O Banco Central decide no início da noite o rumo do juro básico da economia. Entre economistas, prevalece a aposta de que o movimento iniciado em agosto deve continuar e a taxa Selic será reduzida para minimizar o efeito da crise e evitar uma freada brusca da economia brasileira. Mesmo com a inflação acima da meta, a maioria prevê corte em 0,5 ponto porcentual, para 11,5% ao ano.
Ao contrário da surpresa com a redução em agosto, o mercado agora parece mais coeso e crê no corte da taxa porque há o reconhecimento de que o BC está mais ousado e disposto a aceitar a inflação um pouco mais alta para não prejudicar a atividade econômica. Diante disso, há, até mesmo, uma parcela que prevê redução ainda mais forte, de até 1 ponto porcentual.
Se confirmado, esse será o segundo corte da Selic feito pelo BC no governo de Dilma Rousseff. A redução dos juros – fato que diminui o custo do crédito e incentiva o crescimento econômico – faz parte de uma ampla estratégia do governo de reação à crise financeira internacional.
Na visão do BC, os problemas na Europa e nos Estados Unidos serão mais longos que a crise de 2008 e terão como efeito a queda da inflação, inclusive no Brasil. Por isso, a instituição acredita que os preços vão desacelerar. Os críticos, no entanto, avaliam que o BC corta o juro por causa da pressão política da presidente Dilma e do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Nos últimos 12 meses, o índice oficial de inflação, o IPCA, acumula alta de 7,31%. A velocidade está bem acima do aceitável no regime de metas, que prevê alta de 4,5% com tolerância máxima que permite ao indicador chegar em 6,5%. Diante dos números, o BC defende que os índices começarão a melhorar a partir de outubro e o acumulado em 12 meses deve cair até dois pontos porcentuais nos próximos meses.
Vazamento. Horas antes da reunião do comitê, o BC saiu a público para negar que decisões que envolvem a Selic vazam para o mercado. A nota divulgada ontem defende, de forma inédita, o sigilo que cerca a instituição e tenta afastar comentários sobre suposto vazamento de informação. Esses esclarecimentos acontecem dias após a decisão da Comissão de Valores Mobiliários de investigar operações atípicas nos pregões que antecederam a inesperada redução do juro em 31 de agosto.
No texto distribuído antes da abertura dos negócios de ontem, o BC afirma que "a taxa Selic somente é discutida em reunião reservada no segundo dia" do encontro, que acontece a cada 45 dias. No fim da reunião, a decisão sobre o juro "é imediatamente informada a toda a sociedade. Assim, não é possível o conhecimento prévio da decisão", defendeu o BC.
O governo age com cautela. Alguns atribuem a especulação ao próprio mercado, especialmente aos que perderam dinheiro com o juro mais baixo e acusam os que lucraram de suposta informação privilegiada. Há também a hipótese de que os boatos fazem parte do "fogo amigo" para dificultar, ainda mais, a construção da credibilidade do novo BC e também do seu presidente, Alexandre Tombini.
Investigação. Os rumores começaram na sexta-feira, quando a imprensa noticiou que a CVM investiga movimentações atípicas no mercado de juro futuro registradas na semana em que o Copom reduziu o juro. A autarquia não confirma, mas a investigação estaria de olho especialmente num grande banco de investimento que teria feito apostas de última hora na queda da Selic. Na segunda-feira, a boataria ganhou mais força após o Diário Oficial publicar a exoneração de uma motorista do Ministério da Fazenda "por revelar segredo do qual se apropriou em razão do cargo e por valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem".