Lucianne Carneiro ([email protected])
RIO – Seis meses depois do anúncio da primeira medida para restringir os empréstimos e esfriar a economia, os consumidores já pagam mais caro em praticamente todas principais linhas de empréstimos ao consumidor. Levantamento feito no sistema Qualicred, organizado pela Fecomércio-RJ com base nos dados do Banco Central (BC), mostra que as taxas médias cobradas nas linhas de cheque especial, crédito pessoal, aquisição de veículos e de bens subiram entre dezembro e junho. Alguns analistas apontam que o aumento no período foi maior do que a elevação dos juros básicos da economia, a Taxa Selic, que também vem subindo para encarecer os empréstimos e impedir o avanço da inflação. E há quem acredite que o movimento já reflete a expectativa das instituições financeiras de um aumento da taxa de inadimplência dos consumidores.
De janeiro até agora, a Selic subiu de 10,75% ao ano para 12,25%. Por isso, Alexandre Canalini, professor de Finanças da PUC-Rio e planejador financeiro, alerta: o consumidor deve avaliar com ainda mais cuidado a necessidade de recorrer aos empréstimos.
– O aumento dos juros é a preparação dos bancos para um aumento de inadimplência que vem por aí. Com a economia esfriando, as pessoas ficam mais frágeis financeiramente e a inadimplência está subindo – diz o professor de Finanças da USP e da Fundação Instituto de Administração (FIA) Roy Martelanc.
Os juros do cheque especial e do financiamento de veículos subiram nos seis bancos pesquisados (Bradesco, Banco do Brasil, Santander, Caixa Econômica Federal, HSBC e Itaú Unibanco) entre 3 de dezembro – quando o BC elevou o depósito compulsório sobre várias operações de bancos, para reduzir o volume de dinheiro disponível – e 8 de junho. No crédito pessoal, apenas um dos seis bancos não elevou suas taxas, enquanto nos empréstimos para aquisição de bens o aumento ocorreu em quatro de cinco bancos.
O aumento das taxas pode parecer pequeno à primeira vista, mas representa um gasto significativo, dependendo do valor do empréstimo. No crédito pessoal, a taxa média dos seis bancos subiu de 3,43% para 3,78% ao mês. Em um financiamento de R$ 50 mil, em 48 parcelas, a diferença no fim do período chega a R$ 6.379,65, segundo cálculo da Fecomércio-RJ.
– Nenhuma das medidas sozinha foi tão forte ou extravagante, mas, juntas, tiveram um efeito significativo e o consumidor já está sentindo o aumento. Além disso, as condições de crédito estão mais restritivas – afirma o economista da Fecomércio-RJ Christian Travassos.
Segundo o professor Canalini, a expansão das taxas pelas instituições financeiras não pode ser explicada apenas pela estratégia do governo:
– A elevação dos juros para pessoas físicas foi muito superior à da Selic.