Texto do Acordo não deixa claro como ficará a grafia de uma série de palavras
MÁRCIO PINHO
LUISA ALCANTARA E SILVA
da Folha de S. Paulo
O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa passa a valer a partir de hoje no Brasil. O período de transição para que a população se adapte às mudanças vai até o fim de 2012 –a partir de 1º de janeiro de 2013, a nova ortografia será a única considerada correta.
Apesar de escolas, editoras e meios de comunicação já começarem a se adaptar, o texto do Acordo não esclarece a grafia de uma série de palavras.
Segundo a ABL (Academia Brasileira de Letras), a definição só sairá com a publicação de um novo Volp ("Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa"). Com a função de registrar a forma oficial de escrever as palavras, o Volp só deve ser publicado em fevereiro, com cerca de 300 mil termos.
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"O Volp deveria ter ficado pronto em 2008", afirma José Carlos de Azeredo, doutor em letras pela Universidade Federal do Rio Janeiro e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "Os editores já precisavam dele para usá-lo como fonte de orientação", afirma Azeredo, que coordenou o guia "Escrevendo pela Nova Ortografia" (parceria entre a Publifolha e o Instituto Houaiss), que detalha as novas regras. "Isso tem que ser reconhecido como uma falha", diz.
Azeredo conta que sua equipe no Instituto Houaiss enfrentou uma série de problemas por não ter o Volp como base de pesquisa. "Além disso, o texto do Acordo é muito genérico, principalmente em relação ao uso do hífen", afirma.
Na opinião de Azeredo, o Brasil deveria ter feito uma edição limitada do "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa" antes de o Acordo ter entrado em vigor. "Depois, lançaria uma edição maior."
Até mesmo Evanildo Bechara, membro da ABL e considerado a autoridade máxima no Brasil para decidir as possíveis pendências do Acordo, diz que está sujeito a erros. Em entrevista publicada na Folha na última segunda-feira, ele diz: "É claro que a interpretação que fiz está sujeita a erros. Só não erra quem não faz".
Dúvidas
Segundo a consultora de língua portuguesa do Grupo Folha, Thaís Nicoleti de Camargo, as principais indefinições estão centradas na aglutinação ou no uso do hífen.
Daí surgem dúvidas como "subumano" ou "sub-humano", "co-habitar" ou "coabitar" e "abrupto" ou "ab-rupto". Quanto ao prefixo "re" (usado em palavras como "reeditar" ou "re-editar"), Thaís afirma que o Acordo não faz menção específica a ele, o que provoca diferentes interpretações.
Outra palavra que vem gerando dúvidas é "para-raios" (que perde o acento diferencial do "pára"). No "Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa", grafa-se "pararraios". Já o "Meu Primeiro Dicionário Houaiss" e o "Minidicionário Houaiss" grafam "para-raios".
O motivo da dúvida é que o Acordo diz que devem ser aglutinadas, sem hífen, as palavras compostas quando "se perdeu, em certa medida, a noção de composição", conceito usado na agora "paraquedas".
Para Thaís, "é provável que a perda da percepção dos elementos constitutivos da palavra "pára-quedas" se deva à existência dos derivados "pára-quedista" e "pára-quedismo". A ausência das palavras "quedista" e "quedismo" na língua favorece o processo natural de aglutinação". "No caso de "pára-raios" e "pára-brisa", isso não ocorre, pois não há derivados", explica ela. Nesses casos, só há a perda do acento diferencial da forma "pára", e não deve ser feita a aglutinação.
A recomendação de Thaís é adotar a grafia antiga apenas em casos de dúvidas causadas pela subjetividade do Acordo, para que a assimilação do novo sistema não seja adiada.
A Folha já adota a nova grafia a partir de hoje.
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