Especialistas debatem o consumo e o consumismo

Especialistas debatem o consumo e o consumismo

O consumo está presente na rotina de todos. Permanentemente uma parte da renda dos indivíduos é destinada à aquisição de bens ou serviços, seja por razões de ordem prática ou simbólica. O fato é que todos consomem. No Brasil, em particular, o consumo aumentou junto com o poder aquisitivo de classes que ascenderam economicamente. Nesta segunda-feira, a matéria da coluna Saúde Financeira é um convite à reflexão sobre os hábitos de consumo, as razões que nos levam a consumir, o apelo da mídia e a importância da educação financeira.

Segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), nos últimos anos, cerca de 30 milhões de pessoas passaram da classe D para a classe C. Nesse sentido, os especialistas em finanças são unânimes em afirmar que a educação precisa crescer lado a lado com a economia, a fim de evitar problemas que possam comprometer o crescimento do país, como a inadimplência.

Consumo x consumismo

O antropólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Everardo Rocha, explica que o consumo é cultural e que os produtos e serviços possuem significados. "Mesmo que não tenhamos consciência, quando compramos algo estamos falando para o outro sobre nós mesmos. Através da compra enviamos mensagens e significados. Por isso, só tem sentido se for público". Para ele, o consumismo no país é visto de maneira negativa e se caracteriza quando o indivíduo compra mais do que pode, quando há exagero e falta limite.

"O consumismo tem um apelo ideológico e é rotulado como similar a um vício. Há certa superioridade moral entre a produção e o consumo. Como se a produção possuísse alguma nobreza e o consumo, algo superficial", explica.

Marcelo Silva Rocha, pesquisador do Observatório de Comportamento e Consumo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial/Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai/Cetiq), vai ao encontro das colocações de Everardo Rocha. Para Marcelo, em nossa sociedade, que é capitalista, existe uma tendência em se valorizar a produção e a se desvalorizar os gastos. Algo como uma acusação e um julgamento permanentes de que o consumo é uma espécie de vilão da história, como se o indivíduo gastasse com futilidade dentro de um comportamento irracional.

"O interessante, como estudioso, é relativizar e compreender a prática do consumo dentro de um determinado contexto e não sair acusando. Cada pessoa elabora suas necessidades de uma forma. Todos precisamos dormir, por exemplo, mas onde e em quais condições irá variar de pessoa para pessoa", comenta Marcelo.

Mídia e consumo

Para Everardo Rocha, a mídia é o próprio sistema de consumo e o anúncio, o principal suporte. "É através da narrativa midiática que se dá o compartilhamento de valores e a construção de uma espécie de senso comum", diz o antropólogo.

O pesquisador do Senai/Cetiq, Marcelo Silva Rocha, afirma que a mídia tem um poder quase mágico capaz de influenciar o comportamento de consumo e chama atenção para o fato de as empresas estarem cada vez mais conscientes da importância de entenderem as necessidades dos consumidores e saberem usar as diversas formas de comunicação. "As empresas utilizam elementos de conquista como usar artistas de sucesso para vender um determinado produto ou serviço", explica.

O papel da educação

Para Everardo Rocha, a educação tem um papel fundamental na questão do consumo. "Infelizmente, a educação ainda é o calcanhar de Aquiles do Brasil. E na questão da educação financeira não é diferente, afinal, os conceitos de finanças não chegam sozinhos".

Marcelo Silva Rocha alerta para uma impressão que os indivíduos têm no momento da compra, independentemente do grau de instrução. "As pessoas, quando saem para consumir, se enxergam como autônomas, mas não percebem que o que é desejável vem de um critério coletivo, pois está diretamente ligado à construção cultural".

"Afirmar que o grau de instrução reflete na crítica da compra me parece muito determinista. O que eu acredito é que há diferentes tipos de consumo conforme a classe, e me refiro à renda. A formação escolar pode aproximar ou afastar um determinado tipo de consumo, mas não determinar". Nesse sentido, Marcelo comenta que as pesquisas têm mostrado que os desejos de consumo entre as diferentes classes econômicas são similares e o que difere é o tipo. Como também o padrão está sendo alterado.

"Se antes as pessoas queriam casas e carros, hoje há uma valorização da educação, da cultura do entretenimento, da saúde e do bem-estar que me parece interessante, pois é uma oportunidade para o Brasil se transformar e se desenvolver", comenta Marcelo.

 

 

 

13/09/2011
- PREVI
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