China representa risco adicional para o real

China representa risco adicional para o real

 China representa risco adicional para o real 

Brasil tem menos espaço para adoção de política anticíclica, diz Lombardi. 
A divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) da China do segundo trimestre em linha com o esperado pelo mercado e o arrefecimento dos temores de uma antecipação da retirada dos estímulos monetários pelo banco central dos EUA, após dados fracos do varejo no país, contribuíram para a queda do dólar ontem frente às moedas de países emergentes. No mercado local, o dólar caiu 1,90% e foi a R$ 2,224.
Para analistas, no entanto, o alívio verificado ontem no mercado de câmbio é mais um movimento de correção do que uma mudança de tendência. "Os problemas com relação ao temor da desaceleração da China e da retirada dos estímulos monetários pelo Fed [banco central dos EUA] continuam", afirma Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora. 
Apesar do PIB da China ter vindo em linha com o esperado pelo mercado (alta de 7,5%), o número mostrou uma desaceleração em relação ao crescimento de 7,7% registrado no primeiro trimestre. Na semana passada, a afirmação do ministro de Finanças da China, Lou Jiwei, de que o governo chinês poderia tolerar um crescimento abaixo de 7%, inferior à meta oficial do governo chinês de 7,5% para este ano, aumentou as preocupações de que a economia chinesa possa mostrar um enfraquecimento acima do esperado pelo mercado, o que teria impacto direto para as divisas de países exportadores de commodities. 
Para o economista-chefe da CM Capital Markets, Darwin Dib, outras notícias negativas em relação ao desempenho da China poderiam provocar novas desvalorizações do câmbio. "A China será fonte adicional de más notícias no decorrer de seu desaquecimento que ainda tem chão", apontou, em relatório. O economista destaca ainda a preocupação com o mercado de crédito chinês, o que tem refletido na elevação da taxa interbancária. 
O estrategista do BNP Paribas, Diego Donadio, afirma que boa parte da expectativa de desaceleração chinesa já está refletida nos preços das moedas emergentes, que tiveram uma forte queda desde o discurso do presidente do Fed, Ben Bernanke, em 19 de junho, quando sinalizou a possibilidade de iniciar a retirada dos estímulos monetários ainda neste ano. 
A moeda brasileira foi a que mais se desvalorizou desde o fim de maio e liderou a recuperação entre as divisas emergentes no pregão de ontem. Desde 29 de maio, quando o dólar ultrapassou a barreira de 2,10, a moeda americana subiu, até ontem, 7,23%. 
A desaceleração da China é um fator a mais de pressão para a desvalorização do real, uma vez que o país é o principal parceiro comercial do Brasil. O crescimento da China sustentou o ciclo de valorização das commodities. O fim do "boom" da economia chinesa não significa que os preços desses ativos vão desabar, mas devem ficar em patamar menor, especialmente o das commodities metálicas, diz Marcelo Salomon, chefe de economia e estratégia para a América Latina do Barclays Capital. 
O Índice CRB, que acompanha o desempenho das commodities, acumula queda de 2,78% no ano. 
A mudança de foco da economia da China, de um crescimento baseado em investimentos para um avanço sustentado pelo consumo, deve ter impacto principalmente para países exportadores de commodities metálicas da América Latina, como o Peru (zinco), Chile (cobre) e Brasil (minério de ferro). "Diferentemente do Brasil, que tem pouco espaço para fazer uma política fiscal mais estimulativa, países como o Chile e Peru têm condições de adotar medidas anticíclicas tanto do lado fiscal como monetário", diz Italo Lombardi, economista para a América Latina do Standard Chartered Bank. 
No caso do Brasil, destaca Salomon, a bolsa brasileira tende a ser mais afetada por uma queda no preço das commodities, cujas ações atreladas a esses ativos têm grande peso no Ibovespa. O executivo do Barclays estima o dólar entre R$ 2,20 a R$ 2,25 nos próximos três meses. 
Além disso, as condições macroeconômicas do Brasil, como crescimento baixo, inflação alta e déficit em conta corrente, fizeram com que o real tivesse uma perda maior entre as moedas de países exportadores de commodities da América Latina, diz Donadio.  (Silvia Rosa, colaborou José de Castro – Valor Online)


 

17/07/2013
- Valor Online
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