O poderoso fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil vem se transformando numa espécie de marca onipresente nos grandes negócios do País. O caso Perdigão/Sadia não fugiu à regra. E, dependendo do desfecho da oferta pública de ações prevista para o próximo mês, pode ampliar ainda mais a exposição da Previ em investimentos na bolsa de valores, que hoje beira os 60%. Uma relação tão alta, que o fundo, que planejava desinvestir R$ 1,7 bilhão este ano, mudou sua meta para R$ 3 bilhões, por causa da melhora do mercado, que elevará ainda mais o capital em títulos e ações. Administrando um superávit de R$ 32 bilhões e participando do controle de nove grandes empresas, tendo a Vale no topo da lista, ele está realmente rindo à toa. O ex-dirigente do Sindicato dos Bancários acostumou-se a participar de negócios bilionários. Mesmo com todas as perdas provocadas pela crise econômica e pela despencada da bolsa desde então, a Previ é dona de uma carteira de investimentos de R$ 121,5 bilhões, sendo R$ 72,4 bilhões movimentados na Bovespa. Rosa diz que o negócio com a Sadia foi uma oportunidade, mas também fez parte de uma estratégia de crescimento da Perdigão (onde os fundos de estatais detêm 36% do capital) e acredita que novas consolidações de mercado devem ocorrer. Mas não tem pressa em buscar outras apostas. "Temos de avaliar o que é realmente oportuno", diz o Sr. Previ A seguir, os principais trechos da entrevista. Jornal: Como a Previ pretende aproveitar a "liquidação" da crise: com capital pulverizado ou aumentando a participação no controle de empresas? Rosa: No geral, preferimos criar participações mais líquidas, menos vinculadas a blocos de controle, que nos deem alternativas mais fáceis de desinvestimento. Mas isso varia de participação a participação. De qualquer forma, não estamos vendo exatamente uma liquidação de mercado. Há algumas oportunidades, mas no geral as empresas estão sólidas, estão bem. Jornal: A Previ continua com exposição grande em renda variável? Rosa: É incrível, mas mesmo com a crise muito aguda, como a que está ocorrendo, ainda assim estamos superavitários e desenquadrados. Hoje estamos na casa de 60% em ações e com R$ 32 bilhões de superávit. Estamos bem. Não há problema com relação a esses ativos, temos pelo menos até 2014 para fazer o enquadramento (às regras de investimentos da Secretaria de Previdência Complementar). Não tem pressa. Estamos bem e temos tempo para avaliar negócios que realmente se apresentem oportunos. Jornal: A Previ pretende adotar um padrão de governança em todas as empresas que controla? Previ: A gente depende dos outros sócios. Não podemos fazer nada sozinhos. Vemos as regras gerais do Novo Mercado como as melhores. Mas isso não é também uma lei absoluta. Percebemos que não há uma característica padrão entre as empresas que entregam bons resultados. Algumas são empresas familiares, outras estão no novo mercado. Jornal: Há algum tempo a Previ não anuncia uma grande venda de ações. A estratégia de desinvestimento mudou? Rosa: De forma alguma. Nos últimos quatro anos vendemos, aproximadamente, R$ 10 bilhões em participações. A lógica da venda de ativos é ditada pelo passivo atual. É incrível, mas mesmo com a crise muito aguda, como a que está ocorrendo, ainda assim estamos superavitários. Uma prova de solidez de nosso plano de investimentos é que passamos o pior da crise superavitários. Hoje, o superávit é de R$ 32 bilhões. Já chegou a R$ 52 bilhões no final de 2007. Para este ano, havíamos projetado desinvestir R$ 1,7 bilhão. Como o mercado melhorou mais rápido, o que elevará essa participação em renda variável, acredito que chegaremos ao fim do ano com desinvestimento em torno de R$ 3 bilhões. Jornal: Há ainda grandes investimentos problemáticos? Rosa: Muito pouca coisa. A maioria foi equacionada. Fizemos uma redução drástica de ativos com perfil de grande risco. Temos hoje em carteira em torno de R$ 300 a R$ 400 milhões neste grupo. Não é muito, comparado ao nosso portfólio. Já chegamos a ter entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões de ativos com perfil de dívida inadequado, incluindo aí a BrT, pela qual vamos receber R$1,6 bilhão. Jornal: Juros da economia estão entrando em outro patamar. Isso pode prejudicar a remuneração dada pela Previ? Rosa: Nossa visão sobre isso é positiva. A taxa de juros reflete os bons fundamentos da economia. Em geral, a carteira dos fundos reflete a valorização de seus ativos em renda variável, imóveis e outras alternativas. Temos de buscar rentabilidade em outros segmentos. Já temos uma política mais semelhante aos fundos lá de fora, que têm carteira muito diversificada, ao contrário dos fundos brasileiros, que sempre se concentraram muito em renda fixa e títulos de governo. A tendência é manter essa diversificação. Essa é a regra básica. SAULO SARTRE UBALDINO
Fonte: Jornal de Brasília/ANABB GOIÁS
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