ANABB Caffarelli assume BB sem contar com reforço de capital do Tesouro

 

No comando do maior banco da América Latina em ativos totais, Paulo Rogério Caffarelli chega com a missão de tornar o Banco do Brasil um ator ativo na retomada da economia que se pretende com as medidas delineadas pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. E o desafio é enorme, proporcional ao tamanho da instituição. Caffarelli deve colocar o banco a cumprir seu papel de intermediador financeiro sem, contudo, recorrer a aportes públicos de capital.

 

O novo presidente do BB compartilha essa condição imperativa com todas as áreas do governo interino de Michel Temer, que privilegia o reequilíbrio da política fiscal. Aportes do Tesouro a instituições públicas – bem-vindos no auge da crise financeira de 2008/2009 – acabaram gerando graves distorções no sistema financeiro nacional.

 

Funcionário de carreira com 30 anos de BB, Caffarelli nunca deixou de acompanhar os números da instituição, mesmo no período recente, quando estava no comando de uma intricada reestruturação financeira na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Assim, sabe que será necessário um esforço para atender a implementação das regras de Basileia até 2019. O índice de Basileia, a relação entre capital próprio e ativos ponderados pelo risco do BB, está em 16,24%, acima dos 11% exigidos pela norma atual, mas há necessidade de ampliar a quantidade de capital de melhor qualidade, o chamado nível 1, que está em 11,13%.

 

Esse trabalho já conta com uma ajuda vinda da mudança na política de distribuição de resultados do banco, que caiu de uma fatia de 40% do lucro líquido para 25%. A retenção de lucros é uma forma de acumular esse capital de melhor qualidade deixando de lado a necessidade de pedir ajuda ao Tesouro.

 

Em férias, Caffarelli deve começar já na segunda-feira a tomar pé da situação no banco. Não está claro, ainda, como serão as indicações para as cobiçadas nove vice-presidências da instituição.

 

Na chegada de Joaquim Levy à Fazenda, seu nome esteve entre os cotados para assumir o comando do BB, mas foi preterido pelo colega de instituiçãoAlexandre Abreu. Os dois são amigos e desfrutam de ótima relação. O Valor apurou com interlocutores que Abreu se disse tranquilo com a indicação de Caffarelli e que com ele a instituição estará em ótimas mãos.

 

Conhecido por seu bom relacionamento com o mercado financeiro, Caffarelli foi chamado, em 2014, para assumir a secretaria-executiva do Ministério da Fazenda, na gestão do então ministro Guido Mantega. O intuito era justamente estreitar relações com o mercado e ajudar a conter a piora dos indicadores fiscais que já antecipavam a perda do grau de investimento. Também tinha a missão de buscar uma saída para um grave problema no financiamento do setor elétrico e de distribuição de energia, resultado de um dos inúmeros equívocos de Dilma Rousseff na gestão no setor.

 

Caffarelli foi o principal responsável por montar a operação de empréstimo de mais de R$ 20 bilhões com apoio do mercado financeiro, dando como garantia recebíveis das próprias distribuidoras, para equalizar problemas de caixa decorrentes de mudanças de contratos e vencimentos antecipados de concessões, também um grande desafio.

 

Antes disso, ainda dentro do corpo executivo do BB, Caffarelli teve participação ativa na abertura de capital da área de seguros do banco, a BB Seguridade, em abril de 2013, que movimentou quase R$ 11,5 bilhões na maior oferta de ações do mundo naquele ano.

 

Novamente, o executivo é convocado pela Fazenda a encontrar saída para a hesitante economia brasileira. E, notam observadores, deve contar com aliados, dada a credibilidade que conquistou no mercado financeiro – ambiente original do novo titular da economia, Henrique Meirelles.

 

30/05/2016
- VALOR ECONÔMICO -SP
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