Mais importante do que a queda da taxa Selic no curto prazo – sobre a qual o Banco Central (BC) pode agir – é conseguir a redução do juro de longo prazo. Este juro deve ser menor do que a taxa de retorno de investimentos, o que, felizmente, já ocorre, enfatizou em depoimento no Senado o presidente do BC, Roberto Campos Neto. “É a taxa longa que determina o investimento privado”, afirmou.
Com a inflação “bastante baixa e bastante estável tanto no curto, médio e longo prazos”, admitiu que há espaço para nova queda do juro básico. Além disso, o BC quer a redução das taxas ativas, cobradas pelos bancos nos empréstimos. Para isso, o BC poderá reduzir mais os depósitos compulsórios, deixando mais recursos em poder dos bancos para a concessão de empréstimos.
Até agora, notou Campos, a redução de R$ 20 bilhões já ocorrida nos compulsórios deu pouco resultado: do total, R$ 15 bilhões ficaram “empoçados no overnight”. Ou seja, não foram aplicados pelos bancos.
Campos Neto foi cauteloso ao tratar do câmbio, que subiu nos últimos dias, com o dólar superando os R$ 4,20 no mercado. Entre as explicações dadas para a desvalorização do real estão a frustração com o resultado do leilão de cessão onerosa do présal, com ingresso de menos dólares do que o governo previa; o pré-pagamento de dívidas das empresas em dólares; e a manutenção, no exterior, de receitas de exportação, nos casos em que o exportador não precisa imediatamente de reais e pode adiar a venda de dólares.
Se o Brasil cresce menos do que se esperava, isso se deve ao custo de três “choques”, como os definiu Campos Neto. O primeiro foi a crise argentina, que diminuiu as importações do Brasil, fazendo reduzir em 0,18% o crescimento do PIB em 2019. O segundo foi a deterioração do comércio global, ao custo de 0,30% para o PIB do País. O terceiro foi a tragédia de Brumadinho, que cortou o PIB em 0,20%.
Agora, afirmou, “o Brasil está se reinventando com dinheiro privado”. O objetivo da fala de Campos Neto aos senadores, além de explicar como o BC atua, foi mostrar o que espera para o futuro. O presidente do BC manifestou sua crença em que o desequilíbrio das contas públicas começa a ser enfrentado e que a percepção quanto a essa política cresce entre os agentes econômicos. O futuro deverá ser melhor, acredita.