A reinvenção dos fundos de pensão


Por Cristiano Romero

Maior fundação fechada de previdência complementar da América Latina, a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil (BB), pretende investir R$ 15 bilhões em projetos de infraestrutura nos próximos anos. O plano é tirar proveito da abertura, ao investimento privado, da exploração de rodovias, portos e ferrovias. A entidade já está presente em um aeroporto (o de Guarulhos, por meio da Invepar, empresa do consórcio que administra aquela unidade) e pretende disputar os próximos a serem concedidos pelo governo.

"O investimento de longo prazo, típico do setor de infraestrutura, tem total convergência com a estratégia de um fundo de pensão", disse ao titular desta coluna o presidente da Previ, Dan Conrado, que assumiu o cargo em maio do ano passado depois de passar pela vice-presidência do BB. "O principal para nós é que o projeto [de infraestrutura] tenha rentabilidade."

No ano passado, marcado pela queda da taxa básica de juros (Selic) ao menor patamar de sua história, a Previ obteve rentabilidade média de 12,63% – 12,62% no plano 1, o principal, e 13,74% no chamado plano futuro. Foi um desempenho invejável. Superou a inflação com folga (5,84%, segundo o IPCA) e a meta atuarial (11,52%). Os números serão oficialmente divulgados nesta quarta-feira.

Os ativos da Previ somam R$ 165,3 bilhões (posição de dezembro). O fundo acumula reserva técnica ou matemática, isto é, um volume de recursos suficientes para honrar todas as suas obrigações trazidas a valor presente, de R$ 27,2 bilhões. O número de participantes é hoje de 196.503, dos quais, 118.516 no plano 1 (dos segurados que aderiram até 1997 e têm direito a benefício definido) e 77.987 no Previ futuro (cuja contribuição é variável e o benefício, indefinido).

A boa aplicação dos ativos da Previ, faz questão de frisar Dan Conrado, não começou em sua gestão. É algo que vem de algumas administrações. A comparação da rentabilidade acumulada nos últimos dez anos mostra que o retorno dos investimentos do fundo de pensão do Banco do Brasil superou com facilidade a meta atuarial, o Ibovespa (principal índice da bolsa de valores brasileira) e o rendimento médio obtido pelo conjunto dos fundos de pensão (ver gráfico).

Qual é o segredo da Previ? Já prevendo que em algum momento a taxa Selic cairia a patamares bem inferiores aos que prevaleceram nos anos de juros altos, o fundo passou a diversificar investimentos. Ao fazer, isso, apostou no risco. No fundo, acreditou no sucesso da economia brasileira pós-estabilização deflagrada pelo Plano Real.

A estratégia deu certo e é o que diferencia a Previ da maioria dos fundos de pensão. Estes ficaram na posição cômoda de concentrar suas aplicações em renda fixa, altamente rentáveis por causa dos juros elevados. O problema é que, agora que a taxa Selic está num nível historicamente baixo, terão mais dificuldade para obter bons resultados.

A Previ aloca 58,93% de seus investimentos em renda variável, 32,02% em renda fixa e 9,04% em outros. Dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) mostram que os fundos de pensão, excluída a Previ, aplicam, em média, 72,76% de seus recursos em renda fixa e apenas 17,64% em renda variável. É um quadro preocupante. Revela que a maioria dos fundos brasileiros é juro-dependente.

Queda dos juros obriga entidades a diversificar

"A estrutura de investimento da Previ está preparada para esse novo cenário da economia brasileira, em que os juros são baixos e surgem novas oportunidades de investimento de longo prazo", sustenta Dan Conrado. A Previ tem hoje R$ 2,3 bilhões aplicados em ativos de infraestrutura. Quando consideradas as participações em empresas de mineração e energia elétrica, a alocação nessa área sobe para R$ 55,6 bilhões, o equivalente a um terço do patrimônio do fundo.

A Previ tem ampliado a presença, também, no setor imobiliário – entre 2011 e 2012, houve salto de R$ 6,3 bilhões para R$ 8,6 bilhões nos recursos investidos no setor. No caso de renda fixa, o fundo tem procurado comprar papéis de prazos mais longos, tática que também faz sentido, afinal, numa economia saudável, os títulos de longo prazo têm retorno mais alto que os de curto prazo.

A parceria com grandes empresas dos setores em que o Brasil possui vantagens competitivas – de mineração, energia elétrica e alimentos, por exemplo – tem rendido bons frutos. Mesmo num ano ruim para a bolsa, como foi 2012, a Previ obteve ótimos rendimentos com a Vale (dividendos e juros sobre o capital próprio de cerca de R$ 1,2 bilhão), a Neoenergia (rentabilidade de 41% e juros e dividendos de R$ 377 milhões) e a CPFL (R$ 433 milhões).

Olhando adiante, Conrado vê boas oportunidades no petróleo do pré-sal e nas empresas que souberem tirar proveito do processo de migração de classes sociais ao qual o Brasil tem assistido. O avanço da classe média deverá criar escala nos setores de alimentos, vestuário, shopping-centers, bebidas e varejo em geral.

VALOR (27/03/2013)

02/04/2013
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