Crescimento de Bolsonaro reforça demanda por "kit eleição"
Com o crescimento das chances de vitória de uma chapa de direita no Brasil na eleição presidencial, as estatais voltaram a se destacar na bolsa. O chamado "kit eleição", grupo de ativos mais sensível ao noticiário eleitoral e que vinha sofrendo com a cautela do investidor, garantiu o avanço do Ibovespa aos maiores níveis em quase cinco meses. Para especialistas, ações de empresas estatais e de companhias que atuam em setores regulados, como o elétrico, são particularmente sensíveis ao desfecho das eleições, dada a percepção de que o novo governo terá influência direta no futuro dessas empresas. Papéis de companhias mais expostas à dinâmica econômica local, como varejistas, e de liquidez elevada, como bancos, também responderam com bastante intensidade às perspectivas políticas. A maior alta do Ibovespa ontem foi da ação ordinária (ON) da Eletrobras, de 11,45%, enquanto a preferencial classe B (PNB) subiu 9,96%. Entre os bancos, a ON do Banco do Brasil valorizou 8,62%, enquanto Petrobras PN teve alta de 6,95%; Petrobras ON ganhou 6,45%. Só três companhias fecharam ontem em queda no Ibovespa: Ambev (0,98%), Fibria (1,93%) e Suzano (3,75%). Mesmo a Embraer, que também é uma empresa com receitas atreladas ao dólar, reagiu bem ao Ibope: a ação da fabricante de aeronaves subiu 2,18%, confiante de que a chapa de Bolsonaro, que tem um discurso pró-privatização, prossiga com o processo de combinação com a Boeing. Em termos de giro, Petrobras PN teve a maior movimentação, com R$ 2,85 bilhões. Somados, os volumes negociados dos 12 papéis do "kit eleição" representaram quase metade do volume total do Ibovespa, que teve ontem um dos maiores montantes negociados do ano, de R$ 13,97 bilhões. A mudança de humor do mercado após a divulgação do Ibope levou os investidores a fazerem apostas na continuidade de alta de algumas ações negociadas na bolsa – e a Petrobras foi a que melhor capturou essa perspectiva. Os contratos de opção com maior movimento financeiro ontem foram de compra de ações preferenciais da petroleira que, juntos, tiveram um giro 40 vezes superior ao negociado no pregão anterior. Os seis contratos de Petrobras PN tinham giro financeiro de R$ 158,5 milhões, contra R$ 3,9 milhões negociados na véspera. Os contratos são todos opções de compra ("call") da Petrobras com vencimento em outubro. O maior volume financeiro era da opção de compra de Petrobras PN a R$ 21,92. Esse contrato operou em alta de 130% no dia. No segundo maior giro ficou o contrato de compra de Petrobras PN a R$ 22,92, que avançou 152%. A euforia do mercado não é um movimento excessivo, mas sim uma volta das apostas do investidor no Brasil e uma tentativa de antecipar o resultado do segundo turno das eleições, afirma Eric Hatisuka, gestor da Rosenberg Investimentos. Para ele, a pesquisa Ibope animou os investidores a saírem da "fila de espera" e o posicionamento tímido nos ativos deu lugar à leitura de que não dá para ficar para trás em caso de vitória da chapa de Bolsonaro. Ao mesmo tempo, porém, o gestor da Rosenberg nota uma chance de aumento da instabilidade nos próximos dias, já que as próximas pesquisas precisam confirmar os cenários que estão sendo precificados. "Os investidores estão tentando se posicionar para antecipar uma migração do Brasil para a resolução dos problemas, especialmente na frente fiscal. Se houver um abandono dessa retórica, especialmente depois do primeiro turno, então acredito num crescimento da volatilidade", diz o gestor.
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