Fundos de pensão brasileiros se preparam para realizar a primeira aplicação conjunta no exterior. Nove fundações querem aportar entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões em ações no mercado internacional ainda neste ano. Outras fundações devem fazer alocações a partir do ano que vem. É o que foi indicado em reunião realizada na semana passada pelo grupo de fundações que se uniram para aplicar lá fora.
Os fundos de pensão também avançaram no modelo em que o investimento vai ser feito. Eles já tinham escolhido o administrador dos fundos locais (BB DTVM) e as gestoras dos fundos lá fora (J.P. Morgan, Franklin Templeton, Schroders e BlackRock). Agora bateram o martelo sobre o formato da aplicação: serão quatro fundos locais e cada um vai investir em um fundo de cada gestora estrangeira.
"A escolha da estrutura foi pelo modelo mais democrático", diz Renê Sanda, diretor de investimentos da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Dessa forma, cada fundação pode escolher os gestores que quiser. A outra estrutura estudada foi a de criar apenas um fundo local que investiria nos fundos das quatro gestoras selecionadas lá fora. "Já temos os quatro fundos locais montados", diz Carlos Massaru Takahashi, diretor-presidente da BB DTVM. Segundo ele, os fundos vão ter taxa de administração inferior a 1%.
A Previ deve investir no máximo em três fundos, um valor de até R$ 80 milhões em cada, segundo o gerente executivo de mercado de capitais da fundação, Antônio Benevides. Com patrimônio de R$ 170 bilhões, a Previ já tem previsto em sua política de investimento a aplicação no exterior e, agora, precisa apenas da aprovação da diretoria executiva para aportar os recursos.
A Fundação Cesp e a Fundação Itaipu (Fibra) também fazem parte dessa primeira turma. Segundo Silvio Rangel, da Fibra, a fundação tem a autorização de sua política de investimentos para aplicar até 1% de seus recursos (R$ 2,5 bilhões) no exterior, o equivalente a R$ 25 milhões. Agora, é necessário a aprovação do comitê de investimentos e do conselho deliberativo da fundação. "Acredito que até outubro teremos uma definição", afirma. Ele explica que esse nível de governança é necessário para ativos em que a fundação vai investir pela primeira vez.
A Previ vem olhando para esse tipo de investimento desde o ano passado e, por causa da limitação da norma do setor de que cada fundação pode ter participação de até 25% de um fundo, tomou a iniciativa de reunir vários fundos de pensão para um workshop com gestores estrangeiros. De 14 fundações, cerca de 11 mostraram interesse no investimento. "Há uma escassez de ativos financeiros no Brasil com retorno condizente com a meta de rentabilidade dos fundos de pensão", diz Sanda.
Segundo ele, é natural que esse primeiro investimento no exterior seja feito por meio de aplicações mais simples de serem aprovadas pelos órgãos de governança das diversas fundações. Para Sanda, com o tempo e a performance esperada, o próximo passo é aplicar em outros segmentos, como renda fixa e, mais para frente, private equity. "Com o tempo, a questão da fronteira [geográfica] vai deixar de ser importante e só teremos a segmentação por classe de ativo."
SulAmérica quer atrair fundações ao exterior
A SulAmérica Investimentos fechou parceria com a gestora americana Pantheon para estruturar um fundo de private equity, que vai investir em participação de empresas fora do país, voltado para o investimento de fundos de pensão brasileiros. O fundo está programado para ser lançado entre o fim deste ano e começo do próximo, e vai aplicar em companhias americanas, europeias e asiáticas.
"Estávamos procurando há algum tempo um parceiro lá fora de olho na demanda dos investidores institucionais brasileiros", diz Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos. A Pantheon é uma gestora especializada em private equity que tem US$ 24 bilhões (cerca de R$ 55 bilhões) em ativos sob gestão, com aproximadamente 400 investidores institucionais na base de clientes.
Neste ano, a casa já levantou recursos em países latino-americanos, como Chile, Colômbia e Peru, segundo Maureen Downey, sócia-diretora da Pantheon. No Brasil, a gestora americana já comprou participação em algumas empresas e tem outras no radar. Agora, procura também captar recursos.
Fechado o acordo operacional entre as gestoras, elas vão agora fazer "road shows" para apresentar o fundo para as fundações, além de ações educativas para explicar a estrutura e os fundamentos do investimento, programa que a Pantheon oferece para seus investidores em outros países.
A gestora da SulAmérica tem hoje R$ 18,8 bilhões sob gestão, sendo 70% desse volume de terceiros, e aproximadamente 160 fundos de pensão na base de clientes.
O fundo local será criado e gerido pela SulAmérica e vai comprar cotas de fundos escolhidos pela Pantheon lá fora. Segundo Mello, serão selecionados tanto fundos em estágio inicial quanto carteiras mais maduras. A aplicação em cotas de fundos já em operação conta com a vantagem de reduzir o efeito da chamada "curva J" – que representa o ciclo de um fundo tradicional de private equity, negativo durante a fase de investimentos e positivo nos anos de venda das participações. "Com isso, o fluxo de caixa vai vir mais cedo", diz Maureen.
O fundo não vai fazer hedge (proteção) cambial. "Esse investimento também traz uma diversificação em moeda para um mercado que hoje só investe em real", diz Mello. Ele afirma que a volatilidade do câmbio é mitigada por se tratar de uma aplicação de longo prazo. "Estamos falando de um investimento com estrutura de sete a 10 anos", diz o gestor.
Segundo dados da Abrapp, associação que reúne os fundos de pensão no país, dos R$ 640 bilhões em recursos, as fundações alocam apenas 2,3% em private equity e 0,1% em aplicações no exterior. Pela regulamentação atual, os fundos de pensão podem investir até 10% de seu patrimônio fora do país. No Chile, por exemplo, as fundações investem cerca de 40% de seus recursos no exterior.
Os fundos de pensão brasileiros receberam o aval para aplicar no exterior em 2007, com um percentual menor e menos alternativas de veículos de investimentos do que hoje, mas pouco foi feito de lá para cá. "Naquela época o Brasil ainda tinha taxas de juros elevadas e, por isso, as fundações não tinham necessidade de estudar alocações no exterior", lembra Mello.
Com um cenário totalmente diferente – taxa de juros real em patamar baixo, renda fixa enfrentando grande volatilidade e bolsa local com perda superior a 10% no ano -, um grupo de fundações lideradas pela Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, prepara o primeiro aporte em fundos de ações estrangeiros até o fim deste ano (leia mais abaixo).
A gestora da SulAmérica também aproveita este movimento para lançar o seu fundo. "O pontapé desses grandes fundos de pensão mostra para o setor que essa estratégia de alocação é importante para passivos de longo prazo", diz Mello. A SulAmérica é uma empresa de capital aberto e, por isso, Mello não pode dar estimativas de quanto espera que o fundo capte.
Segundo Maureen, os fundos de pensão de outros países investem em média 10% de seus recursos em aplicações alternativas, o que inclui private equity e fundos de hedge. Segundo Mello, este não é um movimento que vai acontecer do dia para a noite, mas que essa é a hora de começar. (Thais Folego – Valor Online)