Com forte fluxo, bolsa escapa de influência negativa de NY e sobe 1,45% no dia e 1,54% na semana
A Bovespa fechou em alta na sexta-feira na contramão das bolsas norte-americanas, puxada por um forte fluxo de recursos. O principal índice à vista avançou mais de 1% e acumulou sua quarta semana consecutiva de ganhos.
O Ibovespa terminou a sexta-feira em alta de 1,45%, aos 51.867,29 pontos. Na mínima, registrou 50.518 pontos (-1,19%) e, na máxima, 51.871 pontos (+1,45%). Na semana, registrou elevação de 1,54%, acumulando quatro semanas no azul (+15,34%). No mês, sobe 2,88% e, no ano, 0,70%. O giro financeiro totalizou R$ 6,559 bilhões.
Profissionais consultados argumentaram que o forte fluxo de recursos, sobretudo de estrangeiros, se sobrepôs aos argumentos, daí a alta firme da bolsa doméstica, na contramão das norte-americanas. Nem mesmo a notícia de que a Petrobras recebeu uma Ordem Judicial para entrega de documentação sobre um contrato investigado pela Polícia Federal prejudicou as ações. Petrobras ON avançou 2,90% e PN, 3,25%.
Vale, no entanto, subiu menos por causa das preocupações com o desempenho da economia chinesa e a queda do minério de ferro. Os papéis, que operavam entre altas e baixas, se firmaram com pequena alta na última hora do pregão depois de a Moody””s ter elevado a perspectiva de rating da Vale de estável para positiva. Vale ON, +0,52%, Vale PNA, +0,57%.
Sabesp ON caiu 5,55%, a segunda maior baixa do Ibovespa, depois que a Arsesp adiou a divulgação, prevista para quinta-feira, da nota técnica final sobre a primeira revisão tarifária da empresa.
Em Nova York, os dados de inflação chineses e o balanço fraco do JPMorgan empurraram os papéis para baixo. Dow Jones recuou 0,89%, aos 16.026,75 pontos; S&P recuou 0,95%, aos 1.815,69 pontos; e o Nasdaq terminou em baixa de 1,34%, aos 3.999,73 pontos (Claudia Violante – Agência Estado)
Após recuperação, bolsa tem futuro incerto
Desde o fundo do poço do ano, que foram os 44.966 pontos registrados em 14 de março, o Ibovespa já acumula alta de 15,3%.
O ano de 2014 está se mostrando cada vez mais difícil de prever quando o assunto é investimento em ações no Brasil. Bancos estrangeiros têm adotado posições opostas nas preferências para aplicações, em meio a um quadro cada vez mais volátil e com indicadores dissonantes. É o caso de Citibank e Credit Suisse.
Na semana passada, as duas casas divulgaram relatórios sobre as ações brasileiras, com posições bem distintas. O Citi recomenda posição "underweight" (abaixo da média do mercado), e o Credit, "overweight" (acima da média do mercado).
A Bovespa chegou a sua quarta semana seguida de ganhos na sexta-feira. Desde o fundo do poço do ano (44.966 pontos), atingido em 14 de março, o Ibovespa já avançou 15,3%. Aos 51.867 pontos, a bolsa brasileira acumulou ganho de 1,54% na semana passada. No mês, a alta alcança 2,88% e, no ano, o Ibovespa está positivo em 0,70%.
Para os analistas Stephen Graham e Fernando Siqueira, do Citi Research, os investidores devem manter uma postura defensiva e de exposição abaixo da média, a não ser que encontrem maneiras de se proteger contra os riscos que a bolsa pode oferecer entre o final de 2014 e o começo de 2015. "O quadro no Brasil para ações está cada vez mais binário e volátil", dizem.
Além do novo apetite crescente global por ações de emergentes, as eleições para a Presidência da República também andaram mexendo com o mercado doméstico. Sondagens que apontaram queda da presidente Dilma Rousseff na corrida eleitoral deram impulso a ações de estatais – o discurso da oposição parece talhado para agradar aos mercados financeiros.
Entretanto, até as eleições de outubro, os riscos de queda no mercado acionário proliferam e se intensificam. A sugestão de adoção de uma postura defensiva pela casa também engloba a recente expressiva alta do Ibovespa.
Os analistas do Citi afirmam que os últimos sinais críticos da economia – em especial, o IPCA de março, com alta de 0,92% – dão suporte a ambos os lados da equação. A inflação salgada sugere, dizem, a necessidade de um ajuste fiscal pós-eleições mais forte do que nunca e de taxas de juros mais altas, ao mesmo tempo em que alimenta a desaprovação pública do governo federal. Os economistas do Citi elevaram no dia 9 a projeção para o IPCA para 6,6% este ano. "É a primeira vez que nós esperamos uma inflação anual acima do teto de 6,5%", afirmam.
Ainda sobre eleições, Graham e Siqueira lembram que o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela S&P retirou uma espada que apontava para o governo. Mas essa remoção pode encorajar gastos em ano eleitoral, tanto no Congresso quanto na administração pública.
Já o Credit Suisse está na outra ponta, com recomendação "overweight" para as ações do Brasil dentro do portfólio de América Latina – apesar da alta recente da bolsa local. No grupo, Chile e México estão "underweight". Em nota com atualização das previsões de resultado de empresas na região para 2014, a equipe global de estrategistas do banco diz que, depois da recente recuperação em seu mercado, o Brasil negocia agora com uma relação preço/lucro (P/L) projetado para este ano de 11,5 vezes, enquanto o México negocia a 19,7 vezes.
"A recuperação recente do Brasil tira o país do nível de desconto para um patamar consistente com a média histórica", diz o banco na nota. "Por outro lado, o México continua a negociar bem acima de seu nível histórico de preços, com projeções de ganhos ainda sob pressão." (Aline Cury Zampieri, colaborou Téo Takar – Valor Online)