A bolsa brasileira chegou ontem a seu menor patamar em mais de seis anos, em meio a uma combinação de mau humor externo com a preocupação doméstica sobre o risco de rebaixamento da nota soberana por mais uma agência de classificação de risco, além da continuidade das incertezas no cenário político.
O Ibovespa acompanhou ontem a forte baixa dos índices acionários em Wall Street e registrou seu sétimo pregão seguido no vermelho, pressionado principalmente pelos papéis da Vale e da Petrobras.
No fim do pregão, o Ibovespa marcava perda de 1,95%, aos 43.956 pontos, com volume de R$ 5,420 bilhões. Trata-se do menor patamar da bolsa brasileira desde 7 abril de 2009, quando marcou 43.824 pontos.
Relatório de análise gráfica da Itaú Corretora já alertava na manhã de ontem que o índice segue em tendência de baixa firme. Com a perda do "fortíssimo suporte" de 44.100 pontos, o mercado ganha mais força para recuar, rumo aos 42.700 pontos, e depois, aos 40 mil pontos, o que representa um recuo de 9% frente ao patamar atual, afirma o analista técnico Marcello Rossi no documento.
O mau humor nos mercados internacionais, que contaminou os ânimos por aqui, teve início após a China divulgar uma nova rodada de dados fracos da sua economia. Os lucros das maiores empresas do setor industrial chinês recuaram 8,8% em agosto, ante igual mês do ano passado, após queda de 2,9% em julho. O fraco resultado de agosto está em linha com a desaceleração da atividade industrial e a contínua queda dos preços, comenta a consultoria MCM em nota. Os destaques de baixa foram os setores automotivo, petrolífero e químico.
No ambiente doméstico, investidores seguem apreensivos com a aprovação das medidas de ajuste fiscal pelo Congresso. No fim da tarde, declarações do diretor da Fitch no Brasil, Rafael Guedes, acentuaram ainda mais a aversão ao risco dos investidores. Segundo Guedes, o Orçamento de 2016 enviado recentemente pelo governo ao Congresso, com previsão de déficit de 0,5% do PIB, coloca nova pressão sobre o rating soberano. Por outro lado, Guedes disse que a Fitch não costuma cortar dois degraus de uma vez só, afastando o risco de o Brasil perder o grau de investimento pela agência de imediato.
Outra fonte de estresse nos mercados foi o setor de mineração, com destaque para as ações da Glencore, que caíram 29,5% em Londres. Segundo o Credit Suisse, um relatório do banco de investimentos Investec alertou para a dramática situação das empresas ligadas ao setor na Europa.
No Brasil, entre as principais ações do Ibovespa, Vale PNA (-7,37%) concentrou as perdas, acompanhando a forte queda das mineradoras no mundo. Rio Tinto, por exemplo, fechou em baixa de 4,78%, e BHP Billiton recuou 6,03% na bolsa de Londres. Petrobras PN (-5,57%) também sentiu a pressão sobre as commodities. O petróleo Brent recuou 2,6% em Londres, enquanto o barril do tipo WTI perdeu 2,8% em Nova York.
As ações dos bancos também terminaram no vermelho: Bradesco PN fechou em baixa de 2,49%, Banco do Brasil ON recuou 4,98%, Santander Unit perdeu 2,14% e Itaú PN caiu 0,07%. O Bank of America Merrill Lynch (BofA) divulgou relatório com perspectivas piores para o setor.
As altas que houve na bolsa ontem foram brandas. No topo do Ibovespa, terminaram Rumo ON (0,86%), Embraer ON (0,71%) e Ecorodovias ON (0,68%). Na outra ponta, ficaram Oi PN (-7,59%), Vale ON (-7,47%), Vale PNA e Smiles ON (-6%).
O BTG Pactual revisou para baixo – pela segunda vez em 2015 – as projeções de lucro para as empresas brasileiras neste ano e no próximo. Apesar dos cortes, o banco ainda prevê, na média, crescimento de 12,8% nos resultados de 2015 em relação aos números de 2014, e aumento de 12,7% nos lucros em 2016.
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