Aposentadoria: do trabalho para casa

Aposentadoria: do trabalho para casa



Foram anos de trabalho e, muitas vezes, os recém-aposentados podem acabar levando para casa o seu comportamento profissional. E, por terem passado mais tempo no ambiente corporativo do que em casa, em algumas situações, a nova postura pode acabar – sem querer – provocando conflitos familiares.

 Gilberto Katayama, do Núcleo Ser, é clínico geral e especialista em medicina do trabalho e saúde pública. Ele afirma que há diversos motivos para que o profissional, ao se aposentar, haja dessa forma. "Um comportamento usual, como, por exemplo, as ações no ambiente de trabalho, com que sempre se obteve sucesso agindo desta forma, é regularmente expressado de forma inconsciente, podendo ser inadequado à nova realidade ou ambiente. Isso acontece porque a pessoa não está consciente de sua nova vida ou realidade", explica Katayama.

 

Cargos de liderança

O psicólogo e consultor em recursos humanos Wyuk Ramos afirma que a psicologia costuma dizer que as estruturas se repetem.  "Para quem passou a vida toda comandando, gerenciando pessoas, tendo uma estrutura hierárquica a respeitar e manter, há uma tendência a reproduzir na família o mesmo comportamento. Essa repetição ocorre pois há dificuldade do ser humano em separar o ambiente familiar do trabalho", diz.

A dica de Ramos para quem passa por essa situação é lembrar que a família o quer como pai, como mãe e não como gerente ou chefe e que o momento da aposentadoria permite curtir a vida sem exigir tanto de si mesmo. Ele aconselha uma preparação de dois anos, no mínimo, para se aposentar, que inclui planejamento de novas atividades, atenção às finanças, novos objetivos de vida, cuidados com a saúde física e mental e participação da família.

 

Autoavaliação

coach Guilherme Rego, da Elevartis®, acredita que os aposentados já ouvem as críticas familiares referentes a determinadas posturas ainda quando estão na ativa.  Para ele, o que acontece é que, ao se aposentar, eles passam mais tempo com a família e, consequentemente, escutam com mais intensidade tais críticas.

"A pessoa precisa reconhecer que determinados comportamentos estão prejudicando o relacionamento familiar. Se isso acontece, então é mais fácil resolver. Seja com ajuda de um processo de coaching, de uma terapia (às vezes envolvendo toda a família) ou qualquer outro tipo que lhe convenha. É bastante comum que os novos aposentados acabem por buscar novas atividades profissionais (às vezes voluntárias) para manter a mente ativa e sua qualidade de vida em alta. O mais importante é a consciência", afirma Rego.

 

A família

coach afirma que, apesar de ser difícil, a família precisa entender que a aposentadoria mexe demais com o psicológico da pessoa.  Por isso, para ele é importantíssimo que a família dê todo o apoio e amor de que aquela pessoa precisará na nova fase da vida. 

Heloisa Fleury, psicóloga, com atuação em São Paulo (SP), comenta que os choques, em geral, ocorrem com os cônjuges e filhos. "A casa não está habituada com o aposentado presente durante todo o dia. Muito menos se ele quiser gerenciar a rotina da família, o que provavelmente é exercido por outro membro", explica.

Para a psicóloga, é preciso ter cuidado com o foco das atenções. A família precisa ter atenção com a mudança pela qual o recém-aposentado está passando e ajudá-lo a elaborar um novo projeto de vida.

"O risco é quando a família não está sensibilizada para a importância dessa fase da vida pela qual ele está passando e entra na briga, reagindo às tentativas de mudanças na casa e nas relações familiares", analisa.

 

 

 

18/02/2013
- PREVI
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