O ministro da Economia, Paulo Guedes, confirmou a debandada na pasta com a saída dos secretários especiais Salim Mattar (Desestatização e Privatização) e Paulo Uebel (Desburocratização, Gestão e Governo Digital), mas negou que isso tenha ocorrido anteriormente, quando alguns secretários tinham deixado a equipe econômica. “Teve debandada. O caso anterior, não era uma debandada”, disse a jornalistas, após reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na porta do ministério.
Guedes admitiu que os dois secretários pediram demissão por estarem insatisfeitos com o andamento de seus projetos nas respectivas pastas. No caso de Salim, a justificativa da saída ocorreu porque não conseguiu entregar os projetos de privatizações e ficou insatisfeito com o ritmo determinado pelo presidente Jair Bolsonaro. “Se eu pudesse, privatizava todas as estatais. Não conseguimos nem duas ou três. O trabalho não está andando, e é natural que ele esteja preocupado”, justificou o ministro. Ele voltou a afirmar que pretendia vender, pelo menos, quatro estatais: Correios, Eletrobras, Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo) e Banco do Brasil S/A.
De acordo com Guedes, Uebel pediu para deixar o governo porque a reforma administrativa foi adiada, e ele disse ao ministro que “preferia sair”.
Com a saída de Uebel e Salim, Guedes tem mais desfalque na equipe, mas disse que ainda não havia sido uma debandada. Mansueto Almeida deixou o Tesouro Nacional, Caio Megale saiu da diretoria de programas da Secretaria Especial da Fazenda e Rubem Novaes anunciou que deixará a presidência do Banco do Brasil no fim do mês. O ministro afirmou que Mansueto deixou o governo porque pediu e ainda ficou um ano a mais do que o combinado. A saída de Novaes ocorreu porque ele não se habituou com a capital federal, de acordo com Guedes. “Novaes saiu porque está cansado e não gostou dos ares de Brasília”, disse Guedes. Por sua vez, Marcos Troyjo deixou a Secretaria Especial de Comércio Exterior — segundo o ministro — para ser o presidente do Banco dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “Ele não deixou o governo”, acrescentou.
Repercussão
Na avaliação do economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, a “debandada” deixa claro que não está sendo possível avançar a agenda econômica de Guedes na velocidade que ele e sua equipe entendem como adequada e deixa o mercado apreensivo. “O cenário, sejamos francos, já estava muito ruim no que concerne à velocidade das reformas e ao equilíbrio fiscal, mas a credibilidade do governo sempre encontrou em Guedes um fiador de peso. Após os acontecimentos de hoje (ontem), nos parece que o ministro e sua equipe vão forçar mais fortemente as reformas, caso contrário, o clima pode se tornar pesado de vez”, alertou.
Para Perfeito, o desconforto no mercado será grande. “As reformas não devem trazer alívio econômico de curto prazo, e isso tem consequências políticas, mas é absolutamente necessário para Guedes e equipe manter acesa a bandeira das reformas, caso contrário, sua presença pode se tornar inoportuna ao presidente”. (RH)