Investimento responsável rende mais

Investimento responsável rende mais

Fundos que investem em sustentabilidade ou governança corporativa rendem, em média, 10,54% em 12 meses. No mesmo período, Bolsa de Valores de São Paulo registrou alta de 4,5%; opções, porém, ainda são restritas

GIULIANA VALLONE
DE SÃO PAULO

Em tempos de preocupação com um modo de vida mais “sustentável”, os investimentos em empresas socialmente responsáveis ganham força no Brasil.

E, para melhorar o cenário para quem quer direcionar seus recursos para este tipo de aplicação, eles têm sido destaque de rentabilidade nos últimos 12 meses.

Dados da Anbima (associação das entidades do mercado financeiro) mostram que, na média, fundos enquadrados nas categorias Sustentabilidade e Governança Corporativa tiveram retorno de 10,54% no período de um ano.

O Ibovespa, principal indicador da Bovespa, subiu 4,5%, no mesmo período.

“Esse mercado tem crescido porque o interesse nesse tipo de investimento também é ascendente. E os produtos surgem à medida que a demanda cresce”, diz Sônia Favaretto, diretora de Sustentabilidade da BM&FBovespa.

Hoje, a Bolsa tem quatro índices relacionados à responsabilidade social: ISE (de Sustentabilidade das Empresas), ICO2 (Carbono Eficiente), IGC (Governança Corporativa) e IGCT (Governança Corporativa Trade).

Ainda nesse ano, a Bolsa terá três ETFs (fundos cujas cotas são negociadas em Bolsa), vinculados aos índices ISE, IGC e ICO2.

Mas, apesar de apresentarem bons rendimentos, os investimentos “responsáveis” ainda têm espaço bastante reduzido no mercado de capitais brasileiro.

FATIA PEQUENA

Os números da Anbima mostram que esses fundos atingiram patrimônio líquido de R$ 1,625 bilhão ao final de maio, menos de 1% do total do setor no país.

Nos EUA, os investimentos socialmente responsáveis correspondem a cerca de US$ 3,07 trilhões, segundo levantamento feito pelo Fórum de Investimento Sustentável e Responsável em 2010.

Cerca de US$ 1 em cada US$ 8 investidos no país está envolvido em algum investimento responsável. O número de fundos chega a 493.

“O público desse tipo de investimento ainda é muito restrito. Mas ele veio para ficar”, diz José Francisco Cataldo, da Ágora Corretora.

Fonte: Folha de S. Paulo

Fundo do bem será maioria nas gestoras

Patrimônio de “aplicações responsáveis” deverá atingir US$ 26,5 trilhões, segundo consultoria holandesa. Nos EUA, fundos do bem já administram mais de US$ 3 trilhões das poupanças; no mundo, beiram US$ 5 trilhões

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Os fundos de investimento responsáveis, que selecionam empresas com programas ambientais e com foco social, deixarão de ser alternativos para se tornar o principal negócio das grandes gestoras de recursos.

Esses fundos deverão atingir um patrimônio equivalente a US$ 26,5 trilhões até 2015 -entre 15% e 20% de todo o setor de fundos de investimento- segundo estudo da consultoria holandesa Robeco and Booz&Co.

A consultoria ouviu 50 gestoras que representam mais de US$ 5 trilhões em investimentos administrados.

Nos EUA, os fundos do bem já administram mais de US$ 3 trilhões das poupanças -12% do total, segundo o Fórum de Investimento Sustentável e Responsável. No mundo todo, devem beirar perto de US$ 5 trilhões.

A demanda ganha coro especialmente nos fundos de pensão de servidores públicos e junto a investidores de longo prazo.

Esses fundos atendem investidores que, na hora de decidir onde aplicar a economia de toda uma vida, preferem se associar a empresas que abrem mão de parte do lucro para poluir menos, tratar melhor seus resíduos e patrocinar melhorias sociais na comunidade onde estão sediadas, além de tratar bem funcionários, fornecedores e acionistas minoritários.

E tudo isso não pode ficar só no discurso ou servir só como marketing para alavancar as vendas.

MARKETING

Segundo Hugo Penteado, responsável pela área de investimentos sustentáveis do Santander, para ser considerada uma “empresa do bem”, elas devem se destacar e ficar acima da média da avaliação do setor em que atuam.

“É impressionante o grau de interesse das pessoas e o nível das perguntas quando fazemos apresentações sobre esses investimentos. Essa é uma demanda do público investidor”, disse Penteado.

Ancião da área sustentável no país, Penteado administra o fundo Ethical, do antigo Banco Real, aberto em 2001.

Desde a abertura até maio de 2010, o Ethical já rendeu 570,4%, enquanto o Ibovespa subiu 409,9%.

CULTURA

Para Penteado, a cultura corporativa em relação à sustentabilidade mudou bastante desde 2001. Ele conta que, diante da demanda dos investidores e da sociedade, as empresas “se adaptaram”.

“No começo, a gente sentia dificuldade para selecionar os investimentos. Agora, vemos várias indústrias querendo informação para trabalhar essa questão. É surpreendente a adaptabilidade das empresas”, disse.

Fonte: Folha de S. Paulo

Valor investido pode ir para comunidades

DE SÃO PAULO

Entre os fundos engajados, os que mais crescem são os que desenvolvem investimentos em comunidades carentes, levando microcrédito e viabilizando obras de interesse social.

Alguns desses fundos também investem em educação para adultos e em programas de retorno de mulheres ao mercado de trabalho.

Esses fundos já administravam no ano passado US$ 42 bilhões nos Estados Unidos -68% mais do que no ano anterior e dez vezes mais do que em 1995.

Segundo os gestores, tragédias como a do furacão Katrina e o terremoto no Haiti estimularam a adesão de novos investidores aos fundos engajados.

O movimento perdeu fôlego entre o final de 2008 e início de 2009 por conta da crise nos mercados, mas retomou com força a rota de crescimento logo depois.

Além de ser o segmento que mais cresce na indústria de gestão de ativos, os fundos com foco ambiental, social e em governança corporativa ganham adeptos todos os anos com a qualificação de veículos de investimento já existentes.

O número de fundos americanos considerados “engajados” aumentou 90% entre 2007 e 2010, saltando de 260 para 493.

Em 1995, apenas 55 fundos tinham essa característica, segundo dados do Fórum de Investimento Sustentável e Responsável.

 

04/07/2011
- Folha de S. Paulo
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