Não é possível cassar o benefício do ex-servidor por ser de caráter privado, segundo o MP, mas os valores podem ser considerados indisponíveis para garantir o pagamento da multa aplicada a ele.
BRASÍLIA – Com aposentadoria mensal de cerca de R$ 25 mil, a vida do ex-diretor do Banco do Brasil (BB), Henrique Pizzolato, está longe de ser franciscana. Esse valor, convertido para a moeda utilizada na Itália, onde está foragido, chega a 8 mil euros. Bem acima da média salarial daquele país, de 815 euros, o que irá lhe garantir uma vida bem acima dos padrões europeus, após a crise financeira internacional, segundo pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgada no ano passado.
A assessoria de imprensa da Previ, fundo de pensão dos funcionários do BB, informou que a instituição continuará creditando a aposentadoria na conta pessoal de Pizzolato e não a transferirá para outra instituição financeira em outro país, a não ser que haja determinação judicial para isso. No entendimento do Ministério Público, não é possível cassar o benefício do ex-servidor por ser de caráter privado. O que pode ocorrer é indisponibilidade dos bens para garantir o pagamento da multa aplicada juntamente com a restrição à liberdade.
Pizzolato foi o único da lista dos 12 primeiros mandados de prisão expedidos pelos Supremo Tribunal Federal (STF) que ainda não se entregou. Ele teria saído do Brasil há cerca de 45 dias pela fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai e aproveitado a cidadania italiana para fugir àquele país.
O ex-diretor do BB foi condenado a 12 anos e sete meses de prisão no processo do mensalão por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Os ministros STF também estipularam o pagamento de multa de R$ 1,272 milhão. A pena foi imposta porque, segundo a acusação, ele teria antecipado o pagamento de R$ 73 milhões do fundo Visanet para a agência de Marcos Valério. Em troca, teria recebido R$ 336 mil de propina.
Amigos do ex-diretor do BB têm afirmado que ele enfrenta atualmente problemas financeiros devido aos altos custos dos advogados que o defenderam no processo. Ele estaria tendo dificuldades até para manter o apartamento em que morava no Rio, em Copacabana. A revista "Veja" informou que Pizzolato e a mulher Andréa moravam numa cobertura com piscina, churrasqueira, vista para o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar.
Além da alta aposentadoria, o ex-diretor tem quatro imóveis, sendo dois no Rio, um num bairro nobre de Florianópolis (SC) e outro em São Paulo. O PT também teria pago parte das despesas com a defesa dos acusados no mensalão. "As prestações de contas do PT são públicas, estando à disposição dos interessados no TSE ", afirmou, em nota, o tesoureiro do PT, João Vaccari.
Na carta divulgada após a informação de que teria fugido para a Itália, o ex-diretor disse que tem uma vida "moldada pelo princípio da solidariedade que aprendi muito jovem quando convivi com os franciscanos". Ele nega as acusações e afirma que pedirá um novo julgamento na Itália.
Pizzolato conseguiu se aposentar em 2005 no auge das denúncias do mensalão com o salário de diretor mesmo não tendo trabalhado três anos nessa função. No entanto, foi beneficiado porque antes atuava como diretor na Previ. Quando se aposentou, após trabalhar mais de 30 anos no banco, o salário de diretor do BB era de quase R$ 19 mil, que foram reajustados pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).