ficar parado. Parie de trabalhar, mas minha cabeça continua a mil.”
Para tornar o processo de aposentadoria mais tranquilo, a especialista em gerontologia social Ana Fraiman defende que as empresas contratem profissionais que auxiliem os funcionários que estão prestes a sair, tornando o processo de desligamento menos doloroso. “Infelizmente, não é o que acontece em geral. Algumas empresas até investem em pessoal para isso, mas, em pouco tempo, a ideia é descontinuada”, critica. (Correio Braziliense
Apesar de austeridade, UE tem dívida recorde
A dívida pública dos 17 países da zona do euro atingiu seu maior nível histórico no fim do primeiro trimestre deste ano.
Dados divulgados ontem pela Eurostat, a agência oficial de estatísticas da União Europeia (UE), mostram que, mesmo após anos de medidas de austeridade, a dívida governamental como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro atingiu a marca de 92,2%. Como comparação, no último trimestre de 2012 a dívida estava em 90,6% e, no primeiro trimestre do ano passado, em 88,2%.
A Grécia, que em 2009 tornou-se o primeiro país da zona do euro a perder a confiança dos investidores sobre o estado das suas finanças públicas, tem a maior dívida entre as nações do bloco da moeda comum, com 160,5% – alta de 3,6 pontos percentuais na comparação com o último trimestre de 2012 e de 24 pontos percentuais em relação ao período janeiro-março do ano passado.
A Itália tem a segunda maior dívida como proporção do PIB entre os membros da zona do euro, com 130,3%. Ao contrário de Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Chipre, a Itália não precisou de resgate financeiro internacional e tem conseguido atrair investidores para rolar sua dívida de € 2 trilhões.
No final do primeiro trimestre, a dívida total dos países da zona do euro atingiu € 8,75 trilhões, contra € 8,6 trilhões no fim do ano passado e € 8,34 em janeiro-março de 2012.
Os únicos países do bloco que reduziram sua dívida no início deste ano foram Alemanha e Estônia. A Alemanha cortou sua dívida em 0,7 ponto percentual, para 81,2%. Já a Estônia, reduziu seu passivo de 10,1% para 10%.
Já em toda a UE, a dívida chegou a 85,9% – 0,7 ponto percentual a mais em relação ao último trimestre de 2012. O passivo somado dos 27 países subiu € 100 bilhões e chegou a € 11,11 trilhões. (Agências/Valor Online)
Alemanha está cada vez mais só na defesa da austeridade
A Alemanha pode perder força no debate sobre como reviver a economia da zona do euro depois que os Estados Unidos e outros países rejeitaram sua cartilha de austeridade.
Autoridades financeiras do chamado grupo G-20 de economias desenvolvidas e emergentes, reunidas durante o fim de semana em Moscou, concluíram que suas políticas devem ter como meta a geração de emprego e o crescimento econômico, numa rejeição às intenções da Alemanha de estabelecer metas de endividamento para depois de 2016.
"A ideia de que os alemães seriam apoiados por outros europeus era de fato extravagante, e a ideia de que os americanos aceitariam as metas era igualmente improvável", disse Simon Tilford, do Centro para a Reforma Europeia, um centro de estudos sediado em Londres e dedicado a aprimorar a União Europeia.
A França e outros países-membros, principalmente os do sul da Europa, há muito vêm criticando a insistência da Alemanha em reduzir dívidas em detrimento do crescimento econômico.
Um conjunto cada vez maior de estudos econômicos indica que os efeitos negativos do aperto fiscal sobre o crescimento vêm sendo subestimados, especialmente em tempos de crise. A posição pró-austeridade da Alemanha foi contestada ainda mais por dados oficiais divulgados ontem, que mostram um aumento considerável da dívida da zona do euro no primeiro trimestre. Portugal e outros países do sul da Europa que cortaram gastos e elevaram impostos para atender exigências da Alemanha apresentaram um crescimento particularmente acentuado.
"Como um todo, a pressa pela consolidação fiscal foi um erro da Europa", disse Zsolt Darvas, um acadêmico do centro de estudos Bruegel, de Bruxelas.
A maioria dos economistas e formuladores de políticas concorda que, no longo prazo, um baixo nível de endividamento é bom para a economia. Mantém as taxas de juros baixas e faz o dinheiro chegar ao setor privado, de onde ele pode ser direcionado para investimentos produtivos.
A questão que diferencia a Europa do resto do mundo é o que fazer no curto prazo, enquanto as economias ainda estão debilitadas.
Os EUA responderam à severa recessão de 2008 e 2009 cortando juros e aumentando os gastos do governo. O resultado foi um déficit de mais de US$ 1 trilhão, cerca de 10% do Produto Interno Bruto. A economia americana se recuperou, ainda que modestamente, e neste ano o país aumentou impostos e permitiu que cortes automáticos de gastos começassem a vigorar. Com isso, o déficit caiu substancialmente.
As autoridades europeias fizeram o oposto com a Grécia, a Irlanda e outros países atingidos pela crise. Elas insistiram nos aumentos de impostos e cortes de gastos como condição para os pacotes de resgate, exacerbando recessões que já eram severas.
A esperança era que o aumento da demanda dos EUA e outros mercados emergentes ajudaria a tirar as economias da recessão através de exportações.
Mas as autoridades subestimaram a escala dos problemas que afligiam os setores bancário e imobiliário em grande parte do sul da Europa, dizem analistas, e confiaram demais no crescimento da demanda estrangeira.
Economias geralmente precisam de um pouco de inflação e um crescimento robusto para gerar os recursos financeiros necessários para pagar suas dívidas. O crescimento também aumenta o emprego, aliviando a pressão sobre os gastos sociais. Em suma, aperto fiscal só funciona se houver crescimento.
A dívida pública total da zona do euro subiu em 150 bilhões de euros no primeiro trimestre, para 8,75 trilhões de euros, ou 92,2% do PIB do bloco, ante 90,6% no primeiro trimestre. Cinco dos 17 países da UE – Bélgica, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal – têm dívidas maiores que suas economias. A dívida da França já passou dos 90% de seu PIB e a da Espanha, que era só de 40% em 2008, também está perto dos 90%.
Ainda assim, a Alemanha e o resto da zona do euro não tiveram muita escolha no caso da Grécia, Irlanda e Portugal, que perderam acesso aos mercados de crédito, diz Daniel Gros, chefe do Centro de Estudos de Políticas Europeias, em Bruxelas. Na ausência de crédito, esses países precisam primeiro reduzir seus déficits para depois voltar a pensar em política fiscal como motor do crescimento, diz ele.
A Comissão Europeia deu aos membros do bloco mais tempo para atingir suas metas de déficit. Mas a política fiscal continuará pesando sobre o PIB este ano e no próximo, ainda que um pouco menos que antes, diz Greg Fuzesi, economista do J.P. Morgan.
Além disso, a Alemanha ainda tem a chave do cofre da Europa e não deve mudar de atitude apesar da reprimenda do G-20. Seu orçamento está quase em equilíbrio e sua dívida como proporção do PIB caiu no primeiro trimestre, contrabalançando a tendência do bloco. E com o desemprego em níveis próximos a baixas históricas, o governo hesitará em mudar de estratégia antes das eleições nacionais de agosto.
"A dura retórica da austeridade ainda soa bem na Alemanha", disse Tilford. (Brian Blackstone – The Wall Street Journal/ Valor Online)
Otimismo com o Japão
A vitória da coalizão governista nas eleições para o Senado, onde obteve maioria, foi um importante respaldo à política econômica expansionista adotada pelo primeiro-ministro Shinzo Abe, cujo partido, o Liberal Democrata, já vencera em dezembro as eleições para a Câmara Baixa.
O premier e sua política econômica, apelidada de Abenomics, em inglês, são a maior esperança de que a terceira maior economia do mundo volte a crescer de maneira sustentada. Nos sete meses em que ocupa o poder, Abe deu uma injeção de ânimo nos agentes econômicos, revertendo uma valorização do iene que durava seis anos e ajudando, assim, a indústria exportadora a reconquistar mercados. O governo aumentou o gasto público e instruiu o Banco do Japão (banco central) a adotar uma política de afrouxamento monetário. Uma pesquisa NHK deu aprovação de 72% à Abenomics. O premier pretende também religar os reatores nucleares do país, desligados após a tragédia de Fukushima. O Japão depende de energia atômica para quase um quarto de suas necessidades energéticas.
Uma das características da instável política japonesa nos últimos anos foi a constante troca de primeiros-ministros, em função de os eleitores colocarem partidos diferentes no comando de cada uma das câmaras do Parlamento. O último governo estável foi o de Junichiro Koizumi (2002-2006). Com a maioria no Parlamento, Abe ganha horizonte político até 2016, salvo acidente de percurso que, no regime parlamentar, nunca pode ser descartado.
Na campanha, Abe mencionou uma estratégia nacional de crescimento que inclui reformas estruturais e desregulação, mas os detalhes só deverão ser conhecidos em setembro. Uma delas seria a reforma da previdência social, sobrecarregada pelo envelhecimento da população. O governo estuda propor o aumento da idade de aposentadoria de 65 para 70 anos. Defende, também, flexibilizar o rígido sistema trabalhista. Ambas medidas impopulares. Por isso, vão requerer elevado cacife político.
Abe, de 58 anos, tem também um lado preocupante: seu nacionalismo e a disposição de mudar a Constituição japonesa, pacifista, para ampliar a força e o alcance das Forças Armadas. Postura vista com desconfiança, levando em conta o passado bélico e imperialista do país, ela potencializa as tensões que já são altas com a China e as Coreias. Recentemente, Abe voou quase 2 mil quilômetros para visitar uma ilha remota próxima à área disputada com a China e declarou: “Não temos intenção de ceder nem uma polegada.” Essas disputas terão de ser solucionadas diplomaticamente, de forma multilateral.
Mas, depois da vitória no Senado, ele sinalizou que esta parte das reformas demanda mais tempo e que sua prioridade será mesmo a economia. É bom que assim seja, pois o crescimento mundial só tem a ganhar com a recuperação da terceira maior potência econômica. (Portal G1)