Réu no STF, Pizzolato ainda corre risco de enfrentar novo processo
BANCO DO BRASIL analisa ação cível contra seu ex-gerente de marketing
Sérgio Roxo
Um mistério. Pizzolato diz não saber a quem entregou R$ 326 mil de Valério
Ailton de Freitas/7-12-2005
UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA
SÃO PAULO Apontado pela Procuradoria Geral da República como um dos principais responsáveis por fazer o dinheiro público chegar ao valerioduto, o ex-diretor de marketing do BANCO DO BRASIL Henrique Pizzolato leva hoje uma vida de aposentado em Copacabana. Acompanha à distância o julgamento do mensalão, no qual pode ser condenado por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
Pizzolato ainda poderá ser processado na área cível pela instituição para a qual trabalhou. O banco informou, sem detalhar as razões, que aguarda o resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) para decidir se vai processá-lo. O BB fez uma auditoria sobre a gestão de Pizzolato, enviada ao STF.
Aos 59 anos, Pizzolato mora com a mulher no mesmo apartamento que foi alvo de suspeitas quando o escândalo do mensalão surgiu, em 2005. A informação é do advogado Marthius Cavalcante Lobato, que defende o ex-diretor do BB. A compra do imóvel foi questionada porque Pizzolato pagou em espécie R$ 100 mil dos R$ 400 mil do negócio, após receber R$ 326,7 mil sacados da conta da agência do lobista Marcos Valério.
O ex-diretor alegou que quitou parte do apartamento em dinheiro porque vendeu moeda estrangeira, que havia comprado para fazer uma viagem.
– A Receita Federal diz que a renda era compatível com a compra – diz o advogado.
Nas alegações finais da Procuradoria Geral da República, Pizzolato é acusado de ter permitido que a DNA Propaganda, de Valério, que tinha contrato com o BANCO DO BRASIL, ficasse com R$ 2,9 milhões referentes aos descontos obtidos na veiculação dos anúncios da instituição. O ex-diretor é apontado também como responsável por assinar três das quatro "antecipações delituosas" de recursos, no total de R$ 73,8 milhões, do Fundo Visanet (que tinha dinheiro do BANCO DO BRASIL), para a DNA. Uma ex-funcionária da área de propaganda do banco disse, em depoimento, que a publicidade referente à campanha da Visanet nunca foi veiculada.
Por causa da liberação do dinheiro da Visanet, Pizzolato teria recebido os R$ 326,7 mil. Em sua defesa, ele diz que recebeu um telefonema de uma pessoa que se apresentava como secretária de Valério e que lhe pediu para pegar uma encomenda. Diante disso, determinou que um mensageiro fosse à agência do Banco Rural no Rio e pegasse a encomenda. O mensageiro levou dois envelopes ao seu apartamento e, no mesmo dia à noite, uma pessoa enviada pelo PT, cujo nome ele diz desconhecer, foi retirar a encomenda.
O advogado de Pizzolato alega que seu cliente não tinha poder para influenciar na gestão da Visanet e que o bônus conseguido no contrato entre o banco e a DNA não deveria ficar com a instituição.
nO PT, DELÚBIO COMO PARCEIRO
Funcionário de carreira do banco, Pizzolato pediu aposentadoria quando estourou o mensalão. Petista histórico, trabalhara ao lado do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares na arrecadação de recursos da campanha presidencial de Lula, em 2002. Em 1988 e 1992, foi candidato a prefeito de Toledo, no Paraná.
A sua gestão como diretor de marketing do BANCO DO BRASIL ficou marcada por polêmicas. Em 2004, foi citado como responsável por permitir que o banco desembolsasse R$ 70 mil para a compra de ingressos para um show da dupla Zezé di Camargo & Luciano, que serviria para arrecadar fundos para construir a nova sede do PT. O dinheiro acabou sendo devolvido.