Evitar desperdícios deve ser compromisso de todos

Evitar desperdícios deve ser compromisso de todos

É bastante comum ouvirmos que os exageros e desperdícios são frutos da sociedade de consumo. Recentemente na coluna Saúde Financeira foi publicada uma matéria sobre consumo e consumismo e, dado a importância do tema – tanto do ponto de vista individual como da sociedade – a coluna sugere mais uma reflexão, dessa vez sobre a questão do desperdício.

 Acesso ao crédito x consumo

 O educador financeiro e presidente da Associação Brasileira do Consumidor (ABC), Marcelo Fernando Segredo, afirma que nos últimos cinco anos houve um aumento significativo do consumo em todo o mundo. Para Segredo, o Brasil ganhou destaque devido à facilidade de acesso ao crédito.

“Incentivos fiscais para financiamentos de veículos, produtos da linha branca e imóveis foram oferecidos e o crédito foi banalizado. A população não resistiu ao marketing apelativo e comprou mesmo. Somos condicionados a comprar a todo o momento sem planejamento através de anúncios publicitários”, analisa Segredo.

Cultura e consumo

A professora da pós-graduação em Sustentabilidade e Responsabilidade Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lucia Santa Cruz, acredita que o desperdício é muito mais uma questão de cultura do que uma responsabilidade da cultura do consumo.

“De certa maneira, a produção se instalou partindo da premissa de que os recursos naturais seriam inesgotáveis. Por isso, não haveria uma necessidade de se preocupar com aquilo que não fosse usado diretamente na produção”, explica Lucia.

A pesquisadora lembra que países que atravessaram períodos prolongados de escassez de acesso a produtos e bens, como a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, desenvolveram uma forma muito diferente de lidar com a produção e o consumo.

“Existe uma coisa chamada obsolescência programada, que faz com que a vida útil dos produtos seja cada vez mais curta, gerando a necessidade de reposição de um bem em curto prazo. Os chamados bens duráveis são cada vez menos duráveis. Isso faz com que consertar um micro-ondas, por exemplo, seja mais caro do que comprar um novo. O antigo acaba descartado. Isso não é um desperdício?”, questiona Lucia.

O coordenador do Instituto de Desenvolvimento Educacional da Fundação Getulio Vargas (IDE/FGV), Ricardo Teixeira, vai ao encontro de Lucia Santa Cruz. “O desperdício e o ônus causado por ele tem a ver com o comprar e não usar, usar pouco e, ainda, com a questão do descarte sem preocupação. A sociedade é soma de indivíduos”, analisa Teixeira.

Teixeira reforça que o desperdício reflete tanto na sociedade quanto na economia. “Até a água é finita. Comprar por impulso pode ser um problema para o orçamento familiar assim como os desperdícios nos processo industriais são negativos. Aqui no Brasil, a indústria da construção civil é um exemplo. Já melhorou muito, mas ainda há desperdícios que devem ser evitados visando, inclusive, a produtividade”, comenta.

Desperdício

Para Lucia Santa Cruz é preciso rever o que é chamado de cultura do consumo. “O consumo é apenas uma ponta do processo mais amplo que é a produção. A produção não termina com a venda do bem – ela continua com seu uso e com seu descarte. Talvez para pensarmos o desperdício também devamos analisar o excesso de produção”, sugere.

Segredo explica que o desperdício acontece desde a produção até o ato da compra, pois nas últimas décadas deixou-se de lado a preocupação em se preparar o consumidor para o consumo. “Pelo contrário, a intenção sempre foi impulsioná-lo a comprar cada vez mais. É comum você observar em sua casa quanta coisa você comprou por impulso e que hoje está praticamente sem nunca ter sido usado”, comenta.

Para o especialista a solução está na implantação de programas educacionais de consumo inteligente que possam despertar no consumidor a reflexão antes de comprar qualquer produto. Segredo afirma que todo indivíduo deve constantemente se perguntar: “Será que preciso adquirir esse produto agora? O que ele vai agregar à minha vida? Qual o custo-benefício?”, indica.

Consequência para meio ambiente

Segredo alerta para a interferência do homem no meio ambiente. “Tudo que o homem desenvolve vem da natureza, aqui nesse contexto é o palco das realizações humanas. Através da força de trabalho o homem transforma a primeira natureza (intacta) em segunda natureza (transformada). É a natureza que fornece todas as matérias primas (solo, água, clima, energia, minérios etc) necessárias às indústrias”, esclarece.

“O planeta já mostra sinais de esgotamento, um exemplo disso é a escassez de petróleo que é um recurso não-renovável, e sua utilização corresponde a 40% da energia consumida no mundo. Tendo em vista a sua importância no cenário mundial a situação é preocupante, pois alguns estudos mostram que o petróleo existente será suficiente por mais 70 anos”, alerta.

 

07/12/2011
- PREVI
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