Em casa, brasileiro investe no exterior

Sem tirar dinheiro do país, é possível comprar cotas de fundos ou recibo de ações de empresas estrangeiras

Modalidades oferecem a proteção da legislação brasileira; não é preciso abrir conta fora ou comprar dólares

EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA

A forma mais simples para investir no exterior hoje é comprar cotas de fundos de investimentos ou recibos de ações (American Depositary Receipts) de empresas estrangeiras negociadas na Bolsa de Valores brasileira.
A vantagem dessas opções é que não é necessário comprar dólares nem abrir uma conta fora do país. O investidor fica ainda sob a proteção da legislação brasileira.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) permite que fundos apliquem até 20% do patrimônio em ativos no exterior, como ações, derivativos, títulos públicos ou cotas de fundos estrangeiros.
Há alguns poucos fundos autorizados a aplicar até 100% fora do país, mas que só podem aceitar cotistas com mais de R$ 1 milhão. É o que a CVM chama de investidor "superqualificado".
Outra opção são os recibos de ações de empresas estrangeiras, como Apple e Google, por exemplo, lançados no Brasil no ano passado.
São negociados hoje na BM&FBovespa papéis de 37 empresas. Para investir em 30 dessas companhias, no entanto, também é preciso ter pelo menos R$ 1 milhão.
Essa restrição se deve ao fato de que essas empresas não escolheram lançar esses papéis aqui. Um banco compra as ações na Bolsa lá fora e vende aqui os recibos registrados na BM&FBovespa que correspondem às ações.
Para quem pretende investir menos, há sete papéis que não têm essa restrição, pois o lançamento deles foi feito pelas próprias empresas. São eles: Agrenco, Banco Patagônia, Cosan, Dufry, GP Investimentos, Laep e Wilson Sons. Custam entre R$ 0,55 e R$ 170 pela cotação atual.

CONTA NO EXTERIOR
A legislação brasileira também permite que brasileiros abram conta em bancos no exterior para investir em outros países. Desde que tudo seja declarado ao Banco Central e à Receita Federal.
Restrições de valores ou ativos dependem de onde será feito o investimento. O mesmo acontece com as exigências burocráticas, que, em geral, são menores do que as enfrentadas por estrangeiros para aplicar no Brasil.
A procura fica restrita praticamente a investidores que querem diversificar a aplicação ou têm despesas em outras moedas ou países.
Especialistas recomendam que o investidor procure orientação de bancos, gestores ou advogados para escolher a aplicação, que está sujeita à legislação local.
É preciso estar atento ainda à bitributação. O imposto pago nos EUA no resgate, por exemplo, não pode ser abatido do cobrado no Brasil na hora de repatriar o dinheiro.
Gilberto Poso, superintendente do banco HSBC no Brasil, diz que a procura por abertura de contas fora do país para investimento é baixa.
A demanda no Brasil por fundos que aplicam no exterior também é pequena. O próprio banco fechou uma dessas aplicações por falta de interessados recentemente.
Segundo Poso, a autorização para abertura desses fundos, há cerca de cinco anos, coincidiu com o período em que o dólar perdeu valor e o Brasil se tornou mais atrativo para investimentos.
"Houve períodos em que os brasileiros buscavam refúgio no exterior, porque o dólar era considerado mais seguro. Mas hoje o Brasil é o lugar para se estar", afirmou.
Mesmo quando aplicam no exterior, alguns brasileiros procuram ativos relacionados ao seu país.
Segundo o Banco Central, o investimento brasileiro em ações no exterior cresceu 70% em 2010. Quase metade do dinheiro, porém, estava aplicado em recibo de ações de empresas brasileiras negociados em Bolsas internacionais.

05/09/2011
- Folha.com
WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn