Desemprego atinge idosos

Desemprego atinge idosos

 Há quase três anos, Julio Cesar Alves Ferreira viu o sonho de ser empresário se desfazer diante da falência de seu negócio de distribuição.

 

Hoje com 63 anos e sem aposentadoria, olha para o saldo de suas reservas, acumuladas durante décadas de trabalho, e enxerga um número cada vez mais próximo de zero.

 

"Estou procurando emprego em qualquer área. Estou precisando. O pouco que tinha fui usando, e agora a reserva está acabando", conta.

 

Morador do bairro da Penha, na zona norte do Rio, Ferreira, que vive sozinho, apertou o cinto nas contas da casa. Cortou viagens, passeios e idas ao cinema. Só o cigarro sobreviveu, porque ainda não consegue se livrar do vício.

 

Começou a procurar emprego em maio, distribuiu currículos e fez duas entrevistas, mas ainda não teve retorno. "Está difícil, ainda mais para uma pessoa da minha idade." ESTATÍSTICAS Ferreira faz parte de um grupo que tem se destacado nas estatísticas que, recentemente, mostram a piora do mercado de trabalho do País. A queda no poder de compra das famílias e o aumento do desemprego têm levado um número cada vez maior de brasileiros a sair em busca de uma vaga no mercado de trabalho, inclusive idosos.

 

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, mostra que, no segundo trimestre, 1,747 milhão de pessoas engrossaram a força de trabalho (formada por pessoas empregadas ou em busca de trabalho) na comparação com igual período de 2014 – destas, 502 mil têm 60 anos ou mais.

 

Ao todo, 6,645 milhões de idosos em todo o Brasil estavam em atividade entre abril e junho deste ano, 171 mil deles desempregados.Ambos são registros recordes. "A tendência é (o idoso) aumentar a participação enquanto a economia estiver ruim. Isso vai continuar adicionando pessoas ao mercado de trabalho", diz o economista Rodrigo Leandro de Moura, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

 

Influência da crise atual Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador da Fundação Getulio Vargas, vê na rapidez do crescimento da proporção da força de trabalho no total da população acima de 60 anos um sinal de que mais pessoas nessa faixa etária estão procurando emprego.

 

"O envelhecimento tem um efeito contínuo, mas pequeno. Não justifica um crescimento tão grande (na proporção). A influência é da economia", avalia.

 

O lado "positivo", segundo o economistas da FGV, é que o Brasil precisa de uma força de trabalho maior para poder continuar crescendo.

 

"O envelhecimento da força de trabalho hoje é segurado porque o brasileiro ainda se aposenta muito cedo", diz.

 

A consequência disso é não apenas a redução da mão de obra disponível no País, mas também uma enorme fatura para a Previdência Social. "A reforma da Previdência está atrasada. A idade mínima é um absurdo", diz a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Camarano. 

 

Saiba mais » A sociedade brasileira está naturalmente envelhecendo.

 

Nas seis principais regiões metropolitanas do País, a entrada dos mais velhos em atividade é ainda mais intensa: 90% das 456 mil pessoas que ingressaram na força de trabalho em julho, na comparação com julho de 2014, têm 50 anos ou mais, segundo outra pesquisa realizada recentemente pelo IBGE.

 
21/09/2015
- JORNAL DE BRASÍLIA - DF
WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn