FMI aponta riscos para China e cobra reformas /Outras Notícias

FMI aponta riscos para China e cobra reformas /Outras Notícias

Modelo de crescimento está esgotado, diz Fundo 
O Fundo Monetário Internacional exortou a China a não retardar reformas necessárias em seu mercado financeiro e no padrão de consumo doméstico, sob pena de ter seu crescimento econômico severamente reduzido. 
O alerta, que dá cinco anos como prazo para uma mudança efetiva, está no raio-X anual que o FMI faz da economia chinesa. Nele, afirma que o fôlego do atual modelo, excessivamente dependente de exportações e investimentos em infraestrutura, "está se esgotando". 
Em meio à desaceleração dos últimos meses, Pequim tem reiterado que tolerará um avanço menor do PIB e endossado o compromisso com reformas para amparar a economia em base mais sólida. 
O avanço do PIB no segundo semestre, de 7,5% ante o mesmo período de 2012, confirmou a desaceleração. 
No relatório, o FMI mantém a projeção de crescimento do PIB chinês para este ano em 7,8%, acima da meta estabelecida por Pequim (7,5%). 
Um dos riscos apontados pelo organismo é o sistema financeiro chinês, formado em grande parte por um mercado paralelo em que falta transparência e regulação. 
Na estimativa do Fundo, a dívida total do governo chegou em 2012 a 45% do PIB se levados em conta empréstimos por autoridades locais, o dobro do cálculo oficial. (MARCELO NINIO – Folha de S.Paulo)

G-20 se pergunta: e se o Japão não crescer? 


O FMI destacou-os em seu último relatório como os três maiores riscos para a economia mundial atualmente, e eles serão tema da reunião deste fim de semana do G-20, em Moscou: 1. A saída nos EUA do estímulo monetário, que vem mexendo com os mercados há dois meses; 2. A desaceleração na China, especialmente depois que o ministro das Finanças chinês falou em crescimento abaixo de 7%; 3. E o Japão. Japão? O que tem o Japão? 
O Japão está fazendo uma das mais arriscadas manobras de política econômica dos últimos tempos. Se der certo, pode recolocar o país no rumo de crescimento, depois de 20 anos de estagnação, e encerrar um prolongado período de deflação. 
Mas e se der errado? Nas palavras de um sherpa do G-20 (aqueles diplomatas que preparam tudo para os líderes assinarem): se não der certo, "o Japão pode quebrar, com um impacto muito forte para a Ásia e para o mundo". Esse negociador, de um país rico, pediu para não ser identificado. 
O programa japonês já tem um nome consagrado: é a chamada Abenomics, numa referência à política econômica introduzida pelo governo do novo primeiro-ministro, Shinzo Abe, que assumiu o cargo em dezembro do ano passado. 
O plano de Abe se baseia num tripé: políticas monetária e fiscal expansionistas e reformas estruturais para favorecer os investimentos. Por enquanto, houve muito expansionismo monetário e fiscal e poucas reformas. Mas isso pode mudar com as eleições deste domingo, quando o partido de Abe deve recuperar a maioria no Senado. 
Em abril, já sob a direção de Haruhiko Kuroda, o Banco do Japão (o BC japonês) começou o agressivo programa de afrouxamento monetário, dobrando (para US$ 70 bilhões por mês) a compra de títulos do governo que estavam com o sistema financeiro. O objetivo é irrigar o mercado e estimular a concessão de crédito. O governo ampliou ainda o já elevado gasto público (o déficit fiscal este ano deve chegar a 10,5% do PIB) para manter aquecida a economia. 
Como resultado, o iene despencou 21% em relação ao dólar nos últimos 12 meses, o que favorece as exportações japonesas, para irritação dos parceiros comerciais, em especial de concorrentes próximos, como a Coreia do Sul e a China. 
Se não crescer, Japão pode quebrar, com um forte impacto global 
O BC espera que essa combinação comece a elevar os preços ao consumidor para a meta de 2% ao ano. Em maio (último dado disponível), o preços ficaram estáveis, após sete meses seguidos de deflação. 
A Abenomics divide economistas. O Prêmio Nobel Paul Krugman elogiou o plano, comparando-o ao programa de estímulo fiscal do Fed, nos EUA, e criticou as autoridades japonesas por terem demorado a agir. 
Já o economista americano Martin Feldstein criticou o plano e previu (em artigo publicado pelo Valor em 21/01) que, ao elevar o déficit e a dívida, ele vai minar a confiança no país e provocar um aumento das taxas de juros de longo prazo. Isso é perigoso pois a dívida japonesa é a maior entre as principais economias, em 245% do PIB. A Grécia, tão castigada pelos mercados financeiros, têm dívida de 179% do PIB. Os EUA, de 109%. 
Se a conta de juros do Japão subir muito, pode ameaçar a solvência do país e levar a uma reestruturação da dívida. 
Ainda não há um resultado claro da Abenomics. O PIB do segundo trimestre deve crescer 2,8%. As exportações subiram, mas voltaram a cair, apesar do iene fraco (veja gráfico). A bolsa disparou, mas as empresas não parecem confiantes o bastante para voltar a investir. 
As taxas de juros de longo prazo subiram desde abril, mas economistas alegam que isso ocorreu devido à perspectiva de fim do estímulo fiscal nos EUA, fator que o Japão não controla. 
Há outros ventos contrários. O país vive uma crise energética desde o fechamento das usinas nucleares, após o acidente de Fukushima, em 2011. Isso elevou o preço da energia e desestimula investimento e produção. Muitos economistas destacam ainda a dinâmica demográfica negativa, com queda da população e alta do número de idosos, o que tende a pesar sobre a produção, o consumo e a elevar o gasto público. Uma em cada quatro pessoas no Japão terá mais de 65 anos em 2014, contra só 9,6% na China e 14,2% nos EUA, segundo dados do Censo americano. 
A chance de sucesso da Abenomics dependerá ainda de se os japoneses continuarão gastando mesmo depois do aumento do imposto sobre consumo, que subirá de 5% para 8% em 2014. Na última vez em que o imposto foi elevado, em 1997, houve forte retração do consumo, que jogou o país numa recessão. Essa alta pode ser adiada por Abe, após as eleições, mas nesse caso ele dificilmente conseguirá manter a promessa de reduzir o déficit público. 
"Se o Japão conseguir crescer, a receita fiscal vai subir e a relação dívida/PIB vai cair, iniciando um círculo virtuoso. Mas, se não crescer, o Japão pode quebrar, com um impacto muito forte para a Ásia e para o mundo. Por isso, há muita ansiedade com relação ao programa de estímulo japonês", disse o sherpa do G-20. Essa ansiedade não será expressa em público pelo grupo, para evitar aumentar a desconfiança em relação à aposta japonesa.  (Humberto Saccomandi – Valor Online)

Quantas recessões na Europa? 

A divulgação dos dados revisados do PIB pelo Birô de Estatísticas Nacionais do Reino Unido no fim de junho pareceu ser uma ocasião para comemoração, porque o crescimento ainda não tinha sido negativo por dois trimestres consecutivos, no inverno (hemisfério norte) de 2011-12, como se julgava anteriormente. A questão, conforme noticiado, é que uma segunda recessão no Reino Unido após a crise financeira mundial em 2008 (um "duplo mergulho recessivo") agora foi apagada dos livros de história e o governo conservador poderia ficar satisfeito a partir disso. Mas não deveria. 
A pergunta certa não é se houve dupla (ou tripla) recorrência recessiva – a questão é se houve uma só grande recessão. Como os britânicos sabem muito bem, sua economia, desde o ponto mais baixo em meados de 2009, ainda não se reergueu sequer à metade do caminho para fora da depressão: o PIB ainda está 4% abaixo de seu pico anterior. Para início de conversa, se os países europeus tivessem empregado critérios semelhantes aos utilizados nos EUA para rotular os ciclos econômicos, a Grande Recessão no Reino Unido muito possivelmente nem teria sido "homologada". 
Relatórios recentes segundo os quais a Irlanda entrou em uma nova recessão no início de 2013 também seriam interpretados de maneira distinta, caso fossem aplicados critérios americanos. O PIB da Irlanda desde 2009 recuperou pouco mais da metade do terreno perdido entre o pico de 2007 e o fundo do poço, dois anos depois. De acordo com a metodologia americana, a Irlanda não teria escapado à recessão inicial. Conforme a visão corrente, foram anunciadas uma minirecuperação após outra, mas depois foram consideradas como duplos mergulhos recessivos. 
Os países europeus usam uma regra simples: uma recessão é declarada após dois trimestres consecutivos de queda do PIB. Nos EUA, o árbitro é a NBER, que não usa regra quantificável para a determinação dos altos e baixos na economia 
De modo semelhante, foi recentemente anunciado que a Finlândia tinha entrado em sua terceira recessão desde a crise financeira mundial. Mas seria mais apropriado descrever a segunda como continuação da primeira. 
A Itália, julgada de acordo com padrões americanos, está mergulhada numa recessão há cinco anos: a recuperação em 2010 foi tão morna que em 2011 a economia mal tinha recuperado um terço da produção perdida após a início da recessão. E a nova crise econômica foi grave: o PIB italiano está, agora, cerca de 8% abaixo de seu nível de 2008. 
Essas questões de mensuração talvez soem como detalhes técnicos menores, mas podem ter implicações reais significativas. Então, quais são as diferenças entre os critérios europeu e americano para "homologar" recessões? 
De modo geral, os economistas definem uma recessão como um período de atividade econômica em declínio. Os países europeus, como a maioria, usam uma regra simples: uma recessão é declarada após dois trimestres consecutivos de queda do PIB. 
Nos EUA, o árbitro de quando recessões começam e terminam é a comissão de Datação de Ciclos Econômicos do Birô Nacional de Pesquisas Econômicas (NBER, em inglês). Diferentemente dos países europeus, a Comissão não emprega nenhuma regra quantificável para a determinação dos altos e baixos na economia americana. A Comissão considera outros indicadores, além dos números mais recentemente reportados sobre o PIB, inclusive o emprego e uma diversidade de outros indicadores, em parte porque as medidas de produção econômica são frequentemente sujeitas a erros e revisões. 
Além disso, a Comissão não vê nada de especial na "regra prática" baseada em dois trimestres. Por exemplo, de modo geral, a Comissão diria ter havido uma recessão se o PIB tivesse caído muito em dois trimestres, mesmo que tivessem sido separados por um trimestre de crescimento fraco. Da mesma forma, se um período de desaquecimento fosse posteriormente seguido por vários trimestres de crescimento positivo, a Comissão não anunciaria, necessariamente, que a recessão havia terminado; a instituição esperaria até que a economia se recuperasse suficientemente para que uma desaceleração hipotética futura fosse considerada uma nova recessão, e não uma continuação da primeira. 
Além disso, a Comissão não vê nada de especial na "regra prática" baseada em dois trimestres. Por exemplo, de modo geral, a Comissão diria ter havido uma recessão se o PIB tivesse caído muito em dois trimestres, mesmo que tivessem sido separados por um trimestre de crescimento fraco. Da mesma forma, se um período de desaquecimento fosse posteriormente seguido por vários trimestres de crescimento positivo, a Comissão não anunciaria, necessariamente, que a recessão havia terminado; a instituição esperaria até que a economia se recuperasse suficientemente para que uma desaceleração hipotética futura fosse considerada uma nova recessão, e não uma continuação da primeira. 
A economia dos EUA vem apresentando um crescimento positivo há 15 trimestres consecutivos, de modo que a datação de recessões não é uma questão importante, neste momento. Mas as coisas nem sempre são tão tranquilas. Por exemplo, de acordo com dados revisados, em 2001 a economia americana sofreu contrações em três trimestres consecutivos. Na época, a Comissão da NBER declarou que tinha havido uma recessão em 2001 (com base no nível de emprego e em outros indicadores), apesar de os dados iniciais do PIB não revelarem dois trimestres consecutivos de declínio na produção – muito menos três. A Comissão ainda não considerou necessário rever a data do ponto de inflexão econômico, que dirá suprimir uma recessão. 
O NBER não é a única instituição que não se limita a empregar a "regra dos dois trimestres" e dados de PIB não revisados. Uma Comissão de Datação do Ciclo Econômico para a Área do Euro foi criada há dez anos pelo Centro de Pesquisa de Política Econômica (CEPR, em inglês), baseado em Londres. A Comissão do CEPR afirmou que a Grande Recessão terminou na zona do euro após o segundo trimestre de 2009, ao mesmo tempo que nos EUA. A Comissão declarou que uma segunda recessão começou no fim de 2011 – e persiste até hoje. 
Essas foram as decisões certas: o crescimento nos trimestres entre as duas quedas da atividade foi suficientemente forte em países como a Alemanha para que a atividade econômica, na média, em toda a zona do euro, tivesse, em meados de 2011, recuperado cerca de dois terços do terreno perdido em 2008-09. 
Não se pode dizer que a "regra prática" de dois trimestres empregada por diversos países europeus e em outros lugares é "errada". Há, sem dúvida, grandes vantagens em ter um procedimento automático simples e transparente, especialmente se a alternativa é delegar o trabalho a uma Comissão de pessoas não eleitas, a uma torre de marfim de economistas não obrigados à prestação democrática de contas. 
Mas também há desvantagens no emprego dessa regra prática. Uma deles é a necessidade de rever a datação do ciclo quando os dados são revisados. As afirmações feitas de boa fé em discursos no ano passado por políticos do Reino Unido – e por pesquisadores econômicos – agora revelaram-se falsas. Em maio, também a França revisou as estatísticas e descartou a ocorrência de uma recessão anterior, que de outra forma teria sido considerada como a segunda desde 2008. 
Há também uma desvantagem potencialmente mais abrangente e mais séria. Como os cidadãos da Irlanda e da Itália foram informados de que suas economias entraram em novas recessões, eles tendem provavelmente a concluir que seus líderes políticos devem ter feito algo errado recentemente. Mas, se esses países viveram a mesma recessão durante cinco anos, a implicação pode ser de que os líderes vêm cometendo os mesmos erros ao longo desse período. Essa é uma diferença nada insignificante.   (Jeffrey Frankel, tradução de Sergio Blum – Valor Online))


22/07/2013
- Folha de São Paulo e Valor Online
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