Por opção ou necessidade financeira, muitos aposentados seguem trabalhando em uma segunda carreira. Planejar, perceber gostos pessoais, ponderar tempo e saúde são alguns pontos que devem ser observados para fazer desse período um momento com qualidade de vida.
Motivos e gostos
Ana Maria Reis, coordenadora de MBAs do FGV Management, mestre em educação e psicologia, afirma que os motivos pela busca de uma segunda carreira são variados. "São vários aspectos envolvidos: perda de padrão de vida em função de uma remuneração que cai significativamente, aumento da expectativa de vida, necessidade de continuar a desenvolver novas competências através da aquisição de novos conhecimentos, a busca constante pelo aprender, a capacidade de mudança e adaptação do ser humano crítico, que lê e interpreta os cenários no mundo, a fuga da depressão e da baixa estima e a necessidade de garantir certo status social", comenta Ana Maria. Mas a profissional alerta que é preciso que o aposentado se observe para conhecer bem seus desejos, gostos, necessidade, despesas e, assim, poder elaborar um novo projeto de vida casando necessidade de realizações e possibilidades. Quebrando paradigmas A coordenadora de pós-graduação do Ibmec, Janaína Ferreira Alves, afirma que os profissionais que estão aposentados recentemente ou na iminência de se aposentar são da geração baby boomers – conhecidos como os filhos da Segunda Grande Guerra – e que têm como padrão de comportamento a crença de que sua missão é trabalhar, e por isso são extremamente disciplinados e leais à empresa. "Quebrar esses paradigmas é difícil para eles. Do ponto de vista financeiro, muitos nem precisariam seguir trabalhando depois de aposentados, mas sentem essa necessidade. O que considero importante é que o aposentado se pergunte o que ele deseja e valorize a qualidade de vida", afirma Janaína. Janaína comenta que é muito comum nas famílias ter um aposentado como o responsável pela renda. Segundo ela, é cultural a aceitação da figura patriarca ou matriarca, mas a coordenadora diz que cada um precisa saber seu limite e dar limite ao outro, com gentileza, e, ainda, que o aposentado tem o direito de escolher se quer ou não investir em uma segunda carreira. "O aposentado deve apostar no que ele quer, seja seguir trabalhando, investindo em estudos, viagens ou lazer. O que não pode é o aposentado assumir nessa nova etapa uma segunda carreira somente pelos outros", alerta. Valorização e balanço constante Ana Maria enxerga mudanças positivas, mesmo acreditando que a experiência e conhecimento dos profissionais aposentados ainda não são tão valorizados como deveriam. "Infelizmente, no geral, ainda não temos essa consideração, mas é claro que a cultura está mudando e algumas grandes empresas já atentaram para o potencial desse grupo. A valorização da experiência depende muito do carisma de cada um. O aposentado tem que ser visto como alguém que ainda agregue valor aos processos, coisas que advém de sua constante capacidade de mudar e reinterpretar suas formas de ver e de se relacionar", afirma. Nesse sentido, a mestre em educação e psicologia chama atenção para a importância de o profissional fazer um balanço das suas competências ao longo da vida. "Considero fundamental que essa avaliação seja sempre refeita. Quanto mais o indivíduo se reconhece, mais ele aprende, maior fica sua consciência de tudo que lhe falta aprender e de suas necessidades emocionais e financeiras. Existe um momento no qual se busca não mais simplesmente o saber, mas a sabedoria", diz Ana Maria. Qualidade de vida Conhecer a si mesmo, respeitar os limites – físicos e emocionais -, cuidar da saúde e ter uma vida participativa são alguns dos ingredientes que Ana Maria diz serem fundamentais para que o aposentado tenha qualidade de vida.
|