Aposentado deve R$ 138 bi

 Não bastassem todos os problemas enfrentados pelos trabalhadores com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), as dívidas de aposentados e pensionistas no crédito consignado atingiram, em dezembro de 2019, o maior nível da história: R$ 138,7 bilhões. Segundo o Banco Central (BC), ao longo do ano passado, os débitos assumidos com bancos cresceram R$ 13,5 bilhões, ou seja, mais de R$ 1,1 bilhão por mês. Não por acaso, muitos aposentados e pensionistas não estão conseguindo cumprir todos os compromissos. 

Técnicos do INSS explicam que, além do consignado, aposentados e pensionistas estão devendo no cheque especial e no cartão de crédito. Eles observam que muitas das dívidas são feitas a pedido de familiares. Há casos em que filhos e outros parentes obrigam os idosos a se endividarem, sob o risco de serem abandonados. Em várias regiões do país, aposentados e pensionistas do INSS são arrimos de família. Isso é visível, sobretudo, nas regiões Norte e Nordeste. 

Para tentar evitar abusos, o INSS restringiu o acesso dos bancos a aposentados e pensionistas nos seis primeiros meses de recebimento dos benefícios. Mas, depois desse período, o assédio das instituições financeiras é total. 

A boa notícia, informa o BC, é que os juros dos empréstimos consignados caíram, em 2019, de 27,1% para 25% ao ano, em média. Essas taxas só não são menores do que as cobradas dos servidores públicos, que têm estabilidade no emprego. Mas, para especialistas, mesmo com juros mais baixos, é preciso ter cuidado na hora de fazer dívidas. O descontrole financeiro leva a uma série de problemas, inclusive de saúde. 

A aposentada Yracema Torres, 65, está há três anos pagando um empréstimo consignado que tomou para cobrir o prejuízo do irmão com um comércio. Pagando prestações de R$ 1.320, o orçamento ficou apertado, outras contas acabaram atrasando e ela teve que recorrer a outros tipos de empréstimo. “É horrível. Até fiquei sem poder comprar as coisas necessárias para a casa. Meu nome ficou sujo, e só consegui limpar há pouco tempo”, contou. 

Cartão

 Yracema diz que o pior já passou, pois, em seis meses, quitará o empréstimo. No começo, quando as coisas começaram a piorar, teve que vender a casa em Samambaia para pagar a dívida do cartão de crédito, que chegou a R$ 50 mil. “A fatura era de R$ 5 mil, mas com os atrasos, foram cobrando juros em cima de juros durante cinco anos, e chegou uma hora em que estava nesse valor alto”, destacou a aposentada que, atualmente, mora de aluguel. 

Para complementar a renda, ela vende roupas e acessórios, como ambulante, na Rodoviária do Plano Piloto. “Estou aqui há dois anos e minha vida melhorou um pouco por causa dessa alternativa, pois a aposentadoria não dá para nada”, disse Yracema. O educador financeiro Mauro Calil orienta aposentados e pensionistas a não cair em armadilhas. “A primeira coisa é não emprestar o nome para parentes. Grande parte dessas dívidas é feita por familiares que usam os nomes dos aposentados. É preciso, também, tomar cuidado com ofertas de crédito. Muitos recebem ligações de bancos e acabam fechando contratos sem analisar, e podem entrar numa fria”, alertou. 

Mesmo com a redução dos juros,  é preciso tomar cuidado, avisa o especialista em finanças Jônatas Bueno: “Quando faz um empréstimo consignado, o aposentado compromete uma parcela da renda, que, geralmente, é largamente usada com remédios e alimentação. Assim, ele pode ficar sem esses requisitos essenciais”, disse. 

Há anos, as dívidas tiram o sono da pensionista Maria Mercedes Souza Brito, 56. “Estou muito endividada por conta de compras parceladas. As vezes não tenho como pagar, porque são várias e opto pela mais importante. Tenho outros débitos e preciso quitá-los”, ponderou. “Quase sempre, entro no cheque especial. Neste mês, preciso pagar o IPVA e regularizar algumas documentações do carro que demandam dinheiro”, explicou.

 
06/02/2020
- Correio Braziliense
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