Os bancos tiveram mais um dia de perdas na bolsa ontem, com desvalorizações que chegaram a 3,07% no caso do Bradesco,após os concorrentesBANCO DO BRASIL e Caixa Econômica Federal anunciarem na véspera redução de tarifas.Com quedas consequentes nas cobranças, as quatro maiores instituições financeiras – BB, Bradesco, Itaú e Santander – perderam R$ 13,8 bilhões em valor de mercado no ano.
Daqui para frente, no entanto, a expectativa de analistas é de que os papéis ainda caiam um pouco, para então sofrerem uma acomodação. "O viés para o setor na bolsa não é positivo", afirma o analista da Futura Investimentos, Adriano Moreno.Ele acredita que as quedas de ontem foram causadas não pela redução das tarifas em si por parte dos bancos públicos, mas pela sinalização do governo de uso destas instituições financeiras no sentido de redução de custos da economia, a exemplo do que ocorreu com tarifas elétricas.
A queda simboliza uma aversão a risco para os papéis das empresas reguladas, principalmente por parte de investidores estrangeiros e institucionais.Ontem, na ponta vendedora das ações do Itaú, a mais líquida entre os bancos, estavam as corretoras Morgan Stanley e Merril Lynch, representantes dos estrangeiros.
Na opinião do analista do BB Investimentos, Carlos Daltozo, as ações de bancos devem passar por uma acomodação no curto prazo. "Não sei dizer ainda se nesse patamar ou se vai recuar mais um pouco, mas o preço deve se manter próximo do que está sendo negociado", destaca.
O analista acredita que a queda das ações se dá pelo cenário de acirramento da concorrência, primeiro com a redução de spreads e agora das tarifas cobradas dos correntistas, que vai impactar o resultado.
Luis Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da Austin Rating, ainda justifica a queda das ações de bancos na bolsa como maior volume de provisões para fazer frente à inadimplência em meio a um cenário em que as carteiras de crédito não têm crescido como no ano passado. "Além disso, a queda da Selic em si também remunera menos os ativos das aplicações financeiras", pondera. "Aqueles que estavam aplicando em ações de bancos podem estar eventualmente realizando lucros."
Neste ambiente de maior competição, os próximos trimestres vão ser claros quanto às estratégias de cada instituição financeira em relação à adesão ao modelo de gestão bancária voltada para a redução de tarifas e juros."O mercado reage com mais impulsividade, mas pode ser que os balanços surpreendam com sinalização de aumento do volume de crédito que compense a queda do juro", diz Santacreu.
Dados de agosto do Banco Central mostram que as operações de crédito do sistema financeiro apresentaram ritmo de expansão superior ao do mês anterior, em ambiente de redução das taxas de juros e spreads e estabilização dos índices de inadimplência. O estoque total de crédito bancário, compreendidas as operações com recursos livres e direcionados, alcançou R$ 2,2 bilhões em agosto, alta de 1,2% no mês e de 17% em doze meses.
Pregão de ontem
As ações do Bradesco foram as que tiveram a maior queda no pregão de ontem, seguidas pelo Itaú, com desvalorização de 2,46%. No caso do BANCO DO BRASIL, a redução foi de 0,13% e, do Santander, de 0,53%, em um dia que o banco anunciou ao mercado que a BM&FBovespa aceitou prorrogar o prazo para enquadramento do percentual mínimo de ações em circulação de 25%. O indicador está em 24,4%.
Em comunicado assinado pelo diretor de Relações com Investidores Carlos Alberto Galan, o banco informa que terá até 7 de outubro para atingir o patamar, sendo que 90 dias antes deverá apresentar um plano detalhado sobre o assunto. "Pretende- se atingir a diferença de 0,6% por meio da realização de venda ou entrega de ações de sua emissão através de negociações privadas junto a determinados investidores qualificados no mercado brasileiro ou no mercado exterior; e/ou emissão de novas ações."