Pensionista da Funcef se sente “assaltado”

Pensionista da Funcef se sente “assaltado”

 

A cobrança de contribuição extra para a Funcef é descrita pelos pensionistas como um "assalto" aos anseios de uma aposentadoria tranquila. Temendo a cobrança de novos déficits e acusando investimentos com orientações políticas, os beneficiários se reuniram em grupos em redes sociais para defender seus direitos.

 

"Nós contribuímos a vida inteira para ter uma aposentadoria tranquila. Mas vamos pagar pelos erros de aplicação dos nossos recursos. É muito revoltante. Vamos pagar por 17 anos, é capaz de eu morrer pagando", relata Lilian Palmieri, de 58 anos.

 

Ela e o marido, Carlos, se aposentaram no último ano, após 34 anos de contribuição e serviços prestados à Caixa. Cada um teve descontado em seus benefícios mais de R$ 300. A preocupação, segundo eles, é com a possibilidade de novas cobranças nos próximos anos, e com o impacto na poupança para gastos futuros com a terceira idade.

 

"Ainda teremos de fazer mais aportes, em função de aplicações indevidas e outros rombos. Não fomos consultados se queríamos aplicar, ou de que forma, nessas empresas. Isso é que causa indignação", diz Carlos.

 

O investimento na Sete Brasil é um exemplo emblemático para explicar a origem do rombo no fundo de pensão que agora pesa para os participantes. A empresa foi criada em 2010 para gerenciar as sondas que seriam utilizadas pela Petrobrás na exploração da camada do pré-sal. A Funcef foi um dos vários fundos estatais que investiram na Sete Brasil e agora amargam perdas bilionárias. Estimase que, em relação a 2015, deve registrar perdas de R$ 1,3 bilhão com o projeto. Envolvida em denúncias na Lava Jato e pela má fase do setor de óleo e gás, a empresa entrou em crise e pediu recuperação judicial com dívidas superiores a R$ 18 bilhões.

 

"Não pode tirar dinheiro dos aposentados e colocar em uma empresa natimorta, gerada na falcatrua", desabafa a pensionista Gigi Reis, de 56 anos. "Essa cobrança é o atestado de fracasso dos investimentos feitos pelo último governo e do desrespeito e negligência com o dinheiro dos trabalhadores aposentados", completa.

 

Gigi t ambém demonstra preocupação com o Projeto de Lei 268, em tramitação na Câmara, que prevê mudanças na composição de diretorias e conselhos dos fundos de pensão. O governo interino suspendeu novas nomeações até a apreciação do texto. Hoje, a diretoria da Funcef tem um representante dos aposentados. Também há representantes eleitos nos conselhos de administração e fiscal. "Com a mudança, ficaremos à mercê das patrocinadoras, que têm voto de Minerva", diz.

 

Aposentada desde 2012, ela coordena um grupo na internet que estuda a gestão dos fundos e cobra de representantes informações sobre a situação financeira da administradora. "Começamos a suspeitar que as coisas não estavam bem e procuramos saber. Havia resistência na Funcef em dar explicações, ven- diam como se estivesse tudo um mar de rosas, fantasiaram resultados." Segundo a pensionista, além do aperto financeiro que poderá afetar gastos com plano de saúde, filhos e netos, a cobrança representa "um aviltamento do ponto de vista psicológico". "Tinha a ilusão de que teria paz na aposentadoria, agora não sei como pagar essa obrigação até o fim da vida." Ainda na ativa, o servidor Nilton Castro, de 57 anos, calculou que terá de aportar R$ 57 mil no total, além da contribuição mensal de 12% sobre seu salário. "Não são dois meses, são 17 anos. É o valor de um carro que estou pagando para alguém que usou indevidamente a minha aposentadoria. Não foi crise, foi má gestão", completa.–

 

PARA ENTENDER

 

Rombos nos fundos

 

Além da Funcef, outros fundos de pensão das principais empresas estatais devem fazer cobranças adicionais aos participantes nos próximos anos. Postalis, dos Correios, Petros, da Petrobrás, e Previ, do Banco do Brasil, também apresentaram déficit técnico nos últimos dois anos.

 

Ao todo, o rombo dos fundos de pensão pode passar de R$ 40 bilhões. Os números de 2015 ainda não foram finalizados e devem ser entregues à Previc, órgão que regula o setor, até agosto.

 

O rombo se refere ao valor que os fundos deveriam pagar se fossem cobrados, hoje, por todos os benefícios.

 

As normas para a cobertura dos déficits foram revistas em dezembro. As novas regras ampliaram o teto de déficit que os fundos poderiam atingir para evitar aportes adicionais. Além disso, ofereceram maior prazo para os fundos equilibrarem suas contas, dando fôlego para as controladoras.


09/06/2016
- O ESTADO DE S. PAULO - SP
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