No Brasil, número de mortes por ano passa de 200 mil. Reconhecer os sintomas pode evitar problema
Carla de Oliveira
Todo dia, mais de 70 pessoas procuram algum serviço de saúde de Goiânia sentindo dores no peito. Desse total, 20 apresentam algum tipo de doença cardiovascular, que requer tratamento e acompanhamento médico. Em todo o País, são cerca de 4 milhões de atendimentos de dor torácica por ano, sendo 400 mil pacientes vítimas de enfarte.
O enfarte agudo do miocárdio, uma das doenças coronarianas mais comuns, é também uma das mais letais. De cada três pessoas vítimas de infarto, uma morre antes de chegar ao hospital. Das que conseguem atendimento, uma em cada dez também vai morrer ainda na unidade de saúde e outros 10% das que recebem alta hospitalar perderão a vida no primeiro ano após a ocorrência.
Reconhecer os sintomas e procurar atendimento médico especializado rápido pode fazer a diferença entre a vida e a morte para as vítimas de enfarte. E foi justamente esta agilidade que ajudou a preservar a vida do engenheiro civil aposentado Pascual Navarrete, de 74 anos. No início da semana, ele sentiu uma dor forte no peito quando estava na empresa do filho, onde presta assessoria, e não pensou duas vezes antes de pedir socorro e correr para um serviço hospitalar especializado. “A verdade é que foi um milagre. Quando cheguei, logo fizeram o cateterismo e a angioplastia e descobriram a fonte do problema”, conta aliviado.
A dor sentida no início da semana fez Pascual voltar no tempo e lembrar o primeiro episódio sofrido, em 1986, na Espanha. “Eu não fazia nenhum acompanhamento. Fui surpreendido”, lembra. Na época, Pascual fumava até quatro carteiras de cigarro por dia, o que o colocava num grupo de risco para o enfarte, que não tardou a chegar. O engenheiro faz questão de frisar que poderia não ter sobrevivido, caso não tivesse sido socorrido com rapidez “Quem sentir uma dor no peito deve, imediatamente, largar tudo e procurar socorro. Pode ser a diferença entre viver e morrer”, orienta.
De acordo com o cardiologista Anis Rassi Júnior, diante dos sintomas da doença, muitas pessoas demoram a procurar atendimento. Como sentem náuseas e vômito, é comum tomar antiácidos, o que retarda ainda mais a procura por ajuda e aumenta as chances de sequelas graves, como a insuficiência cardíaca. Conforme assinala, o tratamento hoje é bastante eficaz e menos invasivo para o paciente.
As grandes cirurgias, em boa parte dos casos, podem ser substituídas pelas angioplastias e colocação de stents, que provocam o alargamento das coronárias. O especialista destaca que as principais novidades da área referem-se ao tratamento. “Hoje, pelo cateterismo, é possível resolver a imensa maioria dos problemas”, frisa.
Corpo técnico
Anis Rassi destaca ainda a necessidade de implantação das unidades de dor torácica e a unidade de terapia intensiva (UTI) coronariana nos hospitais. Estes deverão contar com corpo técnico especializado para receber o paciente com dor aguda no peito, um dos principais sintomas da enfermidade. O enfarte do miocárdio e outras doenças coronárias serão discutidos durante o 2º Simpósio de Cardiologia do Hospital Anis Rassi, que começa hoje em Goiânia, com o tema Manuseio da Doença Arterial Coronária no Novo Milênio: Evidência, Eficácia e Ética. O evento será realizado no auditório do Conselho Regional de Medicina (Cremego), a partir das 14 horas. São esperadas cerca de 400 pessoas, entre médicos, estudantes de Medicina e residentes de Cardiologia de várias regiões do País.
Prevenção a tempo pode salvar vidas O cardiologista Anis Rassi Filho, coordenador do 2º Simpósio de Cardiologia do Hospital Anis Rassi, que começa hoje, em Goiânia, diz que a prevenção, detecção da obstrução das artérias o mais cedo possível é fundamental para que não se confirme a previsão – feita pela Royal Society of Medicine – de que, em 2030, os problemas arteriais vão vitimar 12 milhões de pessoas no mundo com mais de 65 anos. O evento médico tem asseguradas as presenças do professor da Divisão de Cardiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, na Universidade de São Paulo (USP), José Antonio Marin-Neto, do diretor do Serviço de Cardiologia Invasiva do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – uma das principais referências da área no Brasil – e Fausto Feres, entre outros convidados e especialistas que se destacam no País. |
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