As fabricantes de celulose Fibria e Eldorado brigam na Justiça e precisam de 12,5 bilhões de reais para projetos de expansão considerados exagerados. A solução pode ser uma fusão entre as empresas?
tatiana bautzer
NÃO FOI FAZENDO AMIGOS que a família Batista SC tomou uma das mais poderosa do pais. Nas últimas duas décadas, eles transformaram um pequeno frigorifico de Goiás, o JBS. na maior processadora de carnes do mundo. Depois, decidiram entrar em outros mercados: abriram um banco, uma fabricante de cosméticos e. finalmente, inauguraram uma colossal fábrica de celulose na cidade de Três Lagoas. em Mato Grosso do Sul. Com esta ultima, compraram uma briga e tanto mesmo para seus padrões – com a família Ermirio de Moraes, dona do grupo Votorantim e, por consequência, controladora da gigante de celulose Fibria, a maior do pais. Nascia, ali. uma disputa que. hoje. alguns dos personagens mais poderosos do capitalismo brasileiro estão tentando resolver. Até agora, sem sucesso. Mas o que hoje é briga pode acabar em namoro.
Atualmente, Fibria e Eldorado estão metidas numa disputa irracional por mercado. Só a capacidade que ambas planejam adicionar a suas unidades de Três Lagoas corresponde a 5 milhões de toneladas, ou 33% do total instalado hoje em fábricas de celulose de todo o país. O que deixa analistas de cabelo em pé é que o mercado mundial de celulose não está crescendo tão rápido assim – ou seja, o investimento das duas empresas pode resultar em preços menores para a celulose e em resultados piores para ambas. No ano passado, a Fibria teve um prejuízo de 698 milhões de reais. A Eldorado perdeu 491 milhões. A irracionalidade dessa disputa é tamanha que parece improvável que as duas em pé um plano para captar outros 7,5 bilhões de reais e dobrar o tamanho de sua linha de produção. Mas desta vez será mais difícil conseguir dinheiro. A PREVI, fundo dos funcionários do BANCO DO BRASIL, não aceitou até agora investir na empreitada e avisou que só colocaria dinheiro no setor se as duas empresas se juntassem (a fundação tem 1,4% das ações da Fibria). Petros (dos empregados da Petrobras) e Funcef (da Caixa), que hoje são donas de 35% da Eldorado, estão próximas de romper seus limites legais de participação numa só empresa. Já a Fibria, que passou os últimos anos vendendo ativos para diminuir sua dívida, teria de encontrar um sócio disposto a capitalizar a empresa para evitar novo aumento do endividamento. O BNDES, que tem 42 bilhões de reais investidos no setor e faz pane do bloco de controle da Fibria, é o candidato que surge mas, segundo executivos do setor, também pode exigir que Fibria e Eldorado voltem a discutir uma fusão para tornar o setor mais racional. "Um cenário adverso de preços da celulose poderia reduzir o retorno do investimento na expansão e penalizar a Fibria", afirma o analista Victor Penna, do BANCO DO BRASIL. Desde que a fabricante de papel e celulose Suzano abandonou, em março do ano passado, o plano de construir uma fábrica no Piaui, suas ações subiram 36%. Já os papéis da Fibria subiram só 1% no período.
O fracasso nas negociações e o anúncio dos dois projetos de expansão fizeram a briga subir de patamar. A Fibria acusa a Eldorado, na Justiça de Mato Grosso, de usar em suas plantações um eucalipto melhorado geneticamente que pertence a ela. A J&F nega, e executivos do grupo dizem, sem se identificar, que a ação tem o objetivo de prejudicar suas exportações. Tanto a J&F quanto a Fibria afirmam que não há negociações em curso para uma associação. Há uma espécie de consenso em torno da falta de sentido econômico dos investimentos das duas empresas. Quanto tempo a irracionalidade vai durar? É a pergunta de 12,5 bilhões de reais.