O cartão de crédito pode levar um consumidor tanto ao céu quanto ao inferno. Tudo depende da maneira como o chamado “dinheiro de plástico” é utilizado. Os especialistas afirmam que as transações eletrônicas são um caminho sem volta e, portanto, o mais importante é aprender a lidar com elas da melhor forma possível.
Levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que a atenção com o cartão deve ser intensificada, já que, entre todas as modalidades de crédito disponíveis para pessoas físicas, esta foi a única que não registrou queda nas taxa de juros cobradas em 2009 em relação ao ano anterior.
O juro anual médio do cartão de crédito passou de 233,56%, em dezembro de 2008, para 237,93% no mesmo período do ano passado. Com esse aumento, o cartão de crédito passou a ser a modalidade mais cara disponível no mercado, superando até o empréstimo pessoal de financeiras, que costumava ter as taxas mais elevadas. Com esse juro, um dívida no cartão pode até dobrar em sete meses, calculam especialistas.
“O cartão de crédito é util e interessante se o consumidor sempre liquidar o valor total da fatura. Para isso, é preciso que os gastos sejam planejados”, afirma o professor de Economia Eduardo Rodrigues da Silva, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás).
Se houver descontrole, os transtornos podem ser grandes. Com a taxa de juros de 10,68% ao mês, identificada no levantamento de dezembro da Anefac, se não houver pagamento, o professor explica que, em sete meses, o valor da dívida dobra. “Optar pelo pagamento mínimo também é um problema”, destaca.
Para Eduardo, vale ressaltar que a falta de concorrência no setor é o principal motivo para que os juros dos cartões não tenham caído no ano passado. “Existem apenas duas grandes empresas que dominam o mercado de cartões de crédito. Praticamente não há concorrência, o que favorece a manutenção dos juros altos”, explica.
O vice-presidente da Anefac, Miguel de Oliveira, também acredita que os juros do cartão não acompanharam a queda das demais linhas de crédito pela falta de competição entre as operadoras. “É por isso que o governo estuda formas de abrir o mercado.”
O fato é que, nos últimos anos, a popularização do dinheiro de plástico fez com que o crédito chegasse a consumidores menos informados ou pouco organizados com suas finanças. “Muita gente ainda usa o cartão de crédito sem saber exatamente como essa ferramenta funciona”, lembra o professor Eduardo Rodrigues.
Descontrole leva usuário à inadimplência
Segundo o Banco Central (BC), o total de dívidas no cartão de crédito cresceu quase 20% em 2009 e chegou ao valor inédito de R$ 26,3 bilhões em dezembro do ano passado, o dobro do visto há três anos.
A dificuldade das pessoas de administrar esse tipo de instrumento também faz crescer a inadimplência. O cartão está entre as modalidades de crédito que apresentam as maiores taxas nesse indicador.
Segundo o BC, em dezembro de 2009, 27% das operações estavam com atraso superior a 90 dias – prazo mínimo para caracterizar inadimplência. A média de atraso nas outras linhas de crédito para pessoa física está em 8%.
Reclamações
A gerente de Atendimento ao Consumidor do Procon-Goiás, Sara Saegh Ximenes, lembra que as reclamações relativas a cartão de crédito estão sempre entre as cinco primeiras nas estatísticas do órgão. No ano passado, esse segmento ficou em segundo lugar no ranking, atrás apenas do setor de telefonia fixa. Foram registrados 12.738 atendimentos no órgão relacionados a cartão de crédito, o equivalente a 13,91% do total.
“O cartão é ótimo para quem paga em dia e sempre o valor total. Caso isso não ocorra, a dívida passa a ser uma bola de neve quase irreversível”, diz.
Para quem já perdeu o controle da situação e viu a fatura atingir cifras impagáveis, a orientação é que a dívida do cartão de crédito seja substituída por outra, com taxas mais baixas.
“Vale a pena tentar fazer um empréstimo consignado ou buscar crédito pessoal no banco para quitar o cartão, já que essas modalidades cobram juros menores”, explica o professor da PUC-Goiás, Eduardo Rodrigues. Caso a pessoa tenha aplicações, também é recomendável utilizar esse dinheiro para ficar livre da dívida no cartão."