Por Murilo Rodrigues Alves | De Brasília
O quartel general conjunto das operações de tecnologia da informação (TI) do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal começa a atuar nos próximos dias. Com 25 mil m² e 100 km de fibras óticas, o centro tem oito geradores, capazes de produzir energia para abastecer uma cidade de 60 mil habitantes. A expectativa é que ele dê suporte para a expansão dos negócios nos próximos 15 anos.
O investimento envolve pagamentos recíprocos entre os dois bancos e a GBT, empresa criada pelo consórcio que venceu o edital para construir o centro, por meio de parceria público-privada. O consórcio é formado por BVA Empreendimentos, GCE e Termoeste. A GBT financiou as obras, que custaram R$ 320 milhões. O BB pagará 80% desse montante e a Caixa, 20%. O BB estima economizar 12,5% dos custos de infraestrutura com o compartilhamento.
Próximo à Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República, começará a entrar em operação nos próximos dias um "bunker". O lugar de 25 mil metros quadrados que lembra um quartel general servirá como o mais novo centro de tecnologia de dois grandes bancos públicos brasileiros. Após oito anos, tudo está pronto para que Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal inaugurem, nesta semana, a infraestrutura na qual rodarão suas operações de tecnologia da informação (TI). A expectativa dos executivos dos dois bancos é que o centro dê suporte para a expansão dos negócios para os próximos 15 anos.
O prédio é monitorado ininterruptamente por centenas de câmeras. O controle de tudo o que entra e sai requer, inclusive, que as pessoas sejam até pesadas. As paredes suportam, por quatro horas, o calor do fogo sem nenhum efeito para o ambiente interno. Oito grupos de geradores têm capacidade de gerar energia para uma cidade de 60 mil habitantes.
O investimento em todo o projeto é complexo, pois envolve pagamentos recíprocos entre os dois bancos e a GBT, empresa criada pelo consórcio que venceu o edital para construir o centro de dados, por meio de uma parceria público-privada. O consórcio é formado por BVA Empreendimentos, GCE e Termoeste.
A GBT financiou as obras do centro de dados, que custaram R$ 320 milhões, e assumiu a responsabilidade pelas obras civis, instalação dos equipamentos no prédio, além de operações de manutenção e suporte (estimadas em R$ 800 milhões para os próximos 15 anos).
O Banco do Brasil e a Caixa compraram o terreno, cujas negociações começaram em 2005. Como a GBT construiu no terreno, tem de pagar um aluguel mensal de R$ 200 mil aos bancos pelo uso do imóvel.
A GBT é responsável pelo gerenciamento do centro de dados, que segue o modelo de "co-location" – termo que se refere a espaços que abrigam, simultaneamente, computadores e redes de telecomunicações. Pelo uso dos equipamentos, os dois bancos também pagarão mensalmente à GBT um valor crescente que poderá atingir R$ 1 bilhão ao longo dos próximos 15 anos.
Cada banco assume o valor referente à sua participação societária no centro de dados, com 5,2 mil metros quadrados de piso elevado. O Banco do Brasil pagará 80% do montante de R$ 320 milhões e a Caixa, 20%. O contrato prevê que 80% do valor total gasto com as obras deverá ser quitado em 12 meses. O vice-presidente de tecnologia do Banco do Brasil, Geraldo Dezena, estima que o banco economizou 12,5% com o modelo de compartilhamento do custo da infraestrutura.
O novo centro conta com 100 quilômetros de fibras ópticas e segue o padrão Tier 4 – classificação que inclui exigências de segurança, refrigeração do ambiente e geração de energia. O ambiente é projetado para hospedar sistemas computacionais de missão crítica. Nesse caso, todas as ações do processamento de dados são duplicadas.
Trata-se do modelo mais adequado para cumprir o que exigem o Comitê de Basileia e o Banco Central para a mitigação de riscos operacionais, disse o vice-presidente de tecnologia da Caixa, Joaquim de Oliveira.
O Banco do Brasil já tem um centro de dados com a classificação Tier 4 em Brasília, na Asa Norte. Agora tudo será replicado no novo centro, localizado na Cidade Digital, 5 quilômetros distante. O banco também tem um terceiro centro de dados, no Rio. A Caixa pretende transferir até o fim do ano todos equipamentos dos centros de dados de Brasília, do Rio e de São Paulo para o novo "bunker". Oliveira estima que a utilização desse novo centro de dados proporcionará ao banco economia de R$ 5 milhões por ano com a redução de custos de energia e infraestrutura. Além disso, a Caixa está construindo outro centro de dados em Brasília, com custo estimado em R$ 119 milhões, disse Oliveira.
Segundo os executivos, seria impossível imaginar o processo de "bancarização" – nível de acesso a serviços financeiros pela população – que o país viveu nos últimos anos sem o aumento dos investimentos em TI. Dezena, do Banco do Brasil, disse que 95% das transações bancárias são feitas de forma automatizada. "Não adianta o banco fazer uma agência bonita, a última coisa que o cliente quer fazer é ir ao banco", afirmou o vice-presidente da Caixa.
Além atrair mais clientes, os bancos precisaram também aprender a trabalhar em outro cenário, com a taxa básica de juros mais baixa e o aumento da inadimplência. "Nessa era de transformação, temos de atacar as ineficiências para reduzir os custos", disse o executivo da Caixa, referindo-se ao centro de dados.
A inauguração do novo centro de dados do Banco do Brasil e da Caixa pode dar impulso ao projeto Cidade Digital, que o governo do Distrito Federal tenta, há 12 anos, implantar na capital do país. O centro de dados das duas instituições financeiras públicas ainda é o único prédio construído numa área total de 123 hectares de terreno do Parque Tecnológico Capital Digital.
O projeto também será viabilizado com uma parceria público-privada. O edital foi publicado na quinta-feira da semana passada. A Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) vai oferecer o terreno, estimado em R$ 1,164 bilhão. O consórcio vencedor terá participação de 52,9% nos negócios e ficará responsável pela construção e urbanização da área, que foi orçada em R$ 243 milhões, além do gerenciamento.
"O novo centro de dados dos bancos públicos é um selo fundamental para potencializar o projeto", disse o diretor da Terracap, José Humberto de Paula. Segundo ele, o governo do Distrito Federal investiu R$ 60 milhões na infraestrutura básica – fornecimento de água, coleta de esgoto e pavimentação de ruas – para a construção do novo "bunker" do BB e da Caixa. A metade desse valor foi gasta com projetos de energia para que os apagões temporários, que são comuns em Brasília, não aconteçam no local.
Os consórcios têm até o dia 14 de maio para se cadastrar para concorrer à concessão de prestação de serviços de 20 anos, prorrogáveis por mais 15.
O governo do Distrito Federal espera que o pleno funcionamento da Cidade Digital dobre o volume de negócios do segmento (fechou 2012 em R$ 6 bilhões) e a participação de TI no PIB da capital brasileira, atualmente em 3,5%. Existem 700 empresas que trabalham nessa área em Brasília e juntas empregam 30 mil funcionários, disse o diretor da Terracap.
A expectativa é que essas empresas ocupem de 40 mil a 50 mil metros quadrados do parque tecnológico. Além delas, segundo o governo, há empresas internacionais interessadas em se instalar na Cidade Digital. (MRA)
Em 2000, o Banco do Brasil começou a oferecer transações por meio de dispositivos móveis, com o uso de mensagens de texto (SMS). Hoje, com exceção das transações físicas, como saques e depósitos, todas as outras fazem parte do cardápio do "mobile banking", como é conhecido o sistema para dispositivos móveis. No ano passado, foram 900 mil operações de crédito por internet e celular, totalizando R$ 3,8 bilhões.
Uma das últimas novidades na área foi o desenvolvimento de uma tecnologia que permite uso de geolocalização e realidade aumentada em transações bancárias com smartphone. Na prática, o BB poderá firmar parcerias com estabelecimentos comerciais para que os seus clientes sejam alertados sobre ofertas e descontos em determinados estabelecimentos.
A tecnologia desenvolvida pelo banco também consegue identificar a necessidade dos clientes por crédito, quando, por exemplo, as compras são barradas porque ultrapassaram o limite do cartão.
Do lado da segurança, o BB Code – software baseado na tecnologia QR Code (código de barras dimensional) e criptografia – atingiu 115 mil adesões. Para este trimestre, o BB pretende lançar a calculadora de Imposto de Renda no "home broker" (plataforma de negociações de ativos em bolsa).
Os novos serviços mostram que os bancos já percorreram um longo caminho em inovações. Por outro lado, também indicam a importância dessa área para o futuro da intermediação financeira.
Na sexta-feira, ao visitar o novo centro de dados construído em parceria pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, o ex-gerente executivo de engenharia do BB, Severiano Bandeira, disse que foi designado pelo banco para montar uma "grande" estrutura de equipamentos de tecnologia na agência central em Recife, em 1968. Anos mais tarde, disse Bandeira, a mesma capacidade de processamento de dados estava disponível em uma calculadora. Isso mostra que a rapidez das inovações pode ultrapassar a velocidade de processamento do Banco do Brasil, hoje de 280 bilhões de instruções por segundo. (MRA)